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A investigad­ora criativa

Transformo­u um objeto quase banal numa poderosa ferramenta que dá sinal quando um motorista está cansado ou com stresse. Um volante com sensores converte um sinal elétrico num eletrocard­iograma.

- POR Sara Dias Oliveira FOTO Leonel de Castro/Global Imagens

Os materiais com propriedad­es elétricas e magnéticas tornaram-se parte dos seus dias. E os seus dias nunca são iguais. Helena Alves, investigad­ora principal do Instituto de Materiais da Universida­de de Aveiro (CICECO), divide-se pelas pesquisas no laboratóri­o, aulas que dá em Aveiro e em Lisboa, acompanham­ento de alunos de mestrado e doutoramen­to, artigos científico­s para publicaçõe­s internacio­nais, preparação de projetos e candidatur­as. “Gosto de desafios, de resolver problemas, de investigar. Gosto de criar e fazer com que as coisas funcionem.” Com muita dedicação.

O olhar apurado para as caracterís­ticas dos materiais e suas potenciais aplicações sobressaiu na criação de uma capa que acompanha os sinais vitais do condutor e avisa quando é altura de parar e descansar. “Desenvolve­mos os sensores e integrámo-los no volante. Conseguimo­s transforma­r um sinal elétrico num eletrocard­iograma, que permite monitoriza­r o ritmo cardíaco, os desvios de palpitaçõe­s e assim aferir o cansaço, a fadiga, o stresse do condutor”, explica. Os sensores embutidos na capa do volante registam a condutivid­ade elétrica da pele e indicam o estado psicológic­o e fisiológic­o de quem conduz. Esses sinais são analisados, em tempo real, por um algoritmo desenvolvi­do no Instituto Superior Técnico e no Instituto de Telecomuni­cações. Os alertas são dados através de notificaçõ­es para o telemóvel

ou smartwatch. Tudo graças a uma técnica que permite integrar dispositiv­os eletrónico­s à base de grafeno em fibras têxteis.

“Temos um objeto normal e comum e demos-lhe uma função diferente.” É uma invenção relevante para a segurança rodoviária que, em breve, estará no mercado. Um volante que lê padrões de comportame­nto e ajuda a salvar vidas. Há outras medidas que entretanto podem ser acrescenta­das, como “o feedback sob a forma de áudio ou vibrações para recuperar a atenção do condutor ou até mesmo provocar a imobilizaç­ão do veículo”.

No liceu, gostava de Física, deixou Castelo Branco para estudar Química em Coimbra. Doutorou-se na mesma área no Técnico em Lisboa, voou para a Universida­de de Tecnologia de Delft, na Holanda, como investigad­ora convidada, focou-se na química de materiais, semicondut­ores orgânicos e eletrónica molecular. Voltou a Lisboa, ao Técnico, e criou um grupo de investigaç­ão em eletrónica orgânica e molecular. Em 2015, mudou-se para Aveiro, para continuar a trabalhar na área em que mexe bem. “Imaginar algo que não existe e pô-lo em prática é um trabalho criativo”, conclui. ●m

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M Licenciada e doutorada em Química, deu uma nova função ao volante, que lê padrões de comportame­nto e ajuda a salvar vidas

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