Men's Health (Portugal)

TREINO XPT

- POR DEAN STATTMANN

Respire. Mexa-se. Recupere!

Acredita que não é possível testar os seus limites com algumas horas dentro de água? Pense de novo após este workshop XPT de quatro horas. Estou colado ao chão de uma piscina funda por causa dos halteres de 15 quilos que estou a segurar. A minha missão não é brincadeir­a: percorrer debaixo de água os 22 metros da piscina, arrastando os halteres comigo.

Já vou a meio quando vejo metade da minha turma de dez pessoas a vir à tona para respirar. Largo os meus halteres e junto-me a elas, desesperad­o por ar, com os ouvidos a zumbir e os pulmões a queimar.

Antes do exercício, tinham-me dito que esta sensação devastador­a nem sequer é o mais difícil desta prova. Eu sabia que era capaz de ultrapassa­r o desconfort­o inicial e ficar debaixo de água alguns segundos. Os treinadore­s também me disseram que sim, por isso, atirei-me à piscina do Chelsea Piers Fitness, em Manhattan (EUA), para testar essa teoria.

Óbvio que vim à tona antes de terminar a minha missão, mas tive a sensação de realização. Assim como muito ardor nos pulmões.

Após duas atividades neste workshop do Extreme Performanc­e Center, mais conhecido como XPT, sinto-me exatamente como era suposto: exausto. Criado pela mente de Laird Hamilton, uma lenda do surf, e da sua mulher Gabby Reece, uma estrela do voleibol, o XPT é muito mais do que mais um programa para queimar calorias e suar até mais não. O objetivo é manipular a capacidade humana para lidar com o stress, testando ao máximo os limites físicos e mentais, enquanto melhora a nossa performanc­e ao longo das quatro horas.

Tudo relacionad­o com o XPT é suposto ser desconfort­ável, desde o exercício debaixo de água na piscina (chamado crawl de réptil: veja a ilustração) ao banho frio na banheira com gelo (calma, já lá vamos), sem falar na inteira estrutura da aula.

Em vez das normais sessões de uma hora que ‘destroem’ o corpo, mas deixam imenso tempo para recuperar fisicament­e (e mentalment­e), o programa XPT é um único workshop de quatro horas, para grupos de dez pessoas apenas, que ensina o método ‘Respire, Mexa-se, Recupere’ de Hamilton e Reece. Apesar de demorar quatro horas, o XPT está a ganhar adeptos. No próximo ano, tencionam passar dos 30 treinadore­s certificad­os para 300, ter uma app e até promover uma experiênci­a num retiro. O XPT teve um início informal, há cerca de dez anos, quando Hamilton e Reece começaram a convidar amigos para uns treinos ‘diferentes’ na piscina da sua casa. Isto explica porque grande parte do XPT acontece debaixo de água. Hamilton ficou famoso por, nos seus tempos de surf, carregar pesadas pedras debaixo de água para se manter em forma. E é por isso que, aos 54 anos, é uma referência em termos de longevidad­e atlética. “O nascimento do XPT é do mais orgânico que existe”, diz Josh Fly, um treinador certificad­o do XPT e um dos três diretores deste workshop. Mas não pense que fiquei dentro de água todo este tempo. Antes de entrar na piscina, passei por uma longa hora de treino de respiração. É aqui que percebemos o ritmo do que vai acontecer a seguir. Podemos até combater a necessidad­e de respirar, diz o instrutor de XPT, porque essa necessidad­e não se deve necessaria­mente à falta de oxigénio. Quando os níveis de dióxido de carbono aumentam no sangue, a hemoglobin­a continua a libertar oxigénio, por isso, o corpo tem o suficiente para continuar debaixo de água muito para além do tempo em que acreditamo­s que já

não dá para aguentar mais. Fazer o crawl de réptil e o outro exercício debaixo de água –o ammo carry (ilustração em baixo) – desafia-nos a permanecer mais tempo debaixo de água só com uma respiração. Esta parte do XPT pretende explorar os limites do desconfort­o dos pulmões. E consegue. Depois disto, vamos para um campo de basquetebo­l e para uma caixa de areia fazer treinos de alta intensidad­e durante 30 minutos (cada um). É o tipo de aula de bootcamp que já fizemos noutros ginásios (nada de novo aqui), mas à medida que vou fazendo slams com bola medicinal, joelhos ao peito, bear crawls e flexões, apercebo-me do lado mental dos exercícios na piscina: aí o meu corpo nem ficou cansado.

Assim que acabo, estou pronto para a hora final deste workshop: a fase da ‘Recuperaçã­o’. Até aqui, o XPT conseguiu levar-me ao limite. Terminamos este workshop alternando 15 minutos numa sauna ‘escaldante’ seguidos de três minutos numa banheira de gelo.

A parte da sauna, utilizada em muitos treinos, nem é assim tão má, mas a temperatur­a gelada da banheira leva muitas pessoas a desistir após um minuto.

Eu consegui aguentar. Mas sim, é uma dor pura e angustiant­e. Mas eu sabia que depois de aguentar o crawl de réptil na piscina, o meu corpo seria capaz de sobreviver a quase tudo.

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 ??  ?? “Isto não é a piscina”
“Isto não é a piscina”
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 ??  ?? “Não há dúvida de que isto já é a piscina”
“Não há dúvida de que isto já é a piscina”
 ??  ?? “A parte da água já deve ter acabado”
“A parte da água já deve ter acabado”
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 ??  ?? “Parece que não!”
“Parece que não!”
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