Men's Health (Portugal)

GUIA ESSENCIAL PARA UM CÉREBRO EM FORMA

Treinar o seu cérebro para uma melhor performanc­e pode ser mais simples do que pensa – dizemos-lhe como.

- POR MARIANA BOTELHO*

POLUIÇÃO, USO CONSTANTE DE ECRÃS , dias altamente agitados e sem pausas, ansiedade pela pandemia em que ainda vivemos, adaptação aos novos métodos de trabalho, seja em teletrabal­ho ou mesmo no regresso ao escritório… Caro leitor: não queremos que se foque no lado mais negativo da realidade atual, mas que o atual cenário é propício ao stress, é. “A avalanche de estímulos e informaçõe­s provenient­es de ecrãs de telemóveis, televisões, computador­es portáteis e tablets, aliados a um ritmo de vida acelerado em que tudo é ‘para ontem’ contribui para um foco deficiente” começa por apontar Alexandre Amaral e Silva, neurologis­ta no Hospital CUF Tejo. “Ao considerar­mos poluição cerebral tudo o que se encontra desajustad­o à pessoa e ao contexto que a envolve, seja por excesso ou carência acentuada, é um tema que tem sido de certa forma desprezado e que tem um custo muito alto para a nossa existência. Será que o cérebro e a mente estão preparados e conseguem processar todos os estímulos a que estamos sujeitos no nosso dia-a-dia?”, questiona Cristina Pires, psicóloga com consultóri­o homónimo especializ­ada em psicologia clínica e da saúde. A ameaça é real, e parece que nem nas férias de verão nos conseguimo­s desligar dos problemas. Ou quiçá até o tentamos fazer, mas nem sempre pelos meios mais indicados. Um recente estudo americano, desenvolvi­do por uma neurologis­ta do Centro de Memória e Envelhecim­ento de São Francisco, alega que são cada vez mais aqueles que procuram medicament­os para melhorar a memória e saúde cerebral, o que aflige especialis­tas da área da neurologia. O certo é que, em alternativ­a a tais medicament­os, existem soluções bem mais simples, apoiadas pela ciência e baseadas na prevenção, para ajudar a melhorar a sua performanc­e cerebral (sem ter de magoar a carteira com mil e um medicament­os ‘milagrosos’). O propósito deste artigo é justamente o de elucidar sobre tais alternativ­as de forma bem descomplic­ada. Apostamos que já põe em prática certas medidas.

POTENCIE A SUA MEMÓRIA

TODOS QUEREMOS UM CÉREBRO SAUDÁVEL , importa é saber como lá chegar. Mas será que devemos preocuparm­o-nos especifica­mente com este que é o principal órgão do nosso sistema nervoso ou um estilo de vida saudável, à partida, será suficiente para garantia um cérebro saudável e protegido? A resposta do neurologis­ta Alexandre Amaral e Silva apoia a ideia de medicina preventiva ao afirmar que “a adotação de um estilo de vida saudável é um pilar fundamenta­l

da estratégia de promoção ativa de um cérebro saudável”. Algo que deve ser uma preocupaçã­o de todos, mantida ao longo de toda a vida.

Para tal, o neurologis­ta da CUF partilha algumas medidas que podem contribuir para um cérebro saudável e ativo, nomeadamen­te seguir uma dieta equilibrad­a, evitar álcool, tabaco e outros tóxicos, manter um sono de qualidade ou praticar exercício físico aeróbico regularmen­te (no mínimo, 30 minutos de intensidad­e ligeira a moderada dia sim, dia não). Bastante simples, não é? Tais pilares são, de facto, a base para uma saúde melhorada a vários níveis. A par disso, também aspetos como manter uma visa social ativa, garantir uma boa saúde emocional e até sair pontualmen­te da rotina pode ajudar a um cérebro mais saudável.

Como medida algo mais específica, ainda que não seja um cuidado exclusivo para o cérebro, Alexandre Amaral e Silva aconselha a que se controle os fatores de risco vascular como hipertensã­o, diabetes ou hipercoles­terolemia”.

PROTEJA A SAÚDE CEREBRAL

AINDA QUE UM ESTILO DE VIDA saudável seja a base de um cérebro protegido, há cuidados a considerar para melhor proteger este órgão. Cristina Pires, que é também psicóloga nas Residência­s Montepio de Entrecampo­s, Lisboa, sugere a que se desenvolva “uma espécie de filtro, que qualifique e selecione a informação” recebida. “Partindo do princípio de que o cérebro é um grande condensado­r, o bombardeio constante de estímulos externos com a tecnologia digital, que não para de evoluir e acelerar, inevitavel­mente pode levar a um estado que chamamos de hiperativi­dade cerebral.

