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A LIBERDADE CRIATIVA DE COLECIONAR ÁRVORES EM VASO

João Paulo Meneses, jornalista e professor, cultiva bonsais há 20 anos. Em casa tem macieiras, oliveiras, sobreiros, pinheiros, num total de 50 exemplares a que se dedica para “fazer experiênci­as e ser criativo”.

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A rádio foi o seu primeiro grande amor, mas numa viagem a Singapura João Paulo Meneses ficou fascinado com um jardim de bonsais. Saiu de lá com um livro para se documentar sobre a técnica que designa o cultivo de árvores em miniatura e, nos últimos 20 anos, passou a ter de dividir as atenções. “Tem de haver uma procura de proporcion­alidade entre a dimensão da árvore e o tamanho do vaso”, começa por dizer.

O jornalista da TSF faz bonsais a partir de sementes e raízes de árvores ou arbustos que traz da natureza. “São árvores normais, o desafio é mantê-las dentro de um vaso”, nota. O terraço de sua casa em Vila do Conde bem podia ser uma floresta em ponto pequeno, tal é a diversidad­e de espécies presentes no mesmo espaço. De árvores de fruto como maciei- ras, oliveiras e figueiras, a espécies que abundam em Portugal como o sobreiro ou o pinheiro-bravo, passando por plantas como o alecrim, há um pouco de tudo. “As pessoas vêm cá a casa e comem figos destas figueiras”, conta.

João Paulo Meneses olha os seus 50 bonsais como projetos em que pode dar azo à criativida­de. Para isso, tenta fugir ao modelo de “bonsai a imitar as árvores da natureza, onde crescem na vertical. Tento fazer novos desenhos e formas para que haja uma certa harmonia”, confessa o bonsaísta.

O tempo é um fator essencial para que os bonsais vinguem. “Há que ter uma perspetiva oriental”, segundo João Paulo Meneses. “Se 20 anos parecem muito, para uma árvore não são nada.” Para conseguir trabalhar a téc- nica são precisos cinco ou seis anos, e dez para ver resultados.

Os bonsais “não têm caprichos”, mas é necessário regar e adubar quatro a seis vezes por ano. Para manter as árvores pequenas e saudáveis, o segredo está na poda, que deve ser superior e inferior. “Cortam-se as raízes como se corta cabelo e volta-se a pôr o bonsai dentro de um vaso.” As podas da primavera começam em fevereiro e exigem várias horas de trabalho para desfazer as raízes e voltar a envasar as árvores, mas no resto do ano meia hora chega – trata-se apenas de “regar e ir observando”.

Autodidata que aprende por tentativa e erro, João Paulo Meneses não se interessa por provas. “É c omo levar um gato ou um cão a um concurso: há procedimen­tos e estilos convencion­ais.” Em vez disso, pega em 20 ou 30 exemplares e faz exposições e workshops onde responde a perguntas e desconstró­i mitos como o dos bonsais de interior. “Não há árvores de interior. Eles estão uns dias aqui [na marquise] e depois precisam de estar na natureza”, esclarece.

De acordo com o jornalista, “70% dos bonsais oferecidos morrem” porque os clientes não têm informação sobre as necessidad­es das plantas quando as compram. Além de sofrerem o choque da mudança de ambiente do viveiro para a nova casa, é preciso mudar as raízes, alimentá-las e adubá-las. “Uma vez uma senhora disse-me, ‘Isto dá mais trabalho que o meu filho’”, recorda, entre risos. “Bem vistas as coisas, não é só pôr água.” Já está a ser pensada uma exposição para 2019.

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Esta zelkova integra a meia centena de bonsais da coleção de João Paulo Meneses

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