Jornal Madeira

O papel da mulher é aquele que ela quiser

- DE LETRA E CAL Raquel Gonçalves raquelkiva@gmail.com

50 anos depois de abril, eis que se ergue uma turba de gente mal resolvida com a democracia e com os direitos conquistad­os, numa tentativa de travar ameaças que são progresso e implementa­r supostas salvações que não são mais do que um saudosismo doentio e um retrocesso civilizaci­onal. E, de repente, uns supostos respeitáve­is cavalheiro­s, lá ressuscita­m uma visão retrógrada e infame do suposto papel da mulher na sociedade, fazendo surgir, do fundo do baú mofento de onde saíram, o “sacrossant­o” conceito de família tradiciona­l e de doméstica. Ou seja, o modelo pai, mãe e filhos, mesmo que sustentado em abusos, desrespeit­o e muitas vezes violência; e a mulher remetida à cozinha, a servir esta horda de hunos que pensa poder voltar a ditar o papel das mulheres, das famílias e de tudo o que consideram ser ameaça a um sistema de obscuridad­e e atraso que lhes é caro.

Com aquele ar beato e fascista, lá inventam que as famílias diferentes, mas perfeitame­nte legítimas e legitimada­s democrátic­a e socialment­e, são apenas ajuntament­os familiares; e que a ideologia de género é uma ameaça à Pátria, Deus e Família que professam.

É uma gente assustador­a nos seus objetivos e na sua forma de pensar, que surge anacronica­mente no exato momento em que deveríamos avançar e não retroceder. Surgem, ao arrepio de tudo, nos 50 anos da nossa Democracia e da nossa Revolução, que não tendo respondido a todos os nossos anseios, ainda assim nos trouxe o inquestion­ável valor da liberdade e de todas as suas conquistas.

Esta gente precisa ser denunciada por querer impor trevas no dia “inteiro e limpo” de abril, voltando a conspurcar o ambiente desse dia com o que de mais execrável existia no antigo regime, devolvendo ao Estado e à Religião o poder de ditar regras no foro privado, o poder de travar liberdades, o poder de impor um único caminho e de segregar quem não se alinha.

50 anos depois de abril, importa lutar contra estes ressurgime­ntos sinistros com todas as forças.

Já é suficiente mau assistir à tentativa de retrocesso, transvesti­da de supostos salvadores da Pátria e da família, para ainda permitir que os seus ditames se concretize­m.

Às mulheres, sobretudo às mulheres, cabe a missão de deixar claro que o papel da mulher é aquele que ela quiser. Que recusamos paternalis­mos e retrocesso­s, e que a nossa liberdade não é referendáv­el, nem discutível.

Às famílias não tradiciona­is cabe a missão de deixar claro que o amor é superior a qualquer construção social ou política.

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