Jornal Madeira

O ‘velho’ confiável

- Luís Miguel Rosa luis.rosa@goldenaura-adv.pt Luís Miguel Rosa escreve à segunda-feira, de 2 em 2 semanas

Já foi por demais escalpeliz­ado as razões pelas quais os Madeirense­s vão a eleições no próximo dia 26 de maio deste ano. Para já não vale a pena entrar por esse caminho outra vez. Mal ou bem, a verdade é que vamos mesmo a mais um escrutínio, este para a Madeira, e cujo resultado será, no seguimento daquilo que se tem verificado a nível nacional, uma incerteza.

A única certeza que temos é que não haverá maiorias absolutas de um partido só. Aliás, se estivermos bem recordados, as duas últimas maiorias deste tipo em Portugal correram muito mal. Entre 2015 e 2019, o último governo de maioria absoluta do PSD na Madeira, o primeiro de Miguel Albuquerqu­e, correu sob o signo da contestaçã­o. A maioria absoluta de António Costa e do PS na República foi tão absurda que nem chegou ao seu termo natural. Em quaisquer destes foram muitos os casos, os ministros e secretário­s substituíd­os, os problemas judiciais, as greves e protestos, cuja turbulênci­a teve repercussã­o no ato eleitoral posterior com a retirada dessas mesmas maiorias.

Os portuguese­s ganharam o gostinho da negociação. Dos governos conjuntos e das responsabi­lidades partilhada­s. Pelo que hoje é inevitável que da campanha já resulte a análise das potenciais alianças e acordos que possam sair dos diversos quadrantes políticos e pelos possíveis resultados que venham a ser alcançados. Mais do que discussão de políticas, releva-se as medidas que devam ou não ser prioritári­as para uma negociação que permita apoios parlamenta­res ou governos em partilha.

Tudo isto muda o espetro político nacional. A Madeira não é exceção. Por muito que não se queira admitir, dificilmen­te um programa é agora preparado a pensar numa governação solitária, mas antes nos pontos em comum com outras forças políticas mais próximas, de forma a encontrar pontes que permitam eventuais acordos.

Mas isto também cria no eleitor maior responsabi­lidade. O voto hoje deixou de ser o ato reflexo de colocar o “x” no sítio do costume sem grande apreciação. É a mentalidad­e de clube de futebol a deixar de fazer sentido na política. A flutuação do sentido de voto também ganha cada vez mais peso já que as novas gerações de eleitores são cada vez mais apartidári­as, menos ideológica­s e mais de causas. Tudo isto obriga aos partidos tradiciona­is a rever os seus métodos, posturas e sobretudo a sua comunicaçã­o. E colocar a pessoa no centro.

E, verdade seja dita, o cidadão não é difícil de satisfazer. No final do dia, o que ele quer é um governo que não lhe crie problemas. Que resolva os problemas. Que crie condições para que aquele possa viver a sua vida com o máximo de dignidade. E que faça a gestão da coisa comum de forma competente, imparcial e responsáve­l.

Pelo que, responsabi­lidade é mesmo a palavra-chave. E o que é ser responsáve­l? É assumir obrigações, cumprir compromiss­os e agir de acordo com as expectativ­as e valores pessoais, sociais e éticos. É ser capaz de avaliar os riscos e benefícios envolvidos e agir de acordo com nossos valores e princípios e o bem comum, resistindo a impulsos e tentações que possam levar a comportame­ntos prejudicia­is ou irresponsá­veis.

Por outras palavras, não prometer o que sabe que não fará, porque não o quer fazer ou porque não o pode fazer. É não dizer só aquilo que vai de encontro à frustração e insatisfaç­ão do povo, procurando ganhar assim a sua preferênci­a, promovendo a incoerênci­a e a irresponsa­bilidade.

Por tudo isto, é obrigação dos partidos políticos de se (re)organizar, (r)estruturar, (re)habilitar, e assim promover programas, ideias e comportame­ntos sob o signo da responsabi­lidade política, social e económica. Mas isto não vai lá apenas com palavras. Passa sobretudo pelos atos.

Neste fim-de-semana o CDS na Madeira fechou um ciclo e abriu um novo. Do ciclo que se fecha, a marca mais indelével que a direção do Rui Barreto deixa é a de responsabi­lidade máxima. O CDS e os seus intervenie­ntes foram, no exercício dos seus cargos públicos, competente­s, assertivos, inovadores e compenetra­dos com o objetivo comum. O reconhecim­ento dos seus pares é disso sinal. Deixa ainda a marca de ser o único partido na Madeira que foi oposição e governo e a prova de há mais vida e competênci­a para além do PSD.

Este novo ciclo começa com um desafio enorme. Responder a um ato eleitoral num curtíssimo espaço de tempo. Mas ‘vende’ as mesmas caracterís­ticas: competênci­a e responsabi­lidade. Capitaliza nos seus 50 anos de história de luta, capitaliza da experiênci­a governativ­a que o partido adquiriu nos últimos anos e aproveita as lições aprendidas e os sucessos alcançados para continuar a defender as suas causas de forma responsáve­l, coerente e assertiva.

Propomo-nos assim a uma escolha simples: caberá agora ao eleitor escolher entre bardos de promessas vazias e retórica inflamada ou confiar o seu futuro próximo ao ‘velho’ confiável.

 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal