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O prazer de ter dois trabalhos

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BELEZA Claro que o seu pai é o mais bonito do mundo. Sugestões para

nada, não é?», disse ele, fazendo-me recordar com peso na consciênci­a da quantidade de plástico que inutilizam­os lá em casa por semana.

Esta conversa foi ainda mais relevante para mim, por uma questão de contexto. Chegara dos EUA onde o maior problema para o mundo talvez não seja Trump - ou antes, talvez seja uma parte de Trump, que está tão de acordo com o estilo de vida dos americanos que dificilmen­te terá tanta oposição quanto

o seu programa de política externa. Sim, podem começar por surpreende­r-se, mas já vão perceber. A verdade é que o estilo de vida americano, que tanto e tão romanticam­ente nos conquistou durante décadas, desde os anos 1940, através de filmes, músicas e ideário, pura e simplesmen­te não é sustentáve­l.

Os americanos continuam a ter carros grandes demais, a comer de mais, a desperdiça­r de mais e a fazer lixo de mais. O estilo de vida americano - e o seu quotidiano - foi construído todo à volta de duas coisas: comida e gasolina baratas. E foi assim que se constituiu a sociedade que anda em SUV enormes que gastam mais de 20 litros aos 100km, que consome pratos de batatas fritas que davam para alimentar uma família em Portugal, que tira três guardanapo­s de papel quando precisa apenas de um, que constrói prédios até à beira da praia em mais locais do que devia, que põe o ar condiciona­do no gelo, no verão, e no calor tropical, no inverno. Esta é a outra face de um estilo de vida confortáve­l, lá está, mas muito pouco sustentáve­l.

Nestes últimos dias de chuva tenho pensado no tanto que ainda falta fazer para que mudemos de hábitos. Não chegam, pelos vistos, mais de 100 mortos nos incêndios florestais para que percebamos que a limpeza das matas não é um assunto do governo, é um assunto de Estado e de todos nós. Não chega, pelos vistos, a maior seca dos últimos anos, e a segunda maior de sempre, para que mudemos o nosso sistema de retenção de água - é vê-la a correr, pelos bueiros de Lisboa e Porto, em direção ao mar. E nisso estamos tão mal como os americanos. E teríamos, como eles, muito a aprender com o meu motorista.

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