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A investigadora criativa
Transformou um objeto quase banal numa poderosa ferramenta que dá sinal quando um motorista está cansado ou com stresse. Um volante com sensores converte um sinal elétrico num eletrocardiograma.
Os materiais com propriedades elétricas e magnéticas tornaram-se parte dos seus dias. E os seus dias nunca são iguais. Helena Alves, investigadora principal do Instituto de Materiais da Universidade de Aveiro (CICECO), divide-se pelas pesquisas no laboratório, aulas que dá em Aveiro e em Lisboa, acompanhamento de alunos de mestrado e doutoramento, artigos científicos para publicações internacionais, preparação de projetos e candidaturas. “Gosto de desafios, de resolver problemas, de investigar. Gosto de criar e fazer com que as coisas funcionem.” Com muita dedicação.
O olhar apurado para as características dos materiais e suas potenciais aplicações sobressaiu na criação de uma capa que acompanha os sinais vitais do condutor e avisa quando é altura de parar e descansar. “Desenvolvemos os sensores e integrámo-los no volante. Conseguimos transformar um sinal elétrico num eletrocardiograma, que permite monitorizar o ritmo cardíaco, os desvios de palpitações e assim aferir o cansaço, a fadiga, o stresse do condutor”, explica. Os sensores embutidos na capa do volante registam a condutividade elétrica da pele e indicam o estado psicológico e fisiológico de quem conduz. Esses sinais são analisados, em tempo real, por um algoritmo desenvolvido no Instituto Superior Técnico e no Instituto de Telecomunicações. Os alertas são dados através de notificações para o telemóvel
ou smartwatch. Tudo graças a uma técnica que permite integrar dispositivos eletrónicos à base de grafeno em fibras têxteis.
“Temos um objeto normal e comum e demos-lhe uma função diferente.” É uma invenção relevante para a segurança rodoviária que, em breve, estará no mercado. Um volante que lê padrões de comportamento e ajuda a salvar vidas. Há outras medidas que entretanto podem ser acrescentadas, como “o feedback sob a forma de áudio ou vibrações para recuperar a atenção do condutor ou até mesmo provocar a imobilização do veículo”.
No liceu, gostava de Física, deixou Castelo Branco para estudar Química em Coimbra. Doutorou-se na mesma área no Técnico em Lisboa, voou para a Universidade de Tecnologia de Delft, na Holanda, como investigadora convidada, focou-se na química de materiais, semicondutores orgânicos e eletrónica molecular. Voltou a Lisboa, ao Técnico, e criou um grupo de investigação em eletrónica orgânica e molecular. Em 2015, mudou-se para Aveiro, para continuar a trabalhar na área em que mexe bem. “Imaginar algo que não existe e pô-lo em prática é um trabalho criativo”, conclui. ●m