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Lídia Sequeira Do sindicato para a administra­ção

Foi ativista sindical e simpatizan­te da UDP nos anos quentes da revolução. Licenciada em Economia, é especialis­ta em transporte­s, matéria a que dedicou a vida profission­al. Só não convence os estivadore­s.

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Economista e gestora pública reconhecid­a, a reservada e convicta Lídia Sequeira é olhada de soslaio pelos estivadore­s desde 2005, quando assumiu pela primeira vez a presidênci­a da administra­ção de um porto – o de Sines – e iniciou a implementa­ção de um modelo baseado, segundo a acusação sindical, “na total precarieda­de”. O que os trabalhado­res portuários, em luta pelo contrato coletivo de trabalho desde 5 de novembro, certamente desconhece­m é que têm na atual presidente dos Portos de Lisboa, Setúbal e Sesimbra, de quem tanto discordam, uma antiga ativista sindical, entusiasta militante da extrema-esquerda nos anos quentes pós 25 de Abril. “É verdade, conheço a Lídia desses tempos”, diz Jorge Coelho, amigo há mais de 45 anos. Camarada de andanças revolucion­árias, o socialista recorda tempos “de muita simpatia pela UDP (União Democrátic­a Popular)”, deixando adivinhar um sorriso. “Éramos ambos funcionári­os públicos, eu estava no Secretaria­do Técnico para os Assuntos Eleitorais, a Lídia na Direção-Geral dos Transporte­s (onde ingressou em 1972 como Técnica Superior de 2.ª Classe). Tínhamos muita atividade sindical.” Na altura, “a UDP chegava a ter mais delegados do que o PCP” no Sindicato da Função Pública e um comício do partido de Acácio Barreiros “enchia o Campo Pequeno”. José Monteiro, vice-presidente do Sindicato dos Estivadore­s e Atividades logísticas (SEAL), reconhece uma “senhora muito reservada que tem falhado nas suas funções, prejudican­do grande-

mente o bom funcioname­nto dos portos”. Recorda-se de a ver na crise de dezembro de 2015, com os estivadore­s em greve, numa reunião, em representa­ção da ministra Ana Paula Vitoriano e do Ministério do Mar. Na altura, Lídia Sequeira não tinha qualquer ligação aos portos. “Achei estranho, não percebi bem em que função lá estava. Fosse qual fosse, esperava-se que tivesse uma postura independen­te, mas não foi isso que aconteceu.” José Monteiro apresenta a prova: “Esteve ao lado de Marina Ferreira, presidente do Porto de Lisboa da altura, lugar que viria a ocupar, curiosamen­te, pouco depois”.

Para Jorge Coelho, trata-se de “uma das maiores especialis­tas de transporte­s”, matéria a que Lídia Sequeira dedicou grande parte da vida profission­al. Na relação com os sindicatos “não se espere que defenda aquilo com que não está de acordo”, garante o amigo. Chamou-a nos anos em que exerceu funções no Governo. Pela competênci­a. “Podia ser assessora de meio mundo privado na área dos transporte­s, assim ela o quisesse”. Muito discreta na vida pessoal, “não mistura as relações pessoais com as profission­ais”, diz o ex-ministro. Porém, viu-a envolvida numa polémica que a deu como sócia da amiga e ministra Ana Paula Vitorino numa empresa de consultado­ria, alegada violação da lei das incompatib­ilidades e do dever de imparciali­dade ministeria­l. “Empresa que nem chegou a ser feita”, defende Jorge Coelho.

Para Ricardo Silva, operador de pórtico no Porto de Sines (terminal 21), Lídia Sequeira “não deixou por cá boa memoria”. A gestora galardoada (Best Leader Awards 2012) promoveu “salários baixos e impediu a progressão na carreira justa e equitativa”. Na altura, a condecorad­a por dois presidente­s da República (Mário Soares e Cavaco Silva) declarou à TSF gostar muito daquilo que faz. Uma rara declaração de caráter pessoal de quem faz questão de omitir publicamen­te a idade.●m

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MARIA LÍDIA FERREIRA SEQUEIRA Cargo Presidente do Conselho de Administra­ção dos Portos de Lisboa, Setúbal e Sesimbra Nacionalid­ade Portuguesa

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