GUIA ESSENCIAL PARA UM CÉREBRO EM FORMA
Treinar o seu cérebro para uma melhor performance pode ser mais simples do que pensa – dizemos-lhe como.
POLUIÇÃO, USO CONSTANTE DE ECRÃS , dias altamente agitados e sem pausas, ansiedade pela pandemia em que ainda vivemos, adaptação aos novos métodos de trabalho, seja em teletrabalho ou mesmo no regresso ao escritório… Caro leitor: não queremos que se foque no lado mais negativo da realidade atual, mas que o atual cenário é propício ao stress, é. “A avalanche de estímulos e informações provenientes de ecrãs de telemóveis, televisões, computadores portáteis e tablets, aliados a um ritmo de vida acelerado em que tudo é ‘para ontem’ contribui para um foco deficiente” começa por apontar Alexandre Amaral e Silva, neurologista no Hospital CUF Tejo. “Ao considerarmos poluição cerebral tudo o que se encontra desajustado à pessoa e ao contexto que a envolve, seja por excesso ou carência acentuada, é um tema que tem sido de certa forma desprezado e que tem um custo muito alto para a nossa existência. Será que o cérebro e a mente estão preparados e conseguem processar todos os estímulos a que estamos sujeitos no nosso dia-a-dia?”, questiona Cristina Pires, psicóloga com consultório homónimo especializada em psicologia clínica e da saúde. A ameaça é real, e parece que nem nas férias de verão nos conseguimos desligar dos problemas. Ou quiçá até o tentamos fazer, mas nem sempre pelos meios mais indicados. Um recente estudo americano, desenvolvido por uma neurologista do Centro de Memória e Envelhecimento de São Francisco, alega que são cada vez mais aqueles que procuram medicamentos para melhorar a memória e saúde cerebral, o que aflige especialistas da área da neurologia. O certo é que, em alternativa a tais medicamentos, existem soluções bem mais simples, apoiadas pela ciência e baseadas na prevenção, para ajudar a melhorar a sua performance cerebral (sem ter de magoar a carteira com mil e um medicamentos ‘milagrosos’). O propósito deste artigo é justamente o de elucidar sobre tais alternativas de forma bem descomplicada. Apostamos que já põe em prática certas medidas.
POTENCIE A SUA MEMÓRIA
TODOS QUEREMOS UM CÉREBRO SAUDÁVEL , importa é saber como lá chegar. Mas será que devemos preocuparmo-nos especificamente com este que é o principal órgão do nosso sistema nervoso ou um estilo de vida saudável, à partida, será suficiente para garantia um cérebro saudável e protegido? A resposta do neurologista Alexandre Amaral e Silva apoia a ideia de medicina preventiva ao afirmar que “a adotação de um estilo de vida saudável é um pilar fundamental
da estratégia de promoção ativa de um cérebro saudável”. Algo que deve ser uma preocupação de todos, mantida ao longo de toda a vida.
Para tal, o neurologista da CUF partilha algumas medidas que podem contribuir para um cérebro saudável e ativo, nomeadamente seguir uma dieta equilibrada, evitar álcool, tabaco e outros tóxicos, manter um sono de qualidade ou praticar exercício físico aeróbico regularmente (no mínimo, 30 minutos de intensidade ligeira a moderada dia sim, dia não). Bastante simples, não é? Tais pilares são, de facto, a base para uma saúde melhorada a vários níveis. A par disso, também aspetos como manter uma visa social ativa, garantir uma boa saúde emocional e até sair pontualmente da rotina pode ajudar a um cérebro mais saudável.
Como medida algo mais específica, ainda que não seja um cuidado exclusivo para o cérebro, Alexandre Amaral e Silva aconselha a que se controle os fatores de risco vascular como hipertensão, diabetes ou hipercolesterolemia”.
PROTEJA A SAÚDE CEREBRAL
AINDA QUE UM ESTILO DE VIDA saudável seja a base de um cérebro protegido, há cuidados a considerar para melhor proteger este órgão. Cristina Pires, que é também psicóloga nas Residências Montepio de Entrecampos, Lisboa, sugere a que se desenvolva “uma espécie de filtro, que qualifique e selecione a informação” recebida. “Partindo do princípio de que o cérebro é um grande condensador, o bombardeio constante de estímulos externos com a tecnologia digital, que não para de evoluir e acelerar, inevitavelmente pode levar a um estado que chamamos de hiperatividade cerebral.
