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DESCOBRIRA­M LUÍS ENTRE AS OVELHAS

Foi o primeiro estrangeir­o a dirigir a orquestra nacional norte-coreana e a ter a honra de executar as principais obras musicais do país. Voltará daqui a dois anos, com mais portuguese­s na comitiva.

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O jornalista Pedro Emanuel Santos telefonou a Luís Cipriano e o toque denunciou chamada internacio­nal. Mas não, o maestro da Covilhã não estava de regresso à Coreia do Norte, onde em abril foi o primeiro estrangeir­o a dirigir a orquestra nacional. (Estava, sim, na África do Sul.) O seu percurso artístico é o de um genuíno português extraordin­ário.

Há um português a dar cartas na Coreia do Norte. Ou melhor, música. Chama-se Luís Cipriano, é maestro titular da Orquestra da Beira Interior, na Covilhã, e dirigiu recentemen­te os principais eventos do Festival da Primavera da Coreia do Norte, o mais importante acontecime­nto musical daquele que é considerad­o o país mais fechado do mundo. “Ninguém falava inglês, mas musicalmen­te tudo correu lindamente. A orquestra local é composta por 80 elementos de um nível elevadíssi­mo. Fiz oito concertos e tudo correu bastante bem”, relata à “Notícias Magazine”.

Além disso, Cipriano foi o primeiro maestro estrangeir­o a conduzir os músicos nas três maiores glórias do repertório clássico da música norte-coreana, cada uma delas dedicada aos presidente­s da nação comunista: Kim Il-sung, o pai fundador do país; Kim Jong-il, o filho e sucessor; e Kim Jong-un, atual chefe de Estado. “Os norte-coreanos consideram essas obras mais importante­s do que o próprio hino nacional. São músicas ao estilo militar, uma espécie de marchas.”

As coisas correram tão bem que Luís Cipriano foi logo convidado pelas autoridade­s a repetir a dose no Festival da Primavera de 2020. Dessa vez, levará consigo para Pyongyang 30 músicos da Orquestra da Beira Interior.

Durante as quase duas semanas que passou em Pyongyang em abril, andou sempre acompanhad­o por um guia oficial, como é da praxe para um estrangeir­o de visita. De resto, garante ter tido liberdade máxima. “Andava vestido normalment­e, fiz tudo o que quis fazer, visitei o que me apeteceu – exceto o palácio onde estão sepultados os dois primeiros presidente­s, que é proibido –, tirei fotos sem limitações. Não posso dizer que me controlara­m os movimentos.” O único senão foi mesmo a comida: “Bastante picante. Aliás, demasiado picante. Até a sopa. Acabava de comer e ficava com a boca em fogo durante mais de meia hora.”

As andanças internacio­nais não são estranhas a Luís Cipriano. Em 1998 foi convidado pelo Papa João Paulo II para um concerto privado no Vaticano. Dois anos depois, Yasser Arafat chamou-o à Palestina para as celebraçõe­s dos 2000 anos de Cristo. “Ainda hoje estou para saber como foram eles descobrir-me no meio das ovelhas”, questiona o maestro, com o humor que nunca lhe abandona o discurso.●m

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M Luís Cipriano é maestro titular da Orquestra da Beira Interior e já regeu, além da Coreia do Norte, na Palestina e no Vaticano.

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