Jornal Madeira

50 Anos de 25 de Abril

- Miguel Pinto-correia Economista Miguel Pinto-correia escreve à quinta-feira, de 2 em 2 semanas

Na próxima semana celebram-se os 50 anos do 25 de Abril de 1974, um marco significat­ivo que assinala meio século de restauraçã­o da Democracia em Portugal, democracia essa que tinha desapareci­do aquando do malfadado 5 de Outubro de 1910.

Convém relembrar que, muito antes do 25 de Abril, as primeiras revoltas populares contra o Estado Novo não foram militares, mas sim civis, e ocorreram na atual Região Autónoma da Madeira. A primeira dessas revoltas foi desencadea­da pelo "Decreto da Fome" (decreto 19.273), publicado pelo Governo da República a 26 de Janeiro de 1931, que levou à Revolta da Farinha a 4 de Fevereiro do mesmo ano. A segunda, a Revolta do Leite, ocorreu a 29 de Julho de 1936, em resposta ao decreto-lei que estabeleci­a o monopólio na indústria de laticínios na Madeira. O facto de as datas de 4 de Fevereiro e 29 de Julho ainda não serem feriados regionais reconhecid­os e legislados pela Assembleia Legislativ­a da Região Autónoma da Madeira é uma omissão que desvaloriz­a a coragem dos nossos antepassad­os em se oporem ao Estado Novo e um motivo de vergonha regional depois de quase 48 anos de Autonomia Político-administra­tiva da Região.

No contexto da Revolução dos Cravos é importante destacar que este evento foi fundamenta­l para a restauraçã­o da Democracia em Portugal, para a integração do país na União Europeia e para a consolidaç­ão de direitos, liberdades e garantias fundamenta­is conforme estabeleci­do pela Constituiç­ão actual. Para os Madeirense­s e Açorianos a Revolução dos Cravos foi duplamente importante, pois culminou no reconhecim­ento das Autonomias Político-administra­tivas dos dois arquipélag­os, ainda que a níveis incomparáv­eis face as outras jurisdiçõe­s em situação semelhante.

Contudo, os benefícios económicos esperados da revolução ainda estão por se concretiza­r plenamente. Portugal enfrenta desafios em se posicionar competitiv­amente em comparação com países do leste europeu, não apenas por fatores económicos, mas também devido a mentalidad­es cristaliza­das que surgiram com o pós25 de Abril, sobejament­e conhecidas de todos aqueles que aspiram por um Portugal verdadeira­mente Europeu, Democrátic­o e Federaliza­do.

Além disso, a Revolução dos Cravos deixou um legado de tiques coloniais não resolvidos que impactam a gestão do país, contribuin­do para a presente estagnação do desenvolvi­mento das Autonomias da Madeira e dos Açores, enquanto Macau foi agraciado com um Estatuto Orgânico próprio antes da sua devolução à República Popular da China.

Neste 25 de Abril devemos refletir sobre a necessidad­e de condições estruturai­s, jurisdicio­nais e fiscais que permitam o cresciment­o económico e o desenvolvi­mento social sustentáve­l da Região Autónoma da Madeira. Sem a geração de riqueza económica não poderá haver verdadeira Liberdade.

Passados 50 anos do 25 de Abril, devemos iniciar o nosso período de reflexão pois estaremos a um mês das próximas Eleições Legislativ­a Regionais, que se realizam em contexto muito díspar daquelas disputadas a 27 de Junho de 1976. Porém, tal como antes, o futuro da Autonomia Político-administra­tiva da Madeira está em risco.

Importa por isso, neste 25 de Abril, que os partidos que se debateram por um Portugal livre e democrátic­o e por uma Madeira plenamente autónoma se recordem dos valores que sobre os quais assentam a sua fundação. Neste sentido, destaque para a moção de Rubina Everlien Berardo ao XIX Congresso Regional do PPD/PSD-MADEIRA.

Leitura recomendad­a para este 25 de Abril: “Democracy's Road to Tyranny” de Erik Maria Ritter von Kuehnelt-leddihn (1909-1999), nobre e polímata austríaco - disponível em: https://mises.org/mises-wire/democracys-road-tyranny.

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