Papá dá licença?
HÁ UM SEM-FIM DE RAZÕES, incertezas e surpresas naquilo que vos escrevo neste mês. Linhas muito pessoais, mas facilmente retratadas em qualquer homem que se quer moderno, consciente e não machista.
No dia 14 de agosto de 2019 nasceu a minha segunda filha, a Íris. Passados onze anos, volto a ter a felicidade de ser pai. Em mim, e na conceção de encarar a parentalidade, nada mudou. O que fiz com a mais velha, voltei a fazer com a mais nova: usufruí do dever, que é mesmo o termo, de tirar a licença parental. Só que desta vez, já com o alcance e a proximidade das redes sociais, apercebi-me de alguns aspetos que pensei já serem normais. À medida que ia publicando fotografias com a Íris durante o meu mês de licença parental, recebia imensos comentários de apoio, a maior parte de mulheres, ao facto de eu ter ficado em casa para cuidar dela. Cito um deles: “É tão bom ver um pai assumir um papel tão natural para a mulher e para o homem, mas que muitos ainda acham ser exclusivamente feminino”… Confesso que me custa aceitar que os homens dispensem o tempo que de lei podem passar com os seus filhos. E que se continue a achar que o homem não deve ficar em casa! Mais do que ser uma questão de rótulos, é uma questão afetiva que fica para toda a vida, de responsabilidade e de amor que o pai não deve perder.
É certo que criar uma criança é um desafio de enorme responsabilidade, pela complexidade de competências implícitas, e mexe com toda a organização familiar, mas e então? Porque é que tem de ser a mulher a abdicar? Ou porque é que ainda não é ‘aceite’ e normal que um homem fique em casa a cuidar do filho? Há mães que preferem ser elas a cuidar, compreendo. Outras que se sentem mais confortáveis em ser elas a cuidar do bebé, não concordo. O homem tem de passar por esse processo. E todos conseguem, ninguém duvide. Eu aprendi a fazer sopas, papas, a lavar biberões e tetinas, a tirar fraldas, a pôr creme nas assaduras, a pegar ao colo, vestir... Portanto, só nós, homens, podemos dar o exemplo para contrariar esta necessária mudança de mentalidade. Porque é um processo demasiado duro para estar ao encargo só da mulher. Lembro-me de que, ao fim da primeira semana com a Íris, pensei: “Como é que a minha mulher aguentou cinco meses neste ritmo?” E a verdade é que só passando pelo processo nos apercebemos do quanto as mães se sacrificam pelos bebés e que não chega rotulá-las de supermulheres. Há que ajudar. Seremos todos mais felizes quando deixar de haver o papel da mãe e do pai e passar a haver exclusivamente o papel da família. E também quando deixar de haver uma polarização de papéis de género que defina o que é ser um bom pai e uma boa mãe. Afinal, todos temos de ser melhores profissionais e melhores pais. Não só o homem ou a mulher. E quando tudo passar a ser dividido, mais fácil, justo e igualitário será este e outros processos sociais.
Um abraço,