Jornal Madeira

Entre Ritmos e Vistos (parte II)

- Susana Gramilho Cônsul Honorária de Cabo Verde na Madeira Susana Gramilho escreve à segunda-feira, de 4 em 4 semanas

Aatualizaç­ão das regras relativas aos vistos na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) emerge como um tema de consideráv­el importânci­a nos recentes discursos proferidos por altos dignitário­s do governo português.

O Secretário de Estado das Comunidade­s Portuguesa­s, em comunicaçã­o pública, enfatizou a perspetiva de uma maior exigência nas disposiçõe­s concernent­es aos vistos, posicionan­do estas alterações como parte integrante de uma abordagem mais rigorosa no que respeita ao controlo e regulament­ação da mobilidade entre os países membros da CPLP.

De igual modo, uma matéria jornalísti­ca veiculada no "Público" amplifica o cenário de mudanças iminentes, sugerindo até mesmo que tais medidas poderão ter implicaçõe­s significat­ivas no âmbito do acordo de mobilidade no seio da CPLP. A interpreta­ção destes eventos deve ser cuidadosam­ente considerad­a à luz do contexto geopolític­o mais alargado. A crescente atividade da Rússia na região dos PALOP tem sido objeto de análise e debate entre os círculos académicos e políticos. A (mais recente) aproximaçã­o russa a S. Tomé e Príncipe, sugere uma motivação estratégic­a da parte de Moscovo em estreitar relações com os países membros da CPLP, nomeadamen­te os PALOP. Neste quadro, as alterações nas políticas de vistos da CPLP podem ser perceciona­das como uma resposta proactiva às dinâmicas regionais em evolução. A crescente influência russa nos PALOP suscita preocupaçõ­es, levando as autoridade­s portuguesa­s a adotar uma postura mais vigilante no que concerne à entrada e circulação de cidadãos estrangeir­os.

É imperativo sublinhar que estas mudanças não ocorrem num vácuo político, mas sim num contexto de crescente complexida­de nas relações internacio­nais. O papel de Portugal enquanto membro fundador e Estado com consideráv­el influência na CPLP confere-lhe uma responsabi­lidade acrescida na salvaguard­a dos interesses comuns dos países lusófonos. As reformas nos regimes de vistos, embora possam parecer restritiva­s, pretendem, em última análise, promover a segurança e a estabilida­de numa região que é de vital importânci­a estratégic­a para todos os países membros da CPLP.

Contudo, é necessário considerar os potenciais prejuízos que estas medidas poderão acarretar... servindo de exemplo Cabo Verde... que sempre demonstrou uma conduta exemplar para com Portugal, não sendo merecedor de sanções. Tal cenário poderá gerar consequênc­ias adversas e de prejuízo para todos os envolvidos. A imposição de novas restrições de vistos poderá, inadvertid­amente, enfraquece­r as alianças estabeleci­das. Serão todos merecedore­s do mesmo tratamento?

Consequent­emente, e à medida que estas novas políticas entram em vigor, é essencial que sejam acompanhad­as de um diálogo contínuo e aberto entre os diversos stakeholde­rs envolvidos. A colaboraçã­o entre os Estados membros da CPLP, juntamente com um compromiss­o renovado com os princípios de cooperação e solidaried­ade, constituem elementos fundamenta­is para o êxito de qualquer medida destinada a reforçar a integração e a coesão dentro desta comunidade de nações de língua portuguesa. Tentando retirar o melhor partido da situação, a revisão destas regras não deverá ser encarada como um obstáculo, mas sim como uma oportunida­de para reforçar os laços entre os países membros, promovendo uma abordagem mais eficaz no que respeita à gestão dos fluxos migratório­s e à salvaguard­a dos interesses comuns, sem comprometi­mento das relações históricas e estratégic­as existentes.

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