Men's Health (Portugal)

Entre mar e terra, viaje connosco nesta experiênci­a imperdível e cheia de adrenalina.

Um desafio impossível. Quatro semanas de preparação. Combinando duas atividades de aptidão física - trail e natação em águas abertas -, Ötillö Swimrun é o derradeiro teste de resistênci­a. Mergulhámo­s. Mergulhari­a?

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TAL É O MEU AMOR pela atividade física que é raro sentir-me como um principian­te. Mas é exatamente assim que me sinto ao inscrever-me na minha primeira corrida de natação, com apenas quatro semanas para treinar. “Certamente é só um pouco de natação e corrida”, diz a minha mulher. “Um triatlo menos o ciclismo?” pode ter sido o que o meu mês de treino envolveu mas, quando estou na linha de partida, sei que a resposta mais simples é: “Nem um pouco!”.

Apesar de ter sido estabeleci­da na Suécia há mais de 15 anos, muitos ainda consideram a Swimrun como uma nova disciplina. Alguns falam de como ativa nos participan­tes uma espécie de anfíbio interior, à medida que nos movemos entre a terra e a água, nadando com sapatos e correndo em fato de mergulho, para distâncias de até 75 km. Michael Lemmel, o fundador da Ötillö Swimrun, sabe melhor do que ninguém o desporto, por isso, sinto-me com sorte por ele ser o homem que me vem buscar à Suécia. Ele dá-me umas dicas para a corrida. “Tudo o que pode fazer é adaptar-se à natureza. Esse tem sido o nosso lema desde o início”, diz-me Lemmel, enquanto atravessam­os o Mar Báltico em direção à ilha de Utö, o lar espiritual da Swimrun. “Não há valor em falar sobre os tempos, ou a dureza de alguma coisa. A Swimrun é mais sobre partilhar o amor de estar na natureza e a paixão de se esforçar. Porque quando te esforças, apercebes-te de mais coisas sobre ti e sobre os outros”.

Logo depois, o barco abranda e à frente encontra-se um cenário de cartão postal para um evento. “Isto é Utö”, diz Lemmel, orgulhosam­ente. Fico com arrepios, mas não sei se é enjoo ou borboletas pelo que me inscrevi. Eu sei a verdade: o quanto vou ter de esforçar o meu corpo através desta bela paisagem. Saio do barco e tiro a oportunida­de de explorar parte do trajeto antes do jantar com o meu parceiro de corrida. Isso mesmo, swimrun em pares - é opcional. Lemmel diz-me: “Fazê-lo com alguém é muito melhor do que fazê-lo sozinho, pois traz muito mais à experiênci­a, partilhand­o todos os altos e baixos com alguém”.

Faço o check-in e mudo de roupa rapidament­e antes de sair para conhecer o Gabriel, a pessoa encarregad­a de me manter vivo. É aqui que o meu novo status realmente se manifesta. Em termos de preparação, passei as últimas semanas a dominar como usar o kit necessário para otimizar a natação – sapatos não absorvente­s, palas de natação, uma boia entre as pernas e, claro, um fato de mergulho especial. Ao virar a esquina, pus os olhos no meu parceiro, e finalmente percebi o porquê de ter dificuldad­e em fechar o meu fato de mergulho. Há um mês – documentad­o para todos verem no meu feed do

“Exercício extenuante não é suposto ser poético, mas nadar em Utö é exatamente isso”

Instagram – tenho-o usado ao contrário. Contra árvores verdes, musgo, arbustos cobertos, pedras e água tranquila, o teste de natação que fazemos é um primeiro encontro que vou lembrar por muito tempo. Não me canso da rota em constante mudança.

Os eventos à distância podem ser monótonos, mas aqui estou eu, a dar a volta, a subir e a descer trilhos, a escalar falésias e a saltar para o (surpreende­ntemente suave) Mar Báltico. Agradeço a Gabriel. Ele diz-me para ter uma boa refeição e uma noite de sono decente, e voltaremos a encontrar-nos bem cedo na linha de partida. Exercício extenuante não é suposto ser poético, mas nadar em Utö é exatamente isso. A mini-prática acalma os nervos. A minha natureza normalment­e competitiv­a evapora. Não estou a pensar em que posição podemos ficar, ou na rapidez com que a vamos completar. De repente, sou só uma pessoa de fato de mergulho, asseguro-me que é apenas a participaç­ão que conta e, venha chuva ou sol, estou ansioso para me testar fisicament­e com os elementos da natureza, não contra eles. Quanto tempo dura este sentimento de serenidade, no entanto, ainda está por descobrir.

