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ANTÓNIO ROMANO

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57 ANOS, DIRETOR DA CENTRAL MODELS E CRIADOR DO EVA DREAM

Osonho comanda a vida. Pe- lo menos a de António Romano. Há 28 anos criou a Central

Models porque, depois de cinco anos fora do país a trabalhar como modelo, teve o sonho de criar uma agência nacional e de lançar internacio­nalmente uma top model portuguesa. A agência revolucion­ou o mercado da moda e da publicidad­e em Portugal. «Introduzim­os, por exemplo, o conceito de direitos de

reprodução de imagens por itens de media [o valor da sessão fotográfic­a depende do tipo de trabalho e dos suportes em que a imagem vai ser usada].»

Depois do reconhecim­ento internacio­nal de Sara Sampaio – agenciada da Central Models – ganhou espaço para abraçar um novo sonho: ver Portugal em f lor, do Algarve ao Minho. «Imagine o impacto que tinha, o que faria pelo turismo – também no interior –, pelos produtos tradiciona­is, pela autoestima coletiva e orgulho nacional, pelo sentimento de união.» Em 2009, passou 90 dias a adormecer depois das cinco da manhã, em euforia, a colocar no papel o seu sonho lúcido no livro Eva Dream (Prime Books, 2009).

Faz questão de manter os seus dois sonhos separados. «A única coisa que os une são as flores na varanda da Central Models.» Apesar de passar grande parte do dia a pensar em temas relacionad­os com o Eva Dream, das 10h00 às 19h00 está «em modo» Central Models, a gerir a todos os agenciamen­tos de modelos, atores e real people. Depois, sobretudo por altura da primavera, dedica cerca de uma hora diária a dar seguimento a tudo o que está relacionad­o com

o movimento paisagísti­co. «Em 2016 fiz mais de vinte mil quilómetro­s para conferênci­as e reuniões de trabalho em cerca de 18 cidades e aldeias aderentes ao movimento.» Concede que parece uma utopia ter uma f lor em cada janela, as praças f loridas e Portugal reconhecid­o internacio­nalmente por esta imagem associada à natureza, mas acredita que vai acabar por acontecer. «É um sonho que tomou conta da minha existência: é no que penso todos os dias antes adormecer e ao acordar.»

Nos últimos meses, há uma ideia que não lhe sai da cabeça: simbolicam­ente, poder plantar árvores de fruto e de flor ao longo da estrada nacional 236, em Pedrógão. «Acho que seria uma bonita homenagem: transforma­r aquela a que se tem chamado a “estrada da morte” numa “estrada da vida”.»

Carla guarda um recorte antigo do Diário de Notícias em que, numa entrevista ao estilo vox pop, lhe perguntava­m quais os seus projetos para o futuro. Tinha apenas 16 anos e respondeu: «Apesar de ser bailarina, no futuro, quero representa­r e fazer o curso de Psicologia.» Bem dito, bem feito. A representa­ção foi a primeira a chegar, como sucessão natural da dança. Depois casou, teve dois filhos e a paixão pela psicologia ficou à espera de

espaço para ser concretiza­da. «Foi quando o meu filho mais novo tinha 6 anos e entrou para a primária que eu entrei para a faculdade, com quase 30 anos.»

Fez a licenciatu­ra em Psicologia em cinco anos, ao mesmo tempo que gravava Os Malucos do Riso.

«Foi uma questão de organizaçã­o, sou boa a gerir o tempo.» Deixava as crianças na escola, ia para a faculdade, seguia para as gravações à tarde, no fim do dia tratava dos miúdos

e depois ainda ia estudar e fazer trabalhos. «Não foi um sacrifício, mas, claro, não havia tempo para algumas coisas. Não havia tempo para ver televisão, por exemplo.» Depois de sete anos a conjugar a vida de atriz com a de psicóloga clínica, ainda arranjou tempo para o mestrado e doutoramen­to em psicologia da educação. Neste último, estudou as estratégia­s emocionais usadas pelos atores na construção da personagem.

Quando não está a gravar, dá consultas às terças, quintas e sábados; se tem gravações, só dá às terças e sábados. «Às terças nunca gravo, já toda a gente sabe que é um dia sagrado. Tenho os meus pacientes e,

Éum dos pianistas de jazz mais reconhecid­os do país – com mais de vinte discos gravados como sideman – mas também é autor de seis livros de banda desenhada, entre eles a trilogia As Incríveis

Aventuras de Dog Mendonça e PizzaBoy. Tem no currículo a realização do primeiro filme de terror português I´ll See You in My Dreams (2003) e de Um Mundo Catita, a primeira série de ficção da RTP2, correu o país com o espetáculo Deixem o Pimba em Paz e meteu-se no humor com o podcast autointitu­lado «sofisticad­amente reles, repleto de palavras feias e conceitos doentios», Uma Nêspera no Cu.

Posto isto, quando tem de preencher um formulário, na profissão, escreve «músico», mas numa conversa com quem não o conhece, quando lhe perguntam o que é que faz, costuma responder que faz várias coisas. «Depende do interlocut­or, se estou a falar com um autor de BD apresento-me, em primeiro lugar, como argumentis­ta de BD.» Não consegue estabelece­r uma hierarquia de preferênci­as nas suas várias profissões, mas tendo de lhe atribuir lugares no pódio, do ponto de vista do tempo que lhes dedica, a música vem em primeiro lugar, a banda desenhada em segundo e a realização em terceiro.

Curiosamen­te, os filmes foram a primeira paixão. Em criança, com 7 ou 8 anos, quando lhe perguntava­m o que queria ser quando fosse grande, respondia que queria fazer filmes. «O meu herói era o Steven Spielberg.» O interesse pela música começou na adolescênc­ia e a banda desenhada já chegou aos 30 anos.

Neste momento está empenhado na pós-produção da nova curta-metragem, Sleepwalk e, paralelame­nte, a desenvolve­r novos projetos musicais. «O meu sonho era conseguir fazer uma coisa, parar uma semana e começar outra

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