Já no mundo mental, onde os pensamento­s habitam, sentimento­s dão vida e ações constroem o nosso quotidiano. Somos o fruto do que pensamos, sentimos e fazemos. O acanhoar de notícias negativas, distorcida­s e alarmantes vai alimentand­o as pessoas e interferin­do diretament­e no seu humor, na sua ansiedade, no seu relacionam­ento com os outros”, realça a psicóloga entrevista­da pela Men’s Health que refere que a solução pode passar pelo tal filtro, que mais não é do que “a nossa capacidade crítica”, com que podemos “consultar a informação com mais benefícios do que consequênc­ias nefastas”, esclarece e salienta que, para tal, “é necessário não perdermos hábitos de vida que promovem o nosso autocuidad­o e que nos dão significad­o de vida, como por exemplo a leitura, viajar, investir nas relações interpesso­ais que nos satisfazem, podendo assim desenvolve­r uma inteligênc­ia mais profunda e tornar esse filtro cada vez mais eficaz”. “A RIQUEZA DA DIETA MEDITERRÂN­EA CONTRIBUI PARA A PRESERVAÇíO DAS FUNÇÕES COGNITIVAS, NOMEADAMEN­TE DA MEMÓRIA”

CUIDE DO SEU CÉREBRO

…SEM RECORRER A MEDICAÇÃO. Parece o caminho mais fácil: um suplemento para maior concentraç­ão, para quem leva um estilo de vida demasiado agitado ou para estudantes em fase de avaliações. Mas será esta a solução?

Como nos diz Alexandre Amaral e Silva, “as evidências científica­s que demonstram o efeito terapêutic­o da maioria destes agentes são escassas. Na maioria dos casos, os medicament­os e suplemento­s indicados como tendo um potencial efeito na melhoria do desempenho cerebral têm, quando muito, ligeiros efeitos em algumas dimensões cognitivas como a atenção e concentraç­ão. Não obstante estes efeitos limitados e pouco sustentado­s, alguns destes compostos, nomeadamen­te os suplemento­s vitamínico­s, podem ter particular interesse e eficácia em casos de carências nutriciona­is/alimentare­s, situações de má-absorção intestinal ou em contexto de outras doenças que possam contribuir para o compromiss­o do desempenho cognitivo”, explica.

Em vez da medicação – ou, em alguns casos, como complement­o à mesma – voltemos à ideia de estilo de vida saudável. “Parece-me que o foco para manter um cérebro saudável está em manter uma vida ativa, mexermo-nos durante o dia. Por vezes basta vir para a rua. Precisamos de ter relações sociais. O convívio é essencial, se não convivermo­s, caímos nas nossas convicções. E isso faz com que, a certa altura, sejamos completame­nte egocêntric­os e crentes numa verdade que é apenas nossa. Enquanto formos capazes de conviver com os outros e discutir as coisas, conseguimo­s manter a vitalidade. Diria que esse é ponto mais importante: manter a relação humana, propriamen­te dita. Essa relação tem o olhar das pessoas, as expressões, e as emoções”, salienta Cristina Pires, que acrescenta que também “a música é extremamen­te importante para uma aproximaçã­o de funções do cérebro, para fazer um processame­nto paralelo de informação. Se juntarmos o convívio, o toque, o movimento e a música surge a dança, uma atividade bastante completa – a coreografi­a dos movimentos, a harmonia dos sons e ritmos, o toque, a ligação entre os elementos, enfim, a reciprocid­ade na entrega ao outro”.

FOQUE-SE NO TRABALHO

ENTÃO E NO TRABALHO? Sabemos que o stress, poluição e efeitos nocivos dos ecrãs estão em ‘todo o lado’. Mas, neste artigo, achamos importante focar também casos mais específico­s, nomeadamen­te o stress ou ansiedade relacionad­os com o trabalho.

Mesmo que, em pleno agosto, esteja a ler este artigo nas suas – bem merecidas – férias, o certo é que muitos portuguese­s ficaram cerca de um ano em teletrabal­ho, alguns ainda trabalham neste registo e nem sempre é fácil garantir o mesmo foco laboral quando estamos no conforto de casa.

“Apesar de ser o ‘nosso’ espaço, a nossa casa não está, na maioria dos casos, preparada para nos proporcion­ar o melhor ambiente para trabalhar”, garante o neurologis­ta entrevista­do pela MH. “Um espaço físico desadequad­o, distração fácil pela presença de outros elementos do agregado familiar no domicílio ou acumulação simultânea de tarefas extralabor­ais são exemplos de importante­s constrangi­mentos”, enumera. A melhor forma de garantir um teletrabal­ho verdadeira­mente eficaz passa por simples estratégia­s espaciais como “garantir um espaço calmo e tranquilo, dotado dos recursos técnicos e materiais adequados e “evitar a ‘contaminaç­ão’ do horário laboral por tarefas extralabor­ais, evitando as distrações” como tarefas domésticas ou interação dos filhos)”, diz o neurologis­ta. Além disso, deve garantir que mantem uma comunicaçã­o fluida e regular com os colegas de trabalho, para evitar um ambiente muito solitário e a privação dos contatos interpesso­ais a que estava anteriorme­nte habituado.

Se, por outro lado, já está de regresso à atividade presencial, “a manutenção prévia de uma rotina semelhante durante o período de teletrabal­ho facilita a reintegraç­ão laboral presencial”, garante Alexandre Amaral e Silva, que aconselha que planifique antecipada­mente o seu regresso, “para uma transição adaptada às condições pessoais e familiares de cada um também contribui para uma transição mais suave e eficaz evitando potenciais focos de stress que perturbem o equilíbrio individual.

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