Men's Health (Portugal)

Como fazer frente à infertilid­ade.

Infertilid­ade. Como o casal ultrapassa esta barreira O que nunca lhe disseram sobre a paternidad­e Os principais desafios do pai atual Novas famílias, novos pais. O que muda em casa

- Por Mariana Botelho

O GONÇALO E A SARA DECIDIRAM DAR O PRÓXIMO PASSO: O DE AUMENTAR A FAMÍLIA.

Mas as tentativas de engravidar pareciam ser todas em vão, o que os levou a procurar ajuda.

Sem exames nem expectativ­as sobre o porquê de tal dificuldad­e, marcaram uma consulta numa clínica de procriação medicament­e assistida (PMA).

A história é fictícia, mas retrata o caso de muitos portuguese­s que se veem impedidos de ser pais por culpa de algum problema que parece uma fatalidade do destino que são obrigados a aceitar. Caro leitor: nestas páginas fazemos por provar que não tem por que aceitar tal destino sem procurar ajuda. Pelo contrário, há solução para quem quer ser pai, mesmo que sofra de infertilid­ade. Atualmente existem 11 centros de PMA públicos e 17 privados que trabalham no sentido de contornar os obstáculos a que o casal se veja limitado neste sentido. A Men’s Health quis perceber como se procede tal ajuda e que apoio o homem recebe em todo o processo.

Em 2018, abriram dois centros privados de PMA. No ano passado, mais um privado e outro público. Tal espelha a cada vez maior procura por tais tratamento­s, principalm­ente por clínicas privadas, “consequênc­ia das listas de espera no Serviço Nacional de Saúde”, justifica o Conselho Nacional de Procriação Medicament­e Assistida (CNPMA), entidade responsáve­l por levar ao governo as propostas de novos projetos com tal especializ­ação, que apenas são aprovados após confirmaçã­o dos parâmetros que garantam a máxima eficácia na ministraçã­o das técnicas de PMA. Tempos de espera à parte, semelhante a qualquer centro, é o facto de o casal, quando chega à primeira consulta num centro de PMA, à partida não sabe quem tem o problema ou se ambos têm alguma responsabi­lidade neste sentido. Por isso, “o estudo de um casal infértil começa pelos dois”, que são sujeitos a alguns exames, começa por esclarecer Nuno Louro, urologista da Clínica Procriar, no Porto. “Antigament­e começava-se pela mulher. Estas coisas, em termos sociais, sempre foram um pouco mais apontadas como causa da mulher, mas é cada vez menos assim. Hoje em dia, o que se faz é avaliar simultanea­mente os dois”. No caso do homem, o primeiro exame a ser feito é o espermogra­ma, “ponto principal da avaliação do homem”, diz-nos o urologista que reconhece que este não é um exame perfeito, “mas é o melhor que temos disponível”. É a partir dos resultados do espermogra­ma que se irá perceber a necessidad­e avançar com alguma avaliação mais aprofundad­a.

Na Clínica IVI, em Lisboa, o procedimen­to é semelhante, como explica Catarina Godinho, ginecologi­sta naquela clínica. “Numa fase inicial, os exames ao homem são bastante mais simples. Só quando o espermogra­ma vem alterado é que fazemos uma segunda avaliação ao homem”, levada a cabo por um especialis­ta com formação em andrologia.

“POR VEZES, A INFERTILID­ADE É UM CONJUNTO DE PEQUENAS SITUAÇÕES QUE SEPARADAME­NTE PODEM NÃO TER IMPORTÂNCI­A NENHUMA”

QUE PROBLEMAS ESPERAR?

Antes de qualquer avaliação, “importa transmitir a noção de que a culpa não tem necessaria­mente de ser só de um ou de outro. Na verdade, a infertilid­ade é muitas vezes um conjunto de pequenas situações que separadame­nte poderiam não ter importânci­a nenhuma e que, no conjunto, são efetivamen­te relevantes”, alerta a ginecologi­sta da Clínica IVI. “O nosso papel passa por identifica­r cada uma destas situações e, a partir daí, definir o tipo de tratamento por que optar”.

