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Theresa May Líder do reino desunido
O Brexit continua a provocar crises políticas em Londres e a testar a liderança de Theresa May. Descrita pelos adversários políticos como uma “mulher difícil”, não se espere que quebre ou desista.
Tempos conturbados para Theresa May. Horas depois da demissão de David Davis, o ministro britânico responsável pelas negociações do Brexit, também Boris Johnson sai do Governo em desacordo com os planos de May. Enquanto milhares se manifestam em Londres pedindo um segundo referendo sobre a saída do Reino Unido da União Europeia (UE), no executivo o braço-de-ferro é entre a linha dura protagonizada pelos demissionários e a saída “soft” da UE, proposta pela primeira-ministra.
“Uma mulher difícil”, na definição de o ex-ministro Kenneth Clarke, descrição com a qual May tende a concordar. Uma política rigorosa, conhecedora dos dossiês, com tendência para trabalhar sozinha, apoiada em equipas pequenas, escolhidas a dedo.
O sonho de entrar na política e chegar a um cargo importante, a imagem cultivada enquanto Secretária de Estado para os Assuntos Internos (2010–2016) e o feitio “imperturbável” terão feito dela a pessoa certa no momento certo, já que as consequências do voto para deixar a UE esmagaram possíveis rivais.
Filha única de um vigário da Igreja da Inglaterra, Theresa nasceu em Eastbourne (Sussex), mas foi criada em Oxfordshire. Amigos lembram-se da jovem Theresa Brasier a trabalhar na padaria aos sábados para ganhar algum dinheiro, consciente, desde os 12 anos, da ambição de ser alguém na política. A morte do pai num acidente de carro seguida, meses depois, da morte da mãe foram factos que aproximaram ainda mais Theresa, então com 25 anos, de Philip, o marido, dois anos mais novo. Apresentados por Benazir Bhutto, contemporânea dos tempos de estudante, conheceram-se em Oxford, onde May estudou Geografia no St. Hugh’s College, e casaram em 1980.
Theresa May, que começou por trabalhar no Banco de Inglaterra, rapidamente ingressou na política, tornando-se a segunda mulher a liderar a Grã-Bretanha (depois de Margaret Thatcher), num dos momentos mais turbulentos da recente história política.
Pouco dada a seguir modelos, sem heróis, conhecido o seu parco sentido de humor, detesta exibir fragilidades. “Era alguém que nunca adoecia e por isso ficou bastante irritada por se sentir vulnerável”, revelou um assessor quando lhe foi diagnosticada diabetes tipo 1.
A atual crise política pode dar origem a uma moção de censura interna à primeira-ministra. Uma mulher que, dizem, não dá o flanco. Ou, nas palavras de Nick Clegg, ex-vice-primeiro-ministro e líder do Partido Liberal Democrata entre 2007 e 2015 que manteve com May confrontos duros, “uma donzela de gelo sem conversa fiada”. ●m