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Celeste Rodrigues Uma vida de missão
Ajudar quem mais precisava era tudo o que queria. E aquilo que sonhou em criança tornou-se realidade. Maria Celeste Rodrigues, missionária comboniana, dedicou a sua vida “a um povo muito especial”.
É portuguesa, mas há muitos anos decidiu “entregar” o coração a África, o continente onde as pessoas “são um amor puro, cheio de vida e com muita luz”. Maria Celeste Rodrigues, 72 anos, era “ainda uma menina” quando, ao ouvir os adultos comentarem as trágicas notícias da grande rebelião do Congo, sentiu que “tinha que ir para lá”. Mais do que um desejo, era uma missão. E transformou-se num projeto de vida. “Primeiro, estive com os pigmeus, uma tribo que vive na floresta à custa da caça e da pesca”, conta a missionária comboniana, lembrando “o afeto e o carinho daquela gente”. Nessa altura, o objetivo era construir “uma escola para integrar os mais pequenos na sociedade”, mas as dificuldades foram muitas, principalmente nos primeiros tempos. “Era tudo estranho e eles demoraram a interagir connosco, mas assim que perceberam que só queríamos ajudar passaram a fazer uma festa de cada vez que nos viam”, recorda a irmã, que por motivos de saúde regressou a Portugal há uns meses. Daquele tempo, as recordações são “muitas e muito fortes”. Por isso, “o objetivo é
voltar para aquela terra e para aquele povo”. E continuar a lutar para que todos encarem África como algo “muito especial, que tem na sua gente a sua maior riqueza”. Ao longo de quase quatro décadas de missão, muitos foram os momentos “fortes”, que se viveram. E hoje, passados 20 anos, “há uma me
nina” que guardará sempre no coração. “A história da nossa Maria marcou-me muito”, começa por dizer, repetindo de forma carinhosa a palavra “nossa” sempre que se refere à menina que ajudou a crescer. E, ao olhar para a fotografia das duas, completa: “Era uma bebé muito pequenina, que ficou desprotegida e só com os cuidados da avó, mas nós conseguimos ajudar a construir uma casinha melhor para as duas.” Quando mudavam de missão, as missionárias combonianas sabiam que era altura de trocar, também, de companheiras. “Mas isso nunca foi um problema.” Até porque “o amor partilhado por África” era sempre um bonito ponto de partida para qualquer conversa. E mesmo falando línguas diferentes conseguiam, em conjunto, “fazer muito com o pouco” que tinham. E a recompensa era sempre “poder ouvir e partilhar tudo com pessoas tão simples e carinhosas”. Mesmo que para isso fosse preciso percorrer muitos quilómetros. Essa era, aliás, a força de quem ainda hoje repete que “África merece saber que é digna e que tem muito valor”. ●m