EXPERIÊNCI­A FORA DO CORPO

De pé na linha de partida com Gabriel, o clima é jovial. Os tempos iniciais não dividem homens, mulheres e mistos, e não há categorias etárias separadas. Todos parecem relaxados com as suas toucas de natação e óculos, palas e fatos de mergulho. No total, o percurso de hoje é de pouco mais de 12 km, com a maior corrida de 3,5 km e a mais longa natação de 900 m. Esticados e prontos, ouvimos o som da partida e vamos para o deserto. À medida que entro na primeira colina, estou emocionado com a sensação de entrar no desconheci­do – fisicament­e não sei o que nos espera, e mentalment­e não sei como o meu

corpo vai lidar com o desafio. A sequência de uma hora e 58 minutos é quase uma experiênci­a fora do corpo. É da natureza humana alcançar os objetivos com a mente focada na linha de chegada e não no presente. Mas enquanto atravesso Utö, a única coisa que me passa pela cabeça é o meu próximo passo, escorregar, largar, subir, rastejar, remar ou alcançar. Tal é o terreno em mudança e as correntes que não tenho escolha a não ser estar imerso em cada momento, ou então arriscaria tropeçar, escorregar, desperdiça­r energia ou, bem, pôr em perigo a minha vida. Não verifico o meu relógio para monitoriza­r o nosso progresso. Nem penso em quem está à nossa frente, ou atrás de nós. A adrenalina faz efeito e apanha-me de volta. Sempre que entramos na água, sinto-me energizado; Cada vez que chegamos a terra, sinto uma grande sensação de realização. Cada passo é tão bom.

Correr para cima e para baixo nos trilhos usa todos os músculos das pernas, e nadar com pás é um treino de corpo inteiro. Ao sairmos de alguns arbustos, o Gabriel tira-me do meu transe, dizendo: “Este é o nosso último mergulho”. Olho para cima e reconheço a vista. Estamos na reta final. Quando mergulhei na água pela última vez e rodopiei a boia entre as minhas pernas, senti um arrepio. O meu corpo está com pouca energia. Ainda assim, saboreio a última natação, maravilhan­do-me com a paisagem que nos rodeia. Fora da água, temos mais uma corrida de 200 m até à linha de chegada. É aqui que começo a processar as últimas duas horas – as pitorescas cabanas Scandi espalhadas pela ilha; as vistas intermináv­eis que se estendem através do horizonte; a beleza natural deslumbran­te que engoliu a minha consciênci­a. Corremos pela última colina e cruzamos a linha para aplaudir o quinto lugar.

Estou tão feliz como estou exausto. Às 20h00 daquela noite, o meu Garmin diz que a minha “bateria corporal” está a 20%, a mais baixa que alguma vez registou. Já perdi mais de 4.000 Kcal e o meu ritmo cardíaco estava nos 140. Fora do meu fato de mergulho, ainda estou a nadar.

“Sempre que entramos na água, sinto-me energizado; Cada vez que chegamos a terra, sinto uma grande sensação de realização”

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motivados.
Os participan­tes competem em pares para se manterem motivados.
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As águas frias do Báltico fazem disparar a adrenalina.
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Perca-se num terreno sempre em mudança.
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Afie os seus instintos de sobrevivên­cia enquanto anda pelas rochas.
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Um perfil fino e baixo peso é crucial para a mínima absorção de água, e a tração é a chave. Estes ténis passam em todos os pontos anteriores. Accelerita­s RB9X Icebug, 107€, sportamore.com/ pt
O Calçado Um perfil fino e baixo peso é crucial para a mínima absorção de água, e a tração é a chave. Estes ténis passam em todos os pontos anteriores. Accelerita­s RB9X Icebug, 107€, sportamore.com/ pt

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