O treino de Nic von Rupp para surfar ondas gigantes.
Há cerca de seis anos, a sua carreira mudou a 180o. Hoje, compete e vive da paixão que lhe enche o coração: as ondas gigantes. Foi em 2016 que mostrou o que valia neste campo e desde então o reconhecimento internacional é cada vez maior. Mas para Nic o desafio tem de ser constante, e estava na altura de alcançar um novo patamar enquanto surfista. Fê-lo ao trocar o mar por cenários fora da sua zona de conforto. O resultado é um Nic muito mais forte, confiante e preparado para as condições extremas das ondas gigantes. A Men’s Health acompanhou um destes treinos.
“ONTEM VENCI-TE NA CORRIDA! CONTA-LHES COMO FOI!” “Não… eu é que te deixei ganhar.” A conversa era mais ou menos esta enquanto nos dirigíamos para a pista de atletismo do Centro de Alto Rendimento do Jamor.
“Ontem corremos 10 km. O máximo que fizemos foram 15 km. Fazemos estas corridas mais longas por uma questão de resistência”, conta-nos Júlio Pinto, treinador de Nicolau von Rupp (ou Nic, como é conhecido internacionalmente), que garante que normalmente se ficam por distâncias mais curtas, apenas para ativação, antes de passar para o treino em ginásio.
A corrida está presente nos treinos de Nic há cerca de dois anos, quando começou a treinar com Júlio: “Correr era para ele uma situação fora do normal, que lhe gerava desconforto. Quis que ele aprendesse a lidar com este desconforto”, conta-nos o treinador. Para um surfista de ondas gigantes, que está entre os melhores do mundo e faz do surf vida há mais de dez anos, treinar fora de água, fora daquilo que é o seu habitat, não é fácil. É por isso que nem todos os surfistas o fazem, mas Nic sabia que precisava deste tempo fora de água, fora do que lhe é natural e confortável. Por isso, fez pausa nas ondas e focou-se numa pré-temporada de três meses que lhe permitiu chegar à sua melhor forma física de sempre – palavras do próprio.
“Treino há bastantes anos, mas antes fazia-o por picos: dava tudo quando estava cá, mas de um momento para o outro tinha de arrancar para algum lado. Esta é uma das grandes dificuldades do surf. Quando se viaja constantemente, é difícil encontrar uma rotina. Os períodos fora são tão curtos que não dá para criar um novo ritmo, mas eu preciso de rotina”. Júlio acrescenta que a grande diferença dos treinos que faziam anteriormente para este período de pré-época é que deixou de haver um período de adaptação. “Estávamos sempre a treinar em regime de aquisição. Trabalhávamos, trabalhávamos, trabalhávamos, e depois esse trabalho era interrompido e tínhamos de voltar à estaca inicial e voltar a percorrer todos os degraus. Agora, descemos dois ou três degraus, mas estamos sempre entre os 70% e os 90%, nunca baixamos da fasquia do razoável”, garante.
Por ‘razoável’, a equipa está a ser modesta: Nic está num nível de alta competição que não é facilmente atingido por qualquer um. Pelo contrário. Com base nos exames feitos no Departamento Olímpico do Jamor para perceber o seu nível de performance atual, Nic apresentou resultados que “dão dez a zero a outros surfistas profissionais. O Nicolau é o surfista acompanhado pelo Centro de Alto Rendimento que apresenta os melhores resultados em todas as variáveis!”, diz Júlio à Men’s Health.
“O que me mantém hoje em forma foram os três meses que estive aqui a lutar. Era um objetivo que tinha bem definido”.
Força, resistência, velocidade e muito equilíbrio. Esta foi a ementa de Nic nos três meses que se antecederam ao regresso às ondas gigantes onde se sente mais que sinto forte do que nunca. “A maior diferença é na duração da minha capacidade física”, diz-nos o surfista que chega a passar oito horas em mar. “Normalmente vou-me abaixo. O surf mói, destrói-me o corpo. Agora, sinto que a minha preparação física está sempre no topo, sempre constante. Nunca tinha sentido isto. Se antes tinha uma boa progressão mas rapidamente caía, agora sinto que o nível físico se mantém. Tive quatro ou seis meses muito fortes e foi muito graças ao Júlio e à minha equipa”.
Vencer o desconfortável, o desconhecido e superar os próprios limites. Estes foram os obstáculos que levaram Nic Von Rupp ao patamar onde hoje se encontra. Chegado de Jaws, Havaí, onde se qualificou para o circuito mundial do próximo ano, admite que “esperava chegar à final da competição, mas o desporto de ondas gigantes vai muito além disto. Não é fácil lidar com as maiores ondas do mundo em
“Apesar de já ter 15 anos de carreira de surf, esta foi a altura em que mais me superei em termos físicos. Foi o meu limite, nunca tinha lá chegado”.
45 minutos, o conhecimento é essencial. Nono lugar não é o ideal, as meias-finais não são o ideal, mas notei um progresso e agora é ‘bola para a frente’ e focar na Nazaré. Lá, estou em casa. É ali que pretendo um grande resultado”.
Até à data da entrevista, Nic aguardava a ondulação certa para competir na praia do Norte, na Nazaré – competição cujo período de espera termina em março.
“As ondas é que decidem quando se faz o campeonato”, diz-nos o surfista que aguarda o momento com “uma energia, força e estabilidade que não tinha anteriormente. Isto traz-me imensa confiança!”, admite.