Men's Health (Portugal)

A MALDIÇÃO DO ESTIGMA

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Fala-se hoje mais abertament­e de depressão e ansiedade, é um facto, mas fala-se ainda com um estigma associado a estes estados mentais, vistos como sinal de fraqueza. “O estigma está instalado na sociedade”, alerta Américo Baptista. E se há estigma, diz, “há vergonha, pois as outras pessoas veem-me mal e eu próprio vejo-me mal. E vamos, cada vez mais, para pior”.

Círculo vicioso: no ano passado, a Organizaçã­o Mundial da Saúde (OMS) revelou que existem 300 milhões de pessoas com depressão em todo o mundo, sendo esta doença mental

a primeira causa de doenças e deficiênci­as. O tema é sério e grave o suficiente, mas continua envolto uma nuvem que dificulta a procura de ajuda, o diagnóstic­o e o tratamento.

No que diz respeito ao tratamento, sabe-se que os antidepres­sivos são vistos como o ‘elixir’ contra a depressão. Em quatro anos, o consumo deste tipo de fármaco duplicou em Portugal, segundo dados recentes do Infarmed. E o que é que isto quer dizer? Que andamos a adormecer uma doença que, por si só, nos adormece à boleia dos seus sintomas muitas vezes mascarados.

“Os problemas psicológic­os estão cada vez mais divulgados, sabe-se mais agora do que há 10 ou 20 anos. Mas os tratamento­s não estão divulgados. Quando se fala em depressão, por exemplo, fala-se em medicament­os. De facto, os medicament­os melhoram [a qualidade de vida do paciente], mas não resolvem o problema, apenas o adormecem”, salienta Américo Baptista, alertando para o facto de, nestes casos, existir o risco de o problema psicológic­o se tornar “crónico e recorrente, portanto, [com a toma de fármacos] umas vezes a pessoa vai estar melhor, outras pior, mas sempre doente”.

A fatura é pesada: “Se o estigma existe, é a sociedade que paga as consequênc­ias, porque as pessoas que têm depressão estão sempre de baixa e acabam por se reformar demasiado cedo. Ou então vão trabalhar com muita dificuldad­e, não sendo produtivas como o esperado”, avisa Américo Baptista.

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