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MÁRIO CORDEIRO

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Mário Cordeiro é um nome conhecido na pediatria há mais de sessenta anos. Herdou do pai o nome, a profissão e o reconhecim­ento. Aos 62 anos, o pediatra, autor de mais de 30 livros (não só de medicina mas também de romances e poesia), é também pai de cinco filhos.

Orgulha-se de tudo o que conquistou e sobretudo da tribo que o rodeia. A sua história enquanto pai cruza-se com a que viveu enquanto filho. Foi o mais novo de oito irmãos, tem 14 anos de diferença para o irmão mais velho, que é seu padrinho. O seu filho mais velho, Pedro, de 39 anos, tem 25 anos de diferença para os gémeos José Maria e Tomás, de 14. Tem mais dois filhos, Filipa (37) e Eduardo (15). Tal como na sua infância no Restelo, a família é grande e unida.

Ser pai aos 23 anos e novamente aos 46 foram experiênci­as distintas com aspetos positivos e negativos. Mário não acredita nas expressões «demasiado cedo» ou «demasiado tarde». «Isso é relativo porque os tempos eram outros, no final dos anos 1970. A diferença mais relevante é que quando se é mais novo tem-se maior capacidade física e resistênci­a, mas também se está no início de vida e de carreira; por outro lado, mais tarde tem-se mais maturidade, mais experiênci­a da vida, e porventura está-se numa fase mais estável do percurso profission­al, relativiza­ndo-se mais as coisas.»

Por ver os dois lados, rejeita a expressão de «pai-avô» que tanta gente teima em lhe atribuir. «Pai é pai, avô é avô. Não confundamo­s coisas e acho que talvez os pais mais velhos se caracteriz­em por perder o medo de amar e de dizer que amam e aprendam também que, para lá

do amor parental, há que cuidar do amor conjugal, que é uma coisa completame­nte diferente, mas igualmente necessária.»

O pediatra sempre colocou a família em primeiro lugar e, apesar do sucesso profission­al, o tempo ensinou-lhe a «dizer "não" ao carreirism­o». Ressalva, no entanto, que o equilíbrio é o mais importante porque «há muitos casais que, ao nascerem os filhos, deixam esmorecer a sua relação, tornando-se «pai» e «mãe» do Manel ou da Maria. A vida faz-se de uma boa gestão do quotidiano. É importante perceber que os filhos, apesar de dependente­s dos pais durante um determinad­o período, são, acima de tudo, seres com uma vida própria e essa liberdade precisa de ser preservada. «Não somos donos dos nossos filhos, somos gestores do seu percurso de vida e, mesmo assim, te-

mos de aceitar a sua vontade à medida que crescem.»

Recebe todos os dias pais no seu consultóri­o com diferentes dúvidas e medos. Considera normal mas também é

o resultado de haver muita informação. «O "doutor Google" e a "doutora internet" são muito úteis para muitas coisas mas podem ser terríveis, sobretudo certos "blogues de mães" e afins. Um dos problemas mais mencionado­s a partir dos 8-10 anos é a dependênci­a dos ecrãs, jogos, etc... E a ausência de leitura, o que me faz muita pena.»

Considera-se um pai presente «mas isso tem de perguntar a eles». O tempo é dividido entre saídas culturais, noites de filmes em família ou idas ao futebol, já que o Benfica é outra das suas paixões. Gosta de reunir toda a gente «mas sem obrigatori­edade», respeitand­o sobretudo os mais velhos, que já têm as suas famílias (tem cinco netos). «Acho horrível os pais que continuam pela vida fora a controlar os movimentos dos filhos ou a opinar constantem­ente.»

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