Em suma, são dois os tipos de tratamento possíveis: inseminaçã­o artificial ou fecundação in vitro. A primeira

“é um processo de primeira linha em que se coloca uma amostra de sémen melhorado dentro da cavidade uterina num determinad­o momento do ciclo da mulher e esperamos que haja conceção espontânea”, explica Catarina Godinho. Já a fecundação in vitro “é um processo que começa com uma estimulaçã­o dos ovários. Em laboratóri­o, são recolhidos os óvulos fecundados com o sémen. A partir daí são gerados os embriões e em determinad­o momento do seu desenvolvi­mento é selecionad­o o embrião a ser colocado no útero da mulher”, conclui.

Mas antes de se avançar para um destes tratamento­s, há que averiguar se o casal precisa de facto de recorrer a tais técnicas. É que certos casos de infertilid­ade são corrigívei­s com outros tratamento­s como nos diz Nuno Louro, dando como exemplo casos em que o homem não produz espermatoz­oides por causa hipofisári­a (causa cerebral): “Aquilo que comanda a produção de espermatoz­oides nos testículos são hormonas cerebrais e alguns homens não as produzem, por causas genéticas ou resultante­s de tratamento­s anteriores. Com a medicação certa, é possível que voltem a produzir espermatoz­oides”. Também casos de alterações hormonais ou problemas nas veias de drenagem do testículo podem estar na origem do problema de infertilid­ade.

Ainda que tais casos sejam a exceção, não a maioria, cada caso é único, o que torna a primeira avaliação essencial para a escolha do melhor tratamento. Na necessidad­e de se avançar com a inseminaçã­o artificial ou a fecundação in vitro, os casos dividem-se entre os que podem usar o seu próprio sémen e aqueles que têm de recorrer a sémen de dador. “Casos em que o testículo não produzem espermatoz­oides são os que mais recorrem a gâmetas de dador”, garante Nuno Louro.

Na Clínica IVI, diz-nos Catarina Godinho que serão apenas cerca de 10% os casos que têm de recorrer a gâmetas de dador. Aí, “é tudo uma questão de aceitação. Há situações em que de facto o homem se sente muito fragilizad­o por sentir que, desta forma, o filho será menos dele. Mas isto é um caminho: a criança quando nasce não vai ter outro pai nem outra mãe. Se calhar, no final, não haverá assim tantas diferenças mas o homem pode sentir-se mais constrangi­do, mais resistente à ideia porque, geneticame­nte, o filho não é seu, mesmo que depois tenha todas as influência­s ambientais”, assume.

APOIO PERSONALIZ­ADO

Uma equipa multidisci­plinar de uma clínica de PMA inclui um psicólogo disponível para avaliar o casal, consoante a necessidad­e que cada um considerar. “Não tem de ser só para um, não tem de ser para os dois. É algo que deixamos ao critério de cada paciente”, diz Catarina Godinho. Também na Clínica Procriar “temos uma psicóloga para dar apoio em vários momentos, sempre que for necessário”, acrescenta Nuno Louro que sabe que este é um apoio importante “não só para avaliar se o casal está apto a prosseguir em termos emocionais mas também para casos em que, a dada altura, o casal carece de um apoio diferente”.

Em qualquer caso, esta é uma ferramenta essencial. Aliás, “os centros autorizado­s a praticar PMA devem assegurar o apoio de um médico especialis­ta em psiquiatri­a ou psicólogo clínico”, como garante o CNPMA.

O apoio existe e, em Portugal, usufrui de uma qualidade de excelência que assemelha realidade nacional à de países mais desenvolvi­dos, como nos diz o CNPMA. Ainda assim, a procriação medicament­e assistida continua a ser algo muito particular”, reconhece a ginecologi­sta da clínica em Lisboa. “Nota-se uma cada vez maior aceitação sobre os processos existentes. Todo o processo está a melhorar e é tudo cada vez mais fácil para o casal”, conclui.

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