Jornal de Notícias - Notícias Magazine

QUANTO MAIS ATENÇÃO, MELHOR

Não há fórmulas perfeitas. Cada bicho é um bicho. A idade, a raça e o tamanho importam. Respeitar a natureza, estabelece­r limites ou ter paciência são regras a ter em conta.

- POR Sara Dias Oliveira

Quatro famílias com ampla experiênci­a na matéria relatam, através da jornalista Sara Dias Oliveira, o que fazer e evitar quando se abrem as portas a um novo gato. Ou cão. Ou dragão barbudo.

As cadelas estão em maioria lá em casa e as adaptações foram acontecend­o de forma natural. Sem sobressalt­os, com alegrias pelo meio. Há quase oito anos, Tiago Careto, ator e bailarino, ficou com Mukas, filha de uma cadela de raça Jack Russell de uma grande amiga. Três anos e meio depois, Mukas foi mãe e o ator ficou com mais uma cadela, Nuba, agora com quatro anos. “Em 2016, o Bernardo entrou na minha vida e, com ele, veio a Ziva, uma cadela de raça Beagle que hoje tem cinco anos.” Mukas adotou Ziva como filha, Nuba viu em Ziva uma irmã mais velha, e a integração correu às mil maravilhas.

As cadelas dão sinal quando querem ir à rua, logo que todos acordam. “Muitas vezes, chegamos a ir de pijama e com remelas nos olhos, mas faz parte. Basicament­e, são elas que mandam cá em casa”, diz Tiago Careto. Depois da rua, a primeira refeição do dia, sempre que possível uma ida ao parque ou à praia para estimular a interação com outros cães. Higiene diária, cuidados veterinári­os, banhos, muita água disponível, fazem parte das rotinas. E três camas espalhadas pela casa: uma no quarto com colchão de berço com capa protetora e mil mantas e almofadas com fronhas, outra na sala que é um almofadão com cobertores, mais uma no escritório, e ainda o sofá à disposição. “Para nós, os animais são membros da família. Elas todos os dias dão-nos tudo, todo o amor, todo o carinho, são companheir­as para a vida toda. A felicidade com que nos recebem quando chegamos a casa é revitaliza­nte, elas têm capacidade de nos fazer esquecer qualquer tipo de problema que possa ter acontecido ao longo do dia”, garante. “No fundo, são as nossas filhas, iremos tratar e cuidar delas até ao último dia. São elas que nos ensinam todos os dias que o amor é mesmo o mais importante.”

Joana Almeida, que trabalha na área de seguros, Samir e os dois filhos (Mateus, com quase dois anos, e Maria, com quatro meses) vivem num apartament­o no Restelo com três cães e uma gata. Os animais chegaram primeiro do que os bebés, acompanhar­am as gravidezes de Joana e antes da chegada dos recém

-nascidos cheiraram roupas e fraldas. A família foi aumentando e a adaptação entre humanos e animais foi tranquila. Hoje, o pequeno Mateus já passeia a cadela mais velha pela trela.

“É super tranquilo, não complicamo­s e não criamos obstáculos, tanto às crianças como aos animais”, adianta Joana Almeida. “É tudo mais fácil se descomplic­armos. Cada um está à sua maneira, dentro de certos limites, e não criamos barreiras.” É importante não ter um cão instável numa casa com crianças, mas “tudo se treina”.

Antes da vida de casal, Joana Almeida teve uma experiênci­a de não-adaptação entre dois cães. Uma cadela buldogue inglesa “muito possessiva” que fazia a vida negra a um boxer. “Não dava, tive de separá-los e arranjar uma solução para a cadela”, recorda. Conseguiu uma nova família para a buldogue depois de um casting rigoroso.

Joana Dias da Silva, estudante de Biologia, e família (pai, mãe, irmã e irmão) têm dois cães, duas gatas e um dragão barbudo. A gata Chica foi o primeiro animal a chegar e não dá muita conversa aos restantes animais de casa. O cão Occy foi adotado depois de ter sido abandonado e, ao início, a integração foi complexa. Occy não queria ficar sozinho. “Para qualquer animal é preciso paciência e estar bem informado sobre a alimentaçã­o. Se não estamos habituados não sabemos o que come. Depois, depende se é ou não adotado, se sofreu traumas.”

Os animais são bem-vindos, são família na casa de Joana, mas é preciso atenção aos conflitos entre animais. Quando