CONTROLADO PELA PORNOGRAFIA
A PORNOGRAFIA É UM ESTÍMULO SEXUAL, UMA FONTE DE INSPIRAÇÃO E EXCITAÇÃO E ATÉ MESMO UM ENTRETENIMENTO SOLITÁRIO OU A DOIS. MAS PODE SER TAMBÉM UMA DEPENDÊNCIA QUE DETURPA TODA E QUALQUER NOÇÃO SOBRE O SEXO REAL, A PERFORMANCE E O CLÍMAX.
AOS 26 ANOS, O PEDRO** RESOLVE PROCURAR AJUDA PSICOTERAPÊUTICA.
‘Preciso desesperadamente da sua ajuda. Penso que estou viciado em pornografia. Masturbo-me umas dez vezes por dia. Fico fechado em casa e penso constantemente em sexo. Raramente vou sair com os meus amigos e já cheguei a masturbar-me várias vezes no trabalho. Receio que possa vir a ser apanhado e despedido. Os meus colegas já começam a referir que estou sempre fechado no WC... além disso, quando conheço alguma mulher fico inseguro sempre que existe a possibilidade de termos sexo. Normalmente, quando sinto que estou prestes a ter sexo, opto por terminar a relação, pois tenho medo de falhar... tenho dificuldades de relacionamento no sentido de conhecer novas pessoas. Não sei ser cordial. No dia-a-dia imagino-me a ter sexo como nos vídeos pornográficos que vejo’.
TODOS OS DIAS MILHÕES E MILHÕES DE PESSOAS ALUGAM,
compram, transferem e/ou veem pornografia. Acontece que algumas criam uma dependência ou compulsão do consumo deste tipo de conteúdos. Considera-se que existe uma perturbação se o comportamento interfere nas atividades do dia-a-dia, causa desconforto à pessoa e existe uma sensação de não controlar o consumo. O número de pedidos de ajuda, como o caso do Pedro, não para de aumentar. Com a chegada da internet, a pornografia tornou-se muito mais acessível, variada e, muitas vezes, gratuita. Não podemos esquecer que é possível aceder a este tipo de conteúdos de forma anónima e em qualquer lugar, com um simples tablet ou smartphone!
O ACESSO FÁCIL E QUASE INESGOTÁVEL DE CONTEÚDOS PORNOGRÁFICOS
pode despertar a curiosidade, o desejo de novidade e a necessidade de procurar cada vez mais pornografia. A curiosidade é comum à maioria das pessoas. É a curiosidade que nos leva a explorar o espaço à nossa volta e a distanciarmo-nos dos pais (ou figuras parentais) na infância. Tal como uma criança que explora o mundo, o viciado em pornografia vê na internet um número infindável de conteúdos disponíveis… isso alimenta a curiosidade e, consequentemente, a dependência.
Ao contrário do que possa pensar-se, atualmente cerca de metade dos consumidores de pornografia são mulheres. Em muito tem contribuído a pornografia feminina, que é caracterizada por ser menos explícita e em que os corpos não apresentam os atributos físicos da pornografia feita por homens (seios enormes – muitos deles carregados de silicone –, corpos e genitais perfeitos, maratonas sexuais). A pornografia feita por homens é responsável por muitos mitos sexuais: ‘quanto maior o pénis, maior o prazer da mulher’, ‘o sexo passa sempre por penetração’, ‘quanto mais tempo de penetração, maior o prazer’, ‘todas as mulheres gostam de se sujeitar às vontades sexuais do homem’, ‘todas as mulheres adoram fazer sexo oral aos seus parceiros’, ‘o homem é responsável pelo prazer da mulher’… e tantos outros.
Com a chegada da internet, a pornografia tornou-se mais acessível, variada e, muitas vezes, gratuita.
Não podemos esquecer que é possível aceder a este tipo de conteúdo de forma anónima e em qualquer lugar
ESTES MITOS CAUSAM DESCONFORTO
e são responsáveis por dificuldades sexuais. ‘Não tenho o pénis suficientemente grande para dar prazer à minha/meu parceira/o’ ou ‘ela só tem prazer se eu tiver ereção’ são exemplos que levam muitos homens a questionar a sua performance sexual. Ao compararem-se com os atores de filmes pornográficos, muitos sentem-se constrangidos. Sentem-se ‘inferiores’, não só em termos de performance, mas também genital. Acreditam que o/a parceiro/a apenas terá prazer se conseguirem corresponder aos padrões do que veem nos filmes. Esquecem-se de que os atores destes filmes são selecionados principalmente pelos seus atributos físicos e não de representação. Que as ‘cenas’ de sexo são criadas, que existem várias paragens até completarem uma cena, e que as imagens têm planos de gravação especiais. Como resultado, muitos homens acabam por se refugir num prazer sexual solitário (masturbação), pois desta forma não têm de lidar com a frustração do que imaginam ser o ideal sexual e do que conseguem ser. Através da masturbação sentem um prazer imediato, que se torna aditivo, por não terem de lidar com as suas inseguranças e medos. Esta é uma das consequências de uma pornografia mais focada no sexo do que na educação sexual. Uma pornografia que alimenta medos, crenças e mitos. O caso do Pedro é um bom exemplo de como a pornografia pode perturbar a sexualidade.
Antes de terminar quero referir que nem tudo são espinhos. Em certas situações, a pornografia é usada por terapeutas sexuais como ferramenta para ajudar casais a expandir o seu rapport sexual, a alimentar fantasias sexuais, a desbloquear tabus e a enriquecer a autodescoberta e a descoberta do/a parceiro/a. Conclusão: o importante é a seja a pessoa a controlar o que vê e não o seu contrário (ser controlada pelo que vê).