Já no mundo mental, onde os pensamentos habitam, sentimentos dão vida e ações constroem o nosso quotidiano. Somos o fruto do que pensamos, sentimos e fazemos. O acanhoar de notícias negativas, distorcidas e alarmantes vai alimentando as pessoas e interferindo diretamente no seu humor, na sua ansiedade, no seu relacionamento com os outros”, realça a psicóloga entrevistada pela Men’s Health que refere que a solução pode passar pelo tal filtro, que mais não é do que “a nossa capacidade crítica”, com que podemos “consultar a informação com mais benefícios do que consequências nefastas”, esclarece e salienta que, para tal, “é necessário não perdermos hábitos de vida que promovem o nosso autocuidado e que nos dão significado de vida, como por exemplo a leitura, viajar, investir nas relações interpessoais que nos satisfazem, podendo assim desenvolver uma inteligência mais profunda e tornar esse filtro cada vez mais eficaz”. “A RIQUEZA DA DIETA MEDITERRÂNEA CONTRIBUI PARA A PRESERVAÇÃO DAS FUNÇÕES COGNITIVAS, NOMEADAMENTE DA MEMÓRIA”
CUIDE DO SEU CÉREBRO
…SEM RECORRER A MEDICAÇÃO. Parece o caminho mais fácil: um suplemento para maior concentração, para quem leva um estilo de vida demasiado agitado ou para estudantes em fase de avaliações. Mas será esta a solução?
Como nos diz Alexandre Amaral e Silva, “as evidências científicas que demonstram o efeito terapêutico da maioria destes agentes são escassas. Na maioria dos casos, os medicamentos e suplementos indicados como tendo um potencial efeito na melhoria do desempenho cerebral têm, quando muito, ligeiros efeitos em algumas dimensões cognitivas como a atenção e concentração. Não obstante estes efeitos limitados e pouco sustentados, alguns destes compostos, nomeadamente os suplementos vitamínicos, podem ter particular interesse e eficácia em casos de carências nutricionais/alimentares, situações de má-absorção intestinal ou em contexto de outras doenças que possam contribuir para o compromisso do desempenho cognitivo”, explica.
Em vez da medicação – ou, em alguns casos, como complemento à mesma – voltemos à ideia de estilo de vida saudável. “Parece-me que o foco para manter um cérebro saudável está em manter uma vida ativa, mexermo-nos durante o dia. Por vezes basta vir para a rua. Precisamos de ter relações sociais. O convívio é essencial, se não convivermos, caímos nas nossas convicções. E isso faz com que, a certa altura, sejamos completamente egocêntricos e crentes numa verdade que é apenas nossa. Enquanto formos capazes de conviver com os outros e discutir as coisas, conseguimos manter a vitalidade. Diria que esse é ponto mais importante: manter a relação humana, propriamente dita. Essa relação tem o olhar das pessoas, as expressões, e as emoções”, salienta Cristina Pires, que acrescenta que também “a música é extremamente importante para uma aproximação de funções do cérebro, para fazer um processamento paralelo de informação. Se juntarmos o convívio, o toque, o movimento e a música surge a dança, uma atividade bastante completa – a coreografia dos movimentos, a harmonia dos sons e ritmos, o toque, a ligação entre os elementos, enfim, a reciprocidade na entrega ao outro”.
FOQUE-SE NO TRABALHO
ENTÃO E NO TRABALHO? Sabemos que o stress, poluição e efeitos nocivos dos ecrãs estão em ‘todo o lado’. Mas, neste artigo, achamos importante focar também casos mais específicos, nomeadamente o stress ou ansiedade relacionados com o trabalho.
Mesmo que, em pleno agosto, esteja a ler este artigo nas suas – bem merecidas – férias, o certo é que muitos portugueses ficaram cerca de um ano em teletrabalho, alguns ainda trabalham neste registo e nem sempre é fácil garantir o mesmo foco laboral quando estamos no conforto de casa.
“Apesar de ser o ‘nosso’ espaço, a nossa casa não está, na maioria dos casos, preparada para nos proporcionar o melhor ambiente para trabalhar”, garante o neurologista entrevistado pela MH. “Um espaço físico desadequado, distração fácil pela presença de outros elementos do agregado familiar no domicílio ou acumulação simultânea de tarefas extralaborais são exemplos de importantes constrangimentos”, enumera. A melhor forma de garantir um teletrabalho verdadeiramente eficaz passa por simples estratégias espaciais como “garantir um espaço calmo e tranquilo, dotado dos recursos técnicos e materiais adequados e “evitar a ‘contaminação’ do horário laboral por tarefas extralaborais, evitando as distrações” como tarefas domésticas ou interação dos filhos)”, diz o neurologista. Além disso, deve garantir que mantem uma comunicação fluida e regular com os colegas de trabalho, para evitar um ambiente muito solitário e a privação dos contatos interpessoais a que estava anteriormente habituado.
Se, por outro lado, já está de regresso à atividade presencial, “a manutenção prévia de uma rotina semelhante durante o período de teletrabalho facilita a reintegração laboral presencial”, garante Alexandre Amaral e Silva, que aconselha que planifique antecipadamente o seu regresso, “para uma transição adaptada às condições pessoais e familiares de cada um também contribui para uma transição mais suave e eficaz evitando potenciais focos de stress que perturbem o equilíbrio individual.