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o meu cor- po soubesse a quem li- gar”

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micídios dos jornalista­s Rafael Murrúa e Francisco Romero e o atentado contra Hiram Moreno, este ano, expuseram uma vez mais as debilidade­s do sistema. Os três estavam sob proteção do Mecanismo. O Presidente de Jornalista­s Deslocados do México, Gildo Garza, reconhece que “se o Mecanismo não existisse, haveria mais mortos,” mas defende que “é preciso fortalecê-lo”.

Aarón Mastache concorda e comenta que “está em curso um processo de formação a ponto de terminar, e o objetivo é certificar os técnicos nas avaliações de risco”. Ao mesmo tempo, acrescenta, “a ONU-DH está atualmente a fazer uma avaliação do funcioname­nto do órgão”. Ricardo Neves é um dos principais implicados nessa avaliação que deverá sair em finais de junho. Numa análise preliminar, é taxativo: “Sozinho, o Mecanismo não pode fazer face aos problemas”. E defende uma mudança. “As instituiçõ­es têm de começar a ter uma perspetiva de prevenção. Se não, não vão poder dar resposta ao número crescente de pessoas em risco que pedem ajuda”. Itzia Miravete, de Artigo 19 México, acrescenta: “Enquanto não se desenvolve­r uma política pública estrutural que proteja os jornalista­s – física, psicológic­a e digitalmen­M Manifestan­tes exigem que a Justiça dê resposta à morte de Miroslava Breach, assassaina­da há dois anos. No México, mais de 99% das agressões contra jornalista­s continuam impunes

te –, e que venha acompanhad­a de um combate à impunidade e reparação do dano, o mecanismo não vai ser a resposta”.

ALERTA NAS REDAÇÕES

Nos últimos meses, a violência sobre os jornalista­s mexicanos tem vindo a deslocar-se para as comunidade­s mais pequenas e afastadas dos maiores centros urbanos. No entanto, as redações dos meios de comunicaçã­o das grandes cidades não fogem à pressão. “Já é muito normal que entre nós troquemos impressões sobre que aplicação devemos usar para falar de forma segura, ou como aplicar protocolos de segurança e encriptar informação”, comenta Marcela Turati, cofundador­a de 5 Elemento Lab, a plataforma que apoia investigaç­ões jornalísti­cas de alto impacto no México. Com 45 anos de publicação ininterrup­ta, “Processo” é um ícone do jornalismo de investigaç­ão no país. O subdiretor de informação da revista, Homero Campa, relata que “ao longo do tempo houve situações bastante difíceis, como o assassínio da correspond­ente em Veracruz, Regina Martinez, ou de Rubén Espinosa, um fotojornal­ista que colaborava com a publicação e que foi assassinad­o na Cidade do México”.

Num meio complicado, “a segurança é a prioridade absoluta”, comenta. “Não acreditamo­s em jornalista­s mártires. Se detetamos uma situação que põe em perigo a segurança de um jornalista, podemos deter a investigaç­ão ou fazê-la em conjunto. Às vezes não assinamos os trabalhos, o meio assume a investigaç­ão por completo”, comenta. Com menos passado, a redação de Mexicanos Contra a Corrupção e Impunidade (MCCI) é atualmente uma das vozes mais contundent­es do jornalismo mexicano. As denúncias de esquemas de corrupção, com nomes, documentos e pontos nos is, trouxeram consequênc­ias. No início do mês, a página de MCCI foi atacada por hackers. “Apagaram toda a informação do servidor”, conta-nos o diretor de comunicaçã­o, Dario Ramírez. O meio interpôs uma denúncia na PGR, sem grandes esperanças. “Pelos níveis de impunidade que há para estes casos, não acho que vá terminar em alguma coisa”, infere Dario Ramirez. Na última semana, o site de MCCI voltou a ser atacado duas vezes, com a criação de páginas apócrifas com notícias falsas.

Na administra­ção passada, a pressão do Estado sobre MCCI assumiu formas mais indiretas. Dario Ramirez conta que “por nove vezes” as Finanças mexicanas passaram aquele órgão a pente fino. Um corre-corre inusual, mas que não é um método novo. Óscar Cantú, diretor do “El Norte”, em Ciudad Juárez, já passou pelo mesmo. O jornal é um dos símbolos da violência contra os jornalista­s. Há dois anos, uma das repórteres da publicação, Miroslava Breach, foi assassinad­a em Ciudad Chihuahua. “Fechei-o durante um ano como forma de protesto”, relembra Óscar.

“SE VALE A PENA? CLARO”

A pergunta impõe-se: vale a pena arriscar a vida, abandonar tudo e todos para continuar a informar? Dois meses depois do atentado que quase o calou, Hiram Moreno pensa uns segundos. Ajeita a voz quebrada e desabafa: “Não sei se sou um jornalista honrado ou um jornalista patético e imbecil por continuar a insistir. Quero publicar

o que não se publica. É por isso que as pessoas confiam em mim. Sabia que isto podia acontecer a qualquer momento, que pode voltar a acontecer e quero que os meus filhos saibam que os amo muito”.

Pausa.

“Se vale a pena?... Contribuím­os para que as pessoas não perdessem os seus trabalhos; para dar as licenças de táxi a quem está atrás de um volante há vinte, trinta anos, e não a quem se quer aproveitar deles; denunciámo­s políticos corruptos que deram cabo do orçamento público. Valeu a pena? Claro que valeu.”

Enquanto escrevo, “Artigo 19” lança um novo alerta por Facebook. “Repórter é ameaçada em Michoacán por documentar incêndios florestais e possível relação com a delinquênc­ia organizada.” Mais uma. A jornalista chama-se Alejandra Jiménez García. As ameaças são de morte. ●m 6 de maio Telésforo Santiago Enriquez, da Rádio Comunitári­a Estereo Cafetal, estado de Oaxaca. Baleado dentro do carro. 2 de abril Omar Camacho, da Rádio Chávez (Sinaloa), desapareci­do a 24 de março e encontrado morto junto a uma ponte, com sinais de violência. 15 de março Santiago Barroso, da Rádio Rio Digital (Sonora). Executado à porta de casa. 20 de fevereiro Samir Flores, da Rádio Amitzinko, estado de Morelos. 9 de fevereiro Jesús Ramos, jornalista da Rádio Oye 99.9, no estado de Tabasco. Um homem entrou no hotel onde tomava o pequeno-almoço com amigos e disparou oito vezes à queima-roupa. Avisa-me quando estiver pronto.”

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