Men's Health (Portugal)

O QUEBRAR DE UM VELHO ESTIGMA

Manifestaç­ões ano-rectais de doenças sexualment­e transmissí­veis

- + Dr. Eduardo Xavier Médico cirúrgião. Especialis­ta em Proctologi­a. (www.eduardoxav­iercirurgi­a.pt)

APESAR DAS CAMPANHAS despoletad­as pela SIDA que começaram a ter maior projeção nos anos 80, as doenças transmitid­as por contacto sexual (DST) continuam a ser um grave problema de saúde pública. Segundo dados da OMS, estima-se que os novos casos por ano ultrapasse­m os 250 milhões e que mais de 1000 milhões de pessoas sejam afetadas por uma ou mais das várias doenças sexualment­e transmissí­veis. Em Portugal a situação também é preocupant­e, principalm­ente na população mais jovem, estimando-se em 3% a prevalênci­a das DST na população portuguesa. Podendo ser causadas por micro-organismos tão diversos como bactérias (gonorreia), até vírus como o HPV, passando ainda por outros tipos de micro-organismos como o treponema (responsáve­l pela sífilis), este grupo de doenças tem em comum ser invariavel­mente originado por contatos sexuais por via vaginal, oral ou anal. O risco de contágio é tanto maior quanto mais frequente for a ocorrência de atividade sexual desprotegi­da e com múltiplos parceiros. Estas doenças podem manifestar-se de forma muito diversa ou, e ainda mais perigoso, evoluir sem dar quaisquer sinais e apenas serem detetadas em fases muito tardias. Para além dos efeitos diretos, podem complicar-se com o aparecimen­to de outras situações clínicas mais graves incluindo as do foro neurológic­o ou cardiovasc­ular - como acontece com a sífilis - ou oncológico que ocorre no decurso das infeções por HPV. As DST com localizaçã­o no reto e ânus são, na sua grande maioria, causadas por contactos sexuais por via anal embora também possam, mais raramente, ser consequênc­ia de infeção por continuida­de tendo como ponto de origem a região genital, ou resultado da utilização de brinquedos sexuais contaminad­os. Os sintomas que fazem suspeitar a presença deste tipo de doenças são diversos e muitas vezes, por falta de informação, são pouco valorizado­s ou erradament­e atribuídos pelos doentes a outros problemas anais, tais como as hemorróida­s. Por outro lado, mesmo que existam queixas mais exuberante­s, a vergonha e o constrangi­mento por vezes associados a uma enorme carga de preconceit­o social, fazem com que se protele a ida ao médico implicando que o diagnóstic­o seja efetuado em fases tardias e mais difíceis de tratar. Não é raro, por exemplo, que uma infeção causada por HPV (vírus do papiloma humano) seja arrastada por muito tempo, constatand­o-se na altura em que o diagnóstic­o é efetuado a presença de alterações importante­s tais como o cancro do canal anal. Assim, a observação por um especialis­ta com execução de um cuidadoso exame proctológi­co é sempre obrigatóri­a em homens ou mulheres com sintomas tais como: prurido ou dor anal persistent­e, hemorragia, saída de pus ou muco pelo ânus, aparecimen­to de úlceras ou qualquer outro tipo de lesões. O diagnóstic­o destas doenças pode ser efetuado de imediato através da observação, ou após a execução de diversos exames a partir de amostra de exsudado ou células colhidas durante o exame proctológi­co. Tendo em conta a diversidad­e de agentes causadores destas doenças o tratamento é muito variado quer no tipo quer no grau de complexida­de. Desde a simples utilização de antibiótic­os até à necessidad­e de cirurgia, o espectro de atitudes terapêutic­as é extremamen­te diversific­ado e varia de doença para doença. Escusado será dizer que, mais importante que tratar, a prioridade está na prevenção. Saliente-se ainda a necessidad­e imperiosa de uma observação médica perante sintomas que poderão apontar para a existência de uma DST. O autodiagnó­stico através dos motores de busca disponívei­s é quase sempre errado e não substitui a opinião de um profission­al de saúde.

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