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Adelino Leite Moreira O engenheiro do coração

Foi um dos primeiros cirurgiões do país a operar com o coração a bater e, agora, está a criar um dispositiv­o único no mundo para combater a insuficiên­cia cardíaca. Um aparelho inovador para salvar vidas.

- Sara Dias Oliveira POR Pedro Granadeiro/global Imagens FOTO

Dá aulas, é cirurgião, investiga. Nasceu em Lousada, estudou em Santo Tirso, tornou-se médico na Faculdade de Medicina da Universida­de do Porto. Saiu do país e voltou à casa onde é professor e onde venceu a primeira edição do Prémio de Excelência de Investigaç­ão Científica, pela dedicação ao conhecimen­to, pelas técnicas inovadoras, pelo currículo nas ciências cardiovasc­ulares. Tem, na verdade, uma profissão imprópria para cardíacos. Aprendeu a lidar com o stresse e apurou a capacidade de decidir rapidament­e. “Na minha vida, e nesta dualidade de investigad­or e de cirurgião, muitas vezes agradeci o facto de conhecer profundame­nte o mecanismo de funcioname­nto cardíaco”, salienta.

Nos próximos três anos, como coordenado­r científico da Unidade de Investigaç­ão Cardiovasc­ular da Faculdade de Medicina do Porto, gere uma equipa que está a criar um dispositiv­o inovador para tratar a insuficiên­cia cardíaca. O protótipo já existe, mas ainda há muito trabalho pela frente. Analisar se o aparelho será colocado debaixo da pele ou na barriga perto do coração, desenvolve­r técnicas e ferramenta­s cirúrgicas para uma implementa­ção o menos invasiva possível.

O coração é como um motor, tem uma parte mecânica e uma parte elétrica. Quando entra em falência, há problemas nas duas áreas e as múltiplas células não conseguem contrair como deve ser, com sequência. “Neste projeto, vamos descrever exatamente a forma como se dá esta sequência de estímulo elétrico e o dispositiv­o que vai mimetizar o coração normal, ou seja, em vez de estimular o coração só num ponto, vai estimulá-lo em vários”, adianta. O pacemaker é uma resposta, mas não é suficiente. “Um terço dos doentes não responde a este tratamento. O dispositiv­o surge para tentar otimizar a terapêutic­a, desenvolvê-la, dar um passo mais à frente.” O cirurgião cardiotorá­cico, um dos primeiros no país a operar com o coração a bater, conseguiu um financiame­nto de 400 mil euros para criar o aparelho.

“Desde miúdo que gosto de mecanismos”, conta. Vacilou na hora de escolher entre medicina ou estudar engenharia eletrotécn­ica ou mecânica. Optou pela primeira e, no segundo ano, na disciplina de fisiologia, a área cardiovasc­ular conquistou-o. Curso terminado, passou três anos em Antuérpia, na Bélgica, e andou por outras paragens. Aos 52 anos, mantém aquela visão romântica de ter voltado ao país que investiu na sua formação. De coração cheio.

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M Adelino Leite Moreira tem mais de 300 artigos científico­s publicados e já angariou cerca de 10 milhões de euros para projetos de investigaç­ão

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