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Todos temos pé de chinelo
Pobres ou ricos, políticos ou pescadores, não há quem não tenha um par. Uma invenção remota que continua a dar muito jeito nos tempos modernos.
Os chinelos são velhos. Inventaram-nos há milhares de anos. Mas não foi só uma pessoa ou cultura. Foram várias e tomaram diversas formas de acordo com as necessidades. Por isso, estão representados nas pinturas egípcias, nos murais romanos, nos ladrilhos gregos. Andaram nos pés do povo africano Masai, então em couro cru. E, posteriormente, também foram trabalhados em madeira, na Índia. Das folhas de papiro e palmeira no Egipto à palha de arroz no Japão, do sisal na América do Sul à iúca no México, os chinelos serviam fundamentalmente para proteger os pés de solos agrestes e escaldantes. Mas também para permitir que a pele bronzeasse. Além disso, as mulheres passaram a adornar com joias, e de forma visível, mais uma parte do corpo.
Porém, os chinelos só se generalizaram após a Segunda Guerra Mundial. Quando os soldados americanos regressaram a casa traziam nas malas as “geta” e os “zoris” nipónicos. Depois, foi uma questão de os havaianos os adaptarem à dieta de sol e praia e, pronto, a moda pegou. Mas ainda não era para todos os bolsos. Há 56 anos, um visionário apaixonou-se pelo calçado raso e começou a produzi-lo em massa e a baixo custo no Brasil. Inicialmente, eram feitos com palhas de arroz ou madeira lascada. Só mais tarde surgiram os modelos em borracha. Eis as Havaianas. A mensagem espalhou-se e as vendas dispararam. Era o chinelo dos que ganhavam pouco. Mas não seria para sempre.
Quando o calçado começou a ter cores mais atrativas e solas mais elevadas o preço aumentou e o público-alvo diversificou-se. Em pouco tempo, o mundo começou a perceber que andar com os dedos dos pés ao léu não era só coisa de pobre ou de maltrapilho. Figuras conhecidas fotografadas com chinelos, no dia-a-dia ou em biquínis reduzidos, deram uma grande ajuda. Hoje não há quem não tenha um ou mais pares.
Com ou sem logótipo de uma marca conhecida, os chinelos fazem-nos sentir descontraídos, práticos e frescos. E, ao contrário de outras eras, já podemos andar com eles em diversos contextos, que não o doméstico, sem sermos olhados como os loucos que trouxeram o pijama para a rua. Quando o “chic” encontrou o “casual”, todas as combinações passaram a ser possíveis. Agora, o chinelo até pode definir uma atitude e um modo de estar na vida.
E estamos na época do ano em que os tiramos do armário. O verão, que quase sempre significa férias, faz com que seja a melhor altura para lhes dar quilómetros. Não é difícil vê-los por aí. Na praia, no campo, em casa, na piscina, nas ruas da cidade. Usados tanto pelos pescadores anónimos quanto pelos políticos mais conhecidos. Ninguém fica mal com chinelos nos pés. E, salvaguardando os devidos hábitos e gostos, que bem que sabe. ●