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Nada é estático, tudo se questiona
Um recente estudo coordenado por Luís Arnaut, investigador universitário de Coimbra, deita por terra a teoria do cientista Rudolph Marcus, prémio Nobel da Química em 1992, sobre a transferência de eletrões em reações químicas. Este é apenas um exemplo que
Luís Arnaut pode respirar de alívio, depois de mais de duas décadas a investigar a teoria de Marcus. Tudo começou com um ponto de interrogação: e se a chave para a transferência de eletrões estiver nos reagentes? 25 anos depois comprova-se que sim. Foi um português, Formosinho Simões, que questionou o Prémio Nobel e iniciou o que a equipa de Luís Arnaut viria a concluir: a anulação da teoria de Marcus, batizada com o nome do seu mentor, o canadiano Rudolph Marcus. Ainda assim, Arnaut reconhece o “contributo formidável para o avanço da ciência” que, na sua época, Marcus ofereceu.
Para contrariar um Prémio Nobel foi preciso coragem e muito empenho de uma equipa multidisciplinar da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. O artigo publicado na “Nature Communications” tem apenas quatro autores: Kamila Mentel, Arménio Serra, Paulo Abreu e Luís Arnaut.
COMO SE PROVOU QUE MARCUS ESTAVA ERRADO
A teoria de Marcus diz que, num processo em que uma molécula (ou ião) transfere um eletrão para outra molécula, o solvente que rodeia essas moléculas dá o contributo mais importante para a barreira de energia que condiciona a velocidade da transferência do eletrão.
O cientista Formosinho Simões explorou a possibilidade de o solvente (mais longe do eletrão que é transferido) poder ter mais influência sobre a velocidade de transferência de eletrão do que a própria molécula onde o eletrão se situava inicialmente.
TEORIAS CIENTÍFICAS QUE CAÍRAM POR TERRA
Já ouviste falar de Galileu, não? O geocentrismo foi a teoria cosmológica dominante no mundo até que em 1600, muito graças ao telescópio, Galileu mostrou que os planetas orbitavam à volta do Sol e não
o contrário.
A teoria do flogisto, que previa a existência de um elemento chamado flogisto que se libertava na combustão ou oxidação de materiais, foi verdade até que Lavoisier, em 1780, descobriu o papel do oxigénio nessas reações.
Mais uma: a teoria do éter, ou seja, o meio pelo qual as coisas, objetos, eram gravitacionais. Assim se defendeu até que o génio Albert Einstein, em 1905, formulou a teoria da relatividade e deitou por água abaixo a teoria anterior. Quem não se lembra do desenho nos livros de Estudo do Meio em que Einstein está debaixo de uma macieira e leva com uma maçã na cabeça, apenas para comprovar a sua teoria?
Último exemplo: o cientista britânico Rayleigh usou argumentos da Física clássica para estabelecer uma lei sobre a intensidade da radiação de um “corpo negro” a uma dada temperatura em função do comprimento de onda. Isto foi invalidado mais tarde, porque se demonstrou estar em total desacordo com medições feitas para comprimentos de onda curtos. O responsável por esta reviravolta na ciência? O físico alemão Planck.