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FERNANDO RIBEIRO

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Texto Ana Patrícia Cardoso

Sara Matos/Global Imagens

«Amanhã (domingo) vamos à Feira de Antiguidad­es, não vamos, Fausto? É a nossa cena», diz Fernando Ribeiro, vocalista dos Moonspell, ao despedir-se do filho de 6 anos para fazer o sound check antes do concerto nas Caldas da Rainha. O pequeno circula pelo palco, cumpriment­a toda a gente, é uma das mascotes desta banda que já conta com mais de 25 anos de música. O vocalista é um pai babado. «Olho para o Fausto e vejo o melhor de mim e da Sónia. Ele é o nosso best-of.»

Casado há dez anos com Sónia Tavares, voz dos The Gift, a paternidad­e chegou-lhe no momento certo. Com 38 anos, já tinha quilómetro­s de estrada e estava preparado para assumir a responsabi­lidade. Ter encontrado

o par ideal ajudou. «Sempre quis ser pai. Agora percebo que estava à espera da mulher certa. E encontrei.» Com uma vida dedicada à carreira musical, Fernando perdeu o egoísmo. «De repente, tens um filho e já não vives para ti. Era muito centrado nas minhas cenas, nos Moonspell, nas viagens que queria fazer. Isso acabou.»

Em casa de músicos os horários não são convencion­ais. Com uma agenda de concertos preenchida um pouco por todo o mundo, a família começa a lidar com a distância. «Estivemos agora cinquenta dias fora, em tournée por toda a Europa. Não foi fácil. Foi a primeira vez que o Fausto sentiu saudades.»

A banda atravessa um momento diferente, os mem- bros constituír­am família e isso levou-os a fazer escolhas. «Fomos convidados para fazer 78 datas. Fizemos 50 e voltámos para casa. Funciona melhor assim.» Mas há momentos inevitávei­s. «No outro dia, o meu filho agarrou-se à mãe a chorar. Vê-lo chorar assim é tão difícil para um vocalista de uma banda de heavy metal como para outra pessoa qualquer», diz.

Apesar de não ter um emprego com horário fixo, Fernando não se considera diferente de outros pais. «Quando estou em casa, estou com ele. Seja o tempo que for, é para ele. Não vou para o computador ou para a Netflix. Passamos horas a brincar. Isso é importante e acho que ele também dá valor.»

Fausto sempre esteve em ambientes de espetáculo e circula entre a equipa com a segurança de quem pertence ali. «Posso não estar sempre, mas ele também passa por coisas que os outros meninos nem sonham. Daqui a pouco, vai estar ali na bateria a tocar em pleno palco. Também é porreiro, não acham?»

O tempo livre é passado em família. «Eu e a Sónia não temos nada aquela coisa do ‘precisamos de tempo para nós’. Nunca fomos assim, gostamos de estar todos juntos.» Na escola de Fausto, Fernando já tem um clube de fãs. «Quando vou buscá-lo, os miúdos começam a fazer os gestos das guitarras elétricas. É muito bom.»

Dos pais, Fausto herdou a teimosia. «Mas atenção que é um teimoso inteligent­e, sabe levar a dele avante. Pode ser uma boa caracterís­tica no futuro.» Futuro em que ainda não pensa muito. «Não gostamos de pensar nisso porque tudo pode acontecer. O facto de termos sido pais mais tarde, termos feito o nosso cresciment­o em bandas – um caminho que nos era improvável – faz-nos acreditar que tudo é possível», diz.

Demasiado pequeno para compreende­r tudo à sua volta, Fausto já começa a ter algumas experiênci­as marcantes e o pai não é superprote­tor. «Tivemos uma gatinha que foi o Fausto que escolheu e que morreu. Foi a primeira vez que contactou com a morte. Expliquei-lhe que também faz parte da vida e não podemos evitá-la. Quero sobretudo que o meu filho tenha valores e saiba escolher. Saber escolher é o mais importante. E esse é o caminho dele.»

Apesar de ter sido criado na Brandoa, onde teve uma «infância feliz», Fernando decidiu mudar-se para Alcobaça, a cidade de Sónia, onde Fausto pode ter um cresciment­o «mais tranquilo. Pode ir a pé para a escola, daqui a um tempo. Temos outra qualidade de vida».

Sem planos para ter mais filhos, «todo o tempo e amor» são dedicados a Fausto. E ele sabe.

«No outro dia, numa sessão de autógrafos, perguntou se também tinha fãs. Disse-lhe que tinha os dois maiores fãs do mundo, o pai e a mãe. Ficou todo contente».

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