“Este projeto merecia mais consideração”
Isabel Borges, decoradora e um dos nomes mais reconhecidos da Festa da Flor, foi a entrevistada na rubrica ‘Plaza com...’, numa parceria do JM com o Plaza Madeira, transmitida pelo canal ‘Naminhaterra.tv’.
Nome incontornável da Festa da Flor, Isabel Borges, responsável pelo projeto Dream Flowers, foi a convidada de ontem do programa ‘Plaza com...’, onde explicou as motivações e inspirações por trás dos desenhos para este ano. Um projeto ambicioso que pretende “juntar o útil ao agradável”, ao promover uma causa nobre, e que, na opinião da decoradora, “merecia mais consideração” da parte da Secretaria Regional do Turismo e Cultura.
“No próximo ano, provavelmente vou ter de eliminar duas alas do grupo, porque não tenho budget para levar 150 pessoas para a rua”, lamenta Isabel Borges, sem esconder alguma mágoa. “Trabalhamos dia e noite e merecíamos outra consideração. Todos os tostões contam, e quando o projeto já está em andamento, dizem que afinal vai ser menos cinco mil. Isto não pode acontecer.”
Alertando para os custos, que garante apresentar em orçamentos e faturas discriminadas, a decoradora aponta o dedo à tutela do Turismo, a quem acusa de não cumprir com os valores prometidos.
“Tenho muito respeito pelo secretário regional e pela diretora regional do Turismo, acho que são as pessoas certas para os lugares. Mas se o meu grupo é tão diferente e tão melhor que os outros, tinha de ter uma verba adequada. Não posso estar sempre a bater no fundo. E também não posso admitir que me digam um valor e me deem outro”, sublinha.
“Juntar o útil ao agradável”
Ao falar sobre o conceito apresentado para este ano, Isabel Borges explica que a ideia, inspirada em padrões africanos, surgiu através da vontade de fazer algo diferente.
“Estava cansada de fazer vestidos um pouco semelhantes uns aos outros”, justifica a artista, que encontrou um padrão em particular numa feira de Paris, que a transportou para um continente que diz adorar. “Por causa das cores, África é muito verde, tem muita cor.”
Por outro lado, Isabel Borges realça que o projeto lhe permitiu “juntar o útil ao agradável”, ao juntar à Festa da Flor o trabalho em prol de uma causa. As sobras dos tecidos usados serão doados à ‘Dress a Girl Around The World’, uma organização não-governamental, que cria vestidos para doar a meninas de países carenciados. “Mandamos os tecidos para lá, os voluntários fazem os vestidos e vão entregar em mão às crianças. Isto é uma gota de água, mas se cada um acha que a sua gota não serve para nada, nunca mais se enche um copo.”
Além disso, a decoradora afiança que este projeto “tem muito a ver com os madeirenses”. “Isto não é um projeto assim tão descabido. Nós temos uma costela africana, África está mesmo aqui ao lado, os nossos antepassados foram escravos africanos...”, enuncia.
O “padrinho” João Carlos Abreu
Depois de abordar a infância e o
que considerou ser uma propensão genética para o desenho e a pintura, Isabel Borges recordou o seu início a trabalhar com o setor do Turismo. Quando terminou o curso, quis voltar para a Madeira e começou a trabalhar com João Carlos Abreu, antigo secretário regional do Turismo e Cultura, que Isabel Borges identifica como um “padrinho em muitos percursos”.
“Foi uma das melhores coisas que me aconteceu”, disse . “Ele achou que as muitas loucuras que eu tinha na minha cabeça, se eu era capaz de sonhá-las, eu era capaz de realizá-las.”
Depois de começar na decoração de interiores de muitas estalagens e hotéis, Isabel Borges relata o momento em que começou a ter noção do valor do seu trabalho: Ao decorar o stand da Madeira na Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL), que “tinha o pior lugar, ao fundo do corredor, de costas para a parede”, Isabel Borges começou a decoração a partir do teto, com candeeiros enormes alusivos à Festa da Flor, e com figurantes à entrada do certame.
“Foi um sucesso brutal”, recorda, acrescentando que o trabalho acabou por fazer com que fosse convidada a ir a Las Vegas, trabalhar com o Cirque du Soleil, entre muita gente ligada a diversas áreas, da decoração ao guarda-fato.
“Na minha passagem por lá, ao ouvi-los falar sobre mim, diziam que eu não trabalhava num palco. Trabalhava numa cidade, a cidade era o meu palco. Aí comecei a pensar, se calhar tenho algum valor”, lembra.