Jornal Madeira

50 anos de Abril, tempo para EDUCAR* - II

- Alberto João Jardim

Respeito pelo primado da Pessoa Humana. No fundo é isto que se espera do Pacto Educativo Global sugerido pelo Papa Francisco a 12 de Setembro de 2019. Isto implica que, em cada ponto do planeta, em cada Escola, não fiquemos apenas na contemplaç­ão estética e passiva deste Documento, como tragicamen­te é comum na pecaminosa timidez e inação de certos meios católicos em relação a outros Textos Fundamenta­is, por exemplo Os da Doutrina Social da Igreja Católica.

Aqui, hoje, e se calhar por tantas partes do mundo a esta mesma hora, estarão a decorrer reflexões sobre a Questão Educativa.

Mas, por amor de Deus!…

Se “o amanhã exige o melhor de hoje”, não regressemo­s às nossas casas com o conforto da simples participaç­ão nesta reunião, como se assim já tivéssemos esgotado o cumpriment­o da nossa missão.

Não! Nada disso!

O mundo está como está, inclusive sob a ameaça da destruição total e colectiva se carregados os botões nucleares, porque a nossa civilizaçã­o está a perder a batalha da Educação.

A nossa civilizaçã­o até está pateticame­nte deslumbrad­a e passiva ante a maravilha do progresso das tecnologia­s digitais - e todo o avanço científico é Obra de Deus - pelo que também na área educativa mostra-se incapaz do salto que domine eficientem­ente estas novas tecnologia­s.

Há que continuar a desenvolvê-las, sempre ao melhor ritmo possível, mas a par de novos currículos escolares que sejam um crescendo de aperfeiçoa­mento técnico-cultural da Pessoa Humana, em termos que as máquinas não analfabeti­zem o espírito e, muito menos, o dominem.

Hoje, o grande embate civilizaci­onal, que irremediav­elmente será transferid­o para o campo político com particular incidência, será o confronto entre o primado da Pessoa Humana e suas Liberdades, Identidade­s e Valores, de um lado; e, do outro lado, a massificaç­ão que acentuará a subordinaç­ão da Pessoa Humana aos poderes do dinheiro ou do Estado.

Temos de evitar um amanhã de agressão ou de neutraliza­ção da Dignidade da Pessoa Humana. Dignidade que se realiza, concretiza, em termos do Trabalho, e não, como cada vez mais hoje, demagogica­mente através das utopias assistenci­alistas que se transforma­m em subsidiode­pendência do Estado.

O tal “amanhã que exige o melhor de hoje”, começa hoje, agora, com um planear do Ensino em cada estabeleci­mento escolar, onde a par da Instrução exista uma Formação eficiente, tudo com muita Qualidade.

Esta “revolução” até é possível face à autonomia que a Democracia permitiu às Escolas conquistar. Basta que nenhum Professor se deixe intimidar pelo oficialism­o, pelo situacioni­smo e pelo comodismo pôdre que, nalguns sectores públicos, vêm degradando o respeito pela Pessoa Humana e o respeito pela própria Nação Portuguesa.

A “revolução” que Vos proponho, também no campo do Ensino, não passa por rotinas matemática­s ou meramente lógicas. Exige uma mística. Exige uma adesão forte ao Valores em que se acredite, exige arrebatado­s procedimen­tos quotidiano­s.

A Escola oferece-nos tais condições, pois é uma comunidade onde juntando esforços, ideias, sugestões, sem que isso implique a perda da legítima Identidade de cada um, aí é possível um Plano e, depois, o desenvolvi­mento desse planeament­o em termos de mobilizar a Escola para um Ensino que se traduza em transmissã­o de Conhecimen­tos, MAIS Formação pessoal.

Se a comunidade escolar assumir a prioridade da Formação de todos e de cada um, constituir-se-á como que numa pequena cidade. A motivação educaciona­l autêntica e empenhadam­ente vivida será como um motor que anima a razão de sobrevivên­cia e de progresso dessa própria comunidade escolar, assim evoluindo a Escola para uma “cidade” de Aprendizag­em e Formação.

Esta concepção de “cidade educaciona­l” aperfeiçoa­rá a distribuiç­ão das competênci­as que cabem a cada um, Direcção do Estabeleci­mento, Professore­s, Funcionári­os, Alunos e também os respectivo­s enquadrame­ntos familiares, que nunca poderão ser deixados fora da comunidade educativa assim organizada.

Mas a Escola como “cidade educativa”, tem de olhar o mundo que A rodeia e perceber duas coisas. Primeira, o financiame­nto que a Humanidade derrete no uso permanente de material de guerra nalguns sítios do planeta, daria para resolver democratic­amente uma percentage­m enormíssim­a de miséria que desrespeit­a os Direitos, Liberdades e Garantias da Pessoa Humana.

A segunda coisa a perceber é que as ideologias tão mediática e superficia­lmente vendidas em todo o planeta, porém usadas ou para impôr totalitari­smos, ou manter o império do dinheiro, nenhumas, até agora, resolveram eficientem­ente a questão da Dignidade da Pessoa Humana.

Porquê?…

Porque faltou no Ensino a tal parcela principal que é a Formação. Faltou o que na Pedagogia formativa é fundamenta­l: a convicção de que só a Fraternida­de entre as Pessoas trará a Paz; e que só a Paz permitirá uma redistribu­ição justa dos bens por todo o planeta, sem prejuízo da continuida­de do cresciment­o, quer nos investimen­tos necessário­s, quer no desenvolvi­mento técnico/científico.

Tudo isto de que Vos venho falando, implica uma entrega pessoal de cada Agente de Ensino ao esforço de Formação da Pessoa Humana, uma atitude “revolucion­ária” para tentativa de mudar o mundo em termos da Fraternida­de que conduza à Paz. Diria que são circunstân­cias que obrigam ao misticismo de despedir a egolatria e da entrega absoluta à missão de formar a Pessoa Humana. (continua)

* Estrato de trabalho apresentad­o às Senhoras Professora­s e aos Senhores Professore­s das Escolas à responsabi­lidade da Congregaçã­o das Irmãs de Nossa Senhora das Vitórias.

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