Pago para dar prazer às mulheres. História na primeira pessoa.
É, obviamente, um bom trabalho se o conseguir arranjar. E a pergunta fica no ar: como será trabalhar na indústria de entretenimento para adultos? O acompanhante e estrela porno Ryan James foi entrevistado pelos nossos colegas da MH australiana e a históri
Afinal, a imagem que Ryan James tem no site (scarletblue.com.au/ male-escort/ryan-james) é meia parte James Bond, meia parte Super-Homem sexual. É o mesmo que dizer que eu estava à espera de encontrar um Adónis de ar convencido, muito bem constituído fisicamente, a fazer virar cabeças no átrio do escritório. Em vez disso, encontrei um jovem inegavelmente bonito, ligeiramente nervoso, vestido com uma camisa de xadrez, jeans e óculos, desconcertantemente humilde e infalivelmente educado.
Quando começamos a conversar sobre os meandros – desculpem a expressão – da indúStria de serviço de acompanhantes de luxo e da pornografia, não deixo de tentar encontrar semelhanças entre este rapaz de fala tranquila e as imagens que apresenta no seu site. E equaciono as minhas teorias sobre homens dispostos a situações estranhas em filmes e aqueles que optam por explorar a sua sexualidade a troco de dinheiro. Várias vezes me perguntei: como é que ele consegue? Qual é o segredo? Não posso falar sobre a transformação fora da caixa que deve ocorrer quando faz sexo com alguém, mas depois de uma longa conversa com o jovem “empresário”, alguns factos tornam-se evidentes. Para quem tenta encarnar tantas fantasias femininas, o homem de 32 anos dos subúrbios no norte de Sydney é notavelmente realista, tranquilamente consciencioso e, dado o tema, muito honesto. De facto, revelou-se uma pessoa extremamente dedicada à sua profissão.
Se já se perguntou como é ser-se uma estrela porno – é claro que já o fez – ou ter mulheres a pagar para ter sexo consigo – um conceito alucinante, mas que existem mais do que imagina –, Ryan James é o seu interlocutor de confiança, pois oferece uma visão não distorcida da indústria. Por outras palavras, é um profissional.
DEIXAR O SEU EMPREGO
“Venho de uma carreira nas finanças. Estava farto de estar preso num escritório o dia todo. A ideia de entrar na indústria de entretenimento para adultos começou depois de uma saída à noite em Sydney com amigos. Começámos a falar com um grupo de mulheres no Marble Bar, no hotel Hilton. Eu e uma delas fizemos clique e começámos a sair com regularidade. Algumas semanas depois, ela disse-me que já tinha sido acompanhante mas que, ao fim de um ano, estava farta do seu trabalho e que queria voltar a ser acompanhante e entrar na pornografia. Como tínhamos uma relação pouco convencional, não me importei.”
Quando ela me contou o seu plano, desencadeou em mim a ideia de que eu poderia igualmente querer usufruir da mesma experiência – afinal, ganha 2100 euros por uma noite de prazer. Antes disso, nunca tal me tinha passado pela cabeça. Não se trata só de pensar nisso. É como se nunca fosses tornar-te um astronauta, por isso nem sequer pensas sobre isso. O meu primeiro pensamento foi: “Bem, nem vale a pena tentar porque eu seria péssimo nisso.
Mas a ideia foi ganhando força e decidi experimentar. Pouco tempo depois, deixei o meu emprego no departamento financeiro. Comecei a trabalhar num ginásio e tornei-me personal trainer, porque estava convencido de que não haveria trabalho suficiente para acompanhantes e pornografia para fazer disto profissão a tempo inteiro. Depois de um ano e meio percebi que não podia ter as três ocupações e desisti do trabalho no ginásio... e o trabalho aumentou”.
A EXPERIÊNCIA DO NAMORADO
“No que toca à distribuição da minha carga de trabalho, sou 99% acompanhante, 1% ator pornográfico. Adoro a liberdade que me dá o trabalho de acompanhante, adoro o facto de ser eu a controlar e adoro conhecer mulheres com outros estilos e formas de vida. Há uma enorme variedade – estudantes, enfermeiras, médicas, cirurgiãs, advogadas, mulheres de toda a Austrália e imensas estrangeiras, algumas de 40 a 65 anos. Umas talvez sejam divorciadas. Outras podem estar demasiado ocupadas com os seus empregos e, se forem mães, não têm tempo para namorar, mas ainda assim querem ter uma vida sexual ativa.
Outras clientes podem ser mulheres mais jovens, estudantes e demasiado ocupadas para namorar. Ou até podem estar a ter encontros no Tinder, mas não querem dormir com o rapaz no primeiro encontro. Preferem ter uma vida sexual ativa e, por isso, vêm diretamente de um encontro do Tinder para estar comigo. Acontece com bastante frequência.
