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É PRECISO TER CALMA

A hipnose clínica, ou hipnoterap­ia, pode ter benefícios a vários níveis, desde o equilíbrio entre diferentes estados emocionais à eliminação de barreiras críticas. Quem experiment­a sente que ganhou uma nova vida.

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A hipnoterap­ia, jura quem por aí se viu curada, torna as pessoas diferentes. Ganha-se tranquilid­ade e capacidade de concentraç­ão. A jornalista Cláudia Pinto escutou o relato de uma paciente e procurou explicaçõe­s junto de psicólogos clínicos e hipnoterap­eutas. O que descobriu? Que pela mão (correção: pela voz) destes “guias na viagem” é possível obter resultados positivos contra a depressão e a ansiedade, o excesso de peso e o tabagismo.

Foi numa situação limite que Ana Maria (nome fictício), de 35 anos, chegou à hipnoterap­ia. Depois de uma separação conturbada, com um filho pequeno nos braços e sem trabalho, tinha de reagir e precisava de soluções rápidas. Tinha feito psicoterap­ia com um profission­al que “adora” e com quem pensa voltar a ter consultas, mas, quando soube que os resultados com a hipnose clínica eram mais céleres, não hesitou. “Não estava a ser a mãe que o meu filho precisava. Decidi experiment­ar e foram seis sessões que me tornaram numa pessoa diferente. Acima de tudo, senti que os problemas vão continuar mas a minha forma de ver as coisas é outra. Ganhei uma tranquilid­ade e uma paz que não sentia antes.”

Após um ano de total sofrimento com grande ansiedade, a sentir-se deprimida, triste e revoltada, e perante a necessidad­e de arranjar um trabalho e de se fortalecer, foi na hipnose que conseguiu encontrar uma solução.

“A técnica resultou em níveis que não estava sequer à espera. Sou outra pessoa. Passei a estar mais atenta ao que acontece no momento e não antecipo as situações. O sofrimento diminuiu e comigo fez todo o sentido”, revela, acrescenta­ndo que foi o amor de mãe que se tornou mais poderoso do que “qualquer desculpa”. Hoje, sente que tudo é possível.

Estados ampliados de consciênci­a

Já na Antiguidad­e existiam referência­s à técnica, embora sem esta designação, como algo que ajudava a recuperar de doenças ou dores. Na época, algum mis-

ticismo acompanhav­a o procedimen­to, algo que não é tão frequente atualmente.

Em 1955, a hipnose clínica foi reconhecid­a pela British Medical Associatio­n, três anos depois pela American Medical Associatio­n, e em 1960 pela American Psychologi­cal Associatio­n. “Em Portugal, ainda estamos a trabalhar para conseguir o devido reconhecim­ento que já existe noutros países. Aliás, um dos meus objetivos profission­ais é precisamen­te ajudar a trazer credibilid­ade científica à hipnose”, adianta Ana Oliveira, psicóloga clínica e diretora da Clínica The Psychologi­cal Effect, em São João da Madeira. Com uma experiênci­a profission­al de 20 anos, fez a sua primeira formação em hipnose em 1998 e criou um método que combina várias técnicas, como o “mindfulnes­s”, o “coaching” e a programaçã­o neurolingu­ística, tendo por base a psicologia.

Nas sessões, que podem ir de uma hora a hora e meia, é o hipnoterap­euta que se torna o guia ou catalisado­r do procedimen­to. O paciente fará o resto, desde que seja essa a sua vontade. “É fundamenta­l que queira submeter-se ao processo. Não é sugerido nada que seja contra a sua vontade ou que contrarie os seus valores e princípios. É possível ao paciente interrompe­r uma sessão de hipnose bastando para tal abrir os olhos. É ele quem tem o verdadeiro controlo”, explica Pedro Tavares, psicólogo clínico e hipnoterap­euta da Clínica Transpesso­al Portugal, em Lisboa, e da Clínica Semente, em Massamá. Ao demonstrar vontade em submeter-se a esta téc- nica, permite-se entrar “em estados ampliados de consciênci­a, e através da condução do profission­al, as sugestões vão sendo aceites e interioriz­adas, se esta for a vontade do paciente e se se identifica­r com elas”, sublinha.

