Jornal Madeira

Três Irmãos Profetas

- MEMÓRIA AGRADECIDA Teodoro de Faria Bispo Emérito do Funchal

Deus concede os seus carismas aos que são por Ele chamados a servir o seu povo, o plano e desígnio de salvação, tanto na antiga história de Israel, como nos tempos de Jesus, e em todos os séculos passados e vindouros.

Na antiga história de Israel escolheu três intercesso­res, Moisés, Aarão e Maria. Moisés foi o grande mediador entre Deus e o seu povo, Aarão e Maria foram seus auxiliares e por vezes adversário­s.

Esta história salvífica começou no Egito num tempo em que o povo de Israel era escravizad­o pelo faraó que temia a sua fuga.

Maria tinha uma função importante, porque as parteiras egípcias deviam matar ao nascer todos os meninos hebreus e poupar as meninas.

Maria era inteligent­e e líder, qualidades do povo judeu, tratou de salvar um seu irmão, concebeu uma artimanha para o salvar das águas, como Noé no dilúvio, que a Bíblia chama arca. O livro do Génesis chama a Maria profetisa. Colocou seu irmão num cestinho junto dos arbustos que cresciam junto ao Nilo, no lugar onde a filha do faraó vinha banhar-se que, ao ver o menino teve piedade dele. Neste momento aparece Maria que espreitava e pergunta à filha do faraó se queria que chamasse um parteira, ao que a princesa responde: “Leva contigo este menino e dá-lhe leite por mim, eu dar-te-ei o teu salário”.

Na passagem da zona dos juncos, a Bíblia apresenta Maria a tomar nas mãos um tamborinho e a sair atrás das mulheres que dançam de alegria. Maria devia ter boa voz, entoa um cântico louvando o Senhor: “Cantai ao Senhor porque agiu gloriosame­nte, deitou no mar cavalo e cavaleiro.” (Ex. 15,20.21).

Noutras partes da Bíblia, a vitória militar é celebrada da mesma forma, com música, cânticos e danças. Neste cântico, Maria manifesta-se profetisa, é um cântico litúrgico, juntamente com o cântico de Moisés que o procede, dirigido a todo o povo para que participe na alegria da vitória.

Quando Moisés estava no alto da montanha do Sinai, o Senhor diz-lhe: “Vê, eu coloquei-te como Deus para o faraó, Aarão, teu irmão, será o teu profeta” (Ex,1). Aarão não terá contacto direto com Deus, mas através de Moisés. Aconteceu, porém, quando Moisés estava no alto do Sinai, o povo estava tristonho e aborrecido e queria divertir-se na base da montanha.

Sugere a Aarão para fabricar um bezerro de oiro, com o oiro das mulheres que tinham trazido do Egito, semelhante ao boi Ápis. Quando Moisés desce da montanha do Sinai, fica horrorizad­o com o que vê, e diz a Aarão: “Que fez este povo para te levar a um pecado tão grande?”. Aarão desculpa-se: “Tu sabes que este povo é levado ao mal, disseram-me: Faz para nós um deus que caminhe diante de nós, porque este Moisés não sabemos o que lhe aconteceu. Então disse Aarão: “Quem tem ouro? Tirai-o, deito-o no fogo,” e saiu este vitelo.

Moisés viu que o povo tinha enlouqueci­do porque Aarão o tinha deixado à deriva (Ex. 32,21-25). Hoje, a história repete-se na nossa sociedade, acontece com oiro ou mesmo sem ele, adora-se o “bezerro de oiro”.

Deus ficou muito irritado, queria destruir Aarão, Moisés intercede por seu irmão, talvez diante da Arca da Aliança, foi atendido na sua prece, porque Deus é bondoso e compassivo.

Moisés agora reúne 70 homens entre os anciãos do povo, tendo o espírito do Senhor pousado sobre eles que se tornaram profetas. O número 70 indica a universali­dade do chamamento que correspond­e ao número de nações da terra. Desde agora, Moisés não estará só com Aarão e Maria.

No meio do deserto Aarão e Maria revoltam-se contra Moisés por uma mulher “cushita que tomara por esposa e era estrangeir­a, os dois irmãos não querem sujeitar-se a Moisés. Deus defende Moisés era um homem humilde, manso paciente, simples, o Senhor falava “boca a boca” na visão e não por enigmas a tu por tu, só ele contempla a Deus face a face. Agora é Deus que se irrita contra a Aarão e castiga Maria com a lepra, visto ter sido ela que deu ocasião de Aarão se indispor contra Moisés. A lepra é uma doença que na Bíblia está unida à impureza e tem de viver fora da comunidade.

Moisés grita “Deus, peço-te, cura-a” (Num.12,11-13).

O Senhor ordena: “Que ela saia para fora do acampament­o durante sete dias, depois será readmitida”. Maria ficou limpa na carne, mas permaneceu o sinal da vergonha por se ter rebelado contra seu irmão.

Moisés não pensa em si próprio, mas intercede junto de Deus pelo povo, por Aarão, por Maria, por todos. No Novo Testamento o intercesso­r é Jesus, filho de uma outra Maria, que são mansos e humildes de coração.

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