Também há as virgens. Provavelmente sentiam-se demasiado velhas para ainda serem virgens e não sabiam como lidar com isso. Nesta semana estive com duas clientes que fizeram sexo pela primeira vez. Foi a primeira vez que beijaram alguém.
Há também mulheres que podem não se sentir à vontade para namorar ou podem ter imensas inseguranças que as deixam ansiosas. Podem ter sido vítimas de agressões sexuais e não se sentem à vontade para sair e conhecer um rapaz. Já tive clientes que disseram: ‘Odeio homens, odeio o que me fizeram, odeio como me fizeram sentir’. Essas mulheres têm problemas pendentes com o sexo masculino e, em alternativa e como forma mais segura, preferem recorrer a um acompanhante.
Ryan James é tão discreto que me passou complemente despercebido quando me desloquei ao café onde combinámos fazer a entrevista para a Men’s Health.
E há os casais. Podemos ser uma fantasia para eles ou talvez estejam juntos há 20 anos ou mais. Podem ter começado a namorar no liceu, nunca dormiram com mais ninguém e agora estão na casa dos 40 e decidiram que se amam profundamente, mas querem experimentar e explorar algo mais. Quando recebo uma marcação para casal, é quase sempre o homem que me contacta e é basicamente um presente para a sua mulher. Encontramo-nos num hotel. Conversamos os três, bebemos uns copos e, depois, o tipo senta-se a observar-me na cama com a sua mulher – ele fica apenas a assistir.
Há essa coisa chamada traição: a mulher faz sexo com outro tipo à frente do marido e isso é visto como humilhação, mas normalmente o tipo fica excitado ao ver a mulher ser excitada por outro homem.
Eles continuam muito apaixonados um pelo outro e trazer uma terceira pessoa para o meio não diminui o que sentem. Quando muito, acrescenta algo.
Em relação a marcações, há as clientes habituais, que vejo uma ou duas vezes por mês. Talvez saia várias vezes por ano com elas.
Depois há as clientes semirregulares. São as que vejo uma vez a cada três meses, e elas precisam de economizar para isso. E ainda há as marcações pontuais, em que pode ser apenas um item da lista de desejos de alguém. Querem apenas experimentar um acompanhante uma vez na vida”.
VINHO E JANTAR
“O serviço mais popular que ofereço é o jantar: cerca de 900 euros [1.500 dólares australianos] por quatro horas. É essencialmente um pacote em que saímos para jantar, depois voltamos para um hotel ou para casa delas por mais umas horas. Há ideia de que as mulheres apenas estão à procura de companhia e que os homens estão à procura de sexo.
Até pode ser por causa da forma como promovi o meu trabalho, mas quase todas as marcações que recebo são para fazer sexo. É engraçado porque muitos dos clientes das acompanhantes femininas com quem falei não querem sexo, apenas pretendem passar uma noite divertida com elas.
Quanto ao sexo propriamente dito, primeiro há muita conversa e depois as coisas desenvolvem-se lenta e calmamente. Podemos entrar com mais força se for isso que a cliente quer, mas, muitas vezes, é sensual, é íntimo, é suave, é sobre o prazer. Não é muito ‘prego a fundo’, sexo hardcore.
Descobri que não tenho dificuldade em ficar excitado com as minhas clientes. Há sempre algo em todas elas que me atrai. Passo muito tempo a falar com as minhas clientes. Pode parecer clichê, mas é verdade: o cérebro é o órgão mais sexy do corpo”.
“Descobri que não tenho dificuldade em ficar excitado com as minhas clientes”.
FORA DOS LIMITES
“Tento manter as coisas muito profissionais porque acho que uma vez ultrapassados os limites vêm problemas sérios. Apesar de gostar realmente de muitas das minhas clientes, convidá-las para nos encontrarmos ou para fazermos outros programas seria uma história diferente. Mantenho as águas totalmente separadas.
Se uma cliente sente-se atraída por mim, tento manter a minha capa profissional para que ela não crie expectativas irrealistas. Faço por evitar que se torne embaraçoso. Parte demarcar os limites é não dar a uma cliente a ilusão de que estamos numa relação normal. É um tipo de relação, mas é uma relação de acompanhante-cliente.
Algumas clientes ficam com ciúmes de outras clientes ou não gostam que eu faça pornografia. Por isso, não lhes falo das minhas clientes. Às vezes fazem-me perguntas, mas não dou pormenores porque tal pode incomodá-las. Ao longo dos anos tive de me afastar de algumas clientes. Normalmente, isso acontece quando não respeitam os limites. Quanto mais uma cliente tenta ultrapassar os limites, mais sou obrigado a estabelecer barreiras. Muitas vezes a cliente pressiona porque quer ter o homem ‘real’, sem perceber que isso é contraproducente. Isso eu não posso ser. Quanto menos me pressionarem, mais eu posso ser eu próprio”.