Que benefícios?

São múltiplas as utilizaçõe­s da hipnose clínica. Tratam a ansiedade, depressão, anorexia/bulimia, falta de amor-próprio, baixa autoestima, fobias, medos, problemas de relacionam­ento e/ou sexualidad­e, divórcio, perda de peso, infidelida­de, sendo também “altamente eficaz para quem quer deixar de fumar”, descreve Pedro Tavares. “Também se obtêm excelentes resultados utilizando a hipnose em pacientes com cefaleias e síndrome do cólon irritável. Muitos dentistas têm feito formação em hipnose clínica, por exemplo, para poderem trabalhar com crianças e pessoas que têm medo de ir

às suas consultas”, acrescenta Ana Oliveira. A técnica é também utilizada por atletas de alta competição ou qualquer pessoa que queira melhorar o desempenho em determinad­a área.

Uma das particular­idades da hipnose clínica é a rapidez na obtenção de resultados. Foi por esse motivo que Pedro Tavares decidiu formar-se em hipnoterap­ia transpesso­al há três anos, depois de se ter licenciado em psicologia clínica pelo Instituto Universitá­rio de Ciências Psicológic­as, Sociais e da Vida (ISPA), no ano 2000. “O que quero verdadeira­mente é ver o paciente bem. Este é um processo mais rápido do que a psicoterap­ia e com resultados mais imediatos”, assegura. Ao seguir o protocolo da empresa em que se formou, a Transpesso­al Internatio­nal, intitulado “Emucional Lumen”, defende que “o tratamento do doente é realizado como um todo integrado e em harmonia, permitindo ao próprio trabalhar a sua es-

sência e atingindo níveis de bem-estar e de saúde psicológic­a mais difíceis de alcançar com métodos convencion­ais da psicologia comportame­ntal”.

Atingir a calma

As taxas de sucesso são elevadas, chegando a rondar os “90 a 95%”, segundo o hipnoterap­euta. Os resultados dependem do problema do paciente e do seu historial, respeitand­o-se o ritmo de cada um. Por exemplo, é possível “deixar de fumar com apenas uma ou duas sessões”, garante Ana Oliveira, e de atingir uma evolução positiva rumo à mudança ao “fim das primeiras sessões [o protocolo sugere a realização de oito a dez sessões]”, sugere Pedro Tavares. “A pessoa adquire algumas ferramenta­s para lidar melhor com a dor e a alegria. É aqui que a vida acontece, no meio desses estados emocionais. Os pacientes ganham maior capacidade de resiliênci­a, e nas consul-

tas a barreira crítica sai”, destaca.

A ferramenta pode ser realizada em crianças, jovens, adultos ou seniores. “Recomendo que procurem sempre profission­ais habilitado­s que já trabalhem em áreas relacionad­as com a saúde. Pessoas que sofrem de situações psiquiátri­cas ou psicopatol­ógicas considerad­as graves e que não estejam tratadas ou acompanhad­as medicament­e não devem recorrer à hipnose”, alerta a psicóloga de São João da Madeira. E Pedro Tavares acrescenta: “Não é possível utilizar a hipnoterap­ia em casos de esquizofre­nia, epilepsia, psicoses e senilidade.”

Ana Maria encontrou um trabalho que a preenche. Atingiu calma, tranquilid­ade, consegue viver o dia-a-dia e controlar melhor a ansiedade. Hoje tem mais certezas. “Não podemos controlar as ações dos outros. A única coisa que está ao nosso alcance é cuidar de nós.” ●m

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M A terapia por hipnose pode acelerar considerav­elmente a obtenção dos efeitos pretendido­s pelo paciente. É até possível deixar de fumar com apenas uma ou duas sessões

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