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“Estar vivo é uma vitória”
O estado de espírito de muitos dos que sobreviveram à tragédia na aldeia balnear de Mati, a 29 quilómetros de Atenas, é uma mistura de choque com o alívio de ainda estar cá para contar. Mesmo num momento destes, os habitantes que se encontram e se abordam são inesperadamente prestáveis e afáveis – mesmo aqueles que viram casas e haveres destruídos num ápice pelas chamas. Ouve-se: “Estar vivo é uma vitória.” Ouve-se: “Mau, mau era ter morrido. O resto constrói-se.”
Entra-se em Mati por uma via larga, paralela à avenida costeira, uns 700 metros afastada do mar, e logo aí se depara com uma imensidão de matéria queimada. Mati, que no verão se compõe com uma mistura de turistas e idosos acompanhados dos netos, é um ponto na dezena de quilómetros de costa destruídos por um fogo que semeou a morte, sobretudo na segunda-feira 23. Uma localidade modesta que se viu de súbito repleta de voluntários para tudo, até para esmiuçar destroços que vêm dando à costa na esperança de se encontrarem objetos que ajudem a identificar corpos carbonizados.
E depois há as dicotomias inseparáveis da espécie humana: de um lado os voluntários, incluindo veterinários que dão comida e prestam assistência aos animais que vão encontrando; do outro, as pilhagens, os camiões que irrompem pela noite para açambarcar tudo o que for possível, a coberto do caos momentâneo. Uma situação que obriga a polícia a vigiar e a fechar algumas ruas da localidade.
Hotéis abriram portas para acolher quem fugia do incêndio. Um desses estabelecimentos pertence a George Pappas (um herói? sim) e chama-se Cabo Verde. Em Mati, entre o fumo da morte, Cabo Verde foi um Cabo da Boa Esperança.