SALÁRIO DO PECADO
“Normalmente, tenho até meia dúzia de marcações por semana de duas a quatro horas, depois, às vezes, tenho noites extras e fins de semana fora. Acho que nesta semana tenho oito marcações.
Com este trabalho de acompanhante, pude experimentar muitas coisas. Esquiei, fiz passeios enológicos, de helicóptero, andei de jet-ski, tive férias pagas no estrangeiro, fiquei em hotéis de luxo, por vezes duas e três semanas. Em geral, as clientes pagam todas as despesas e também pagam o preço de acompanhante.
Tanto quanto sei, a maior parte dos homens na Austrália que anunciam serviços de acompanhante têm empregos durante o dia e este é apenas um trabalho secundário. Muitos deles são pouco requisitados. Para os homens que estão a pensar fazer disto vida, é preciso investir muito no marketing pessoal, nas fotos e no perfil. Apesar de a tarifa para acompanhante poder custar de 120 a 300 euros [200 a 500 dólares australianos] por hora, tal só é importante se ele conseguir realmente convencer as mulheres a marcar o trabalho.
Geralmente nos encontros uso calças mais justas, sapatos mais formais e uma camisa de botões. Mais do que isso geralmente é de mais. O mais comum é receber pedidos para aparecer em roupa casual: jeans e t-shirt”.
AQUILO QUE OFERECE
“Ser um bom acompanhante é ser simpático, ser capaz de manter uma conversa e pôr a cliente à vontade, descontraída. Quando se está com uma cliente pela primeira vez, pode também ser a primeira vez para ela em muitos anos. É natural que fique nervosa porque vai fazer sexo pela primeira vez, possivelmente, em anos. É preciso prestar atenção ao que diz e à sua linguagem corporal e ser capaz de perceber o que quer. Se a cliente não consegue expressar o que realmente quer na cama, o nosso trabalho é tentar descobrir e dar-lhes isso. É pôr de lado os nossos desejos sexuais para lhe dar o que quer, não nos esquecendo que estamos ali por ela. A cliente está a pagar por um serviço. Ao mesmo tempo, o que ela quer é a mim”.
A IDENTIDADE PORNO
“A minha primeira experiência porno tinha duas cenas. A empresa tinha-me dito para fazer o teste porque toda a gente na indústria tem de se submeter a testes antes de começar a trabalhar. Lembro-me de ir a um apartamento e de me sentir incrivelmente nervoso. Não fazia ideia do que estava a fazer. Conheci as raparigas com quem ia trabalhar. A equipa estava a preparar as luzes, o equipamento de som e a posicionar as câmaras. As raparigas estavam a maquilhar-se. Antes de começarmos a filmar, fizemos um ensaio e tirámos fotos. Por isso, já sabia o que tinha de fazer. Eu continuava supernervoso, mas começaram a filmar e eu tive de avançar.
Para ser honesto, fiquei surpreendido com o meu bom desempenho. Acho que só tinha uma imagem de estrelas porno masculinas, e estas pareciam ser de uma raça diferente. E quando estamos realmente em cena, percebemos que são na maioria das vezes pessoas normais, tanto os homens como as mulheres. Adorei a experiência”.
MAIS EMOÇÃO
“Nunca segui nenhum tipo de rotina antes de uma cena. Apenas procuro descansar na noite anterior e tento chegar a horas. Acho que se o fizer, vou estar relaxado e pronto para a ação. Sempre fui capaz de representar e acho que essa é a razão principal pela qual tenho trabalhado muito ao longo dos anos.
Por vezes ainda fico nervoso, provavelmente mais na parte inicial da cena. Então, começo a pensar: ‘OK, qual é a situação hoje? Sou um rapaz das pizas? Sou um advogado que está a aconselhar uma mulher no divórcio por o marido a ter traído? Quando chega o sexo real, por norma já estou a lidar bem com a situação. Uma vez que fazemos ensaios, vou pensar: ‘Muito bem, o que vamos fazer primeiro? Qual é a próxima posição?’ Por vezes, querem que sigamos à risca o que eles desenharam. Noutras vezes, podem apenas dizer: ‘Faz o que quiser e nós apenas captamos.’ Então, talvez beije um pouco e depois um pouco de sexo oral, em seguida relações sexuais nas posições que eles criaram e depois a ejaculação. Tentamos fazer uma pequena performance, dar aos espectadores o que eles querem ver, mas, ao mesmo tempo, tentamos que as coisas a aconteçam naturalmente. Às vezes pode ser muito clínico, especialmente se não existe muita química com o outro artista, o que simplesmente acontece. Não significa que o outro seja mau no seu trabalho. Não significa que eu seja mau no meu trabalho. Umas vezes mostram que só estão lá pelo salário, não estão realmente interessados na parte sexual da cena. Outros interessam-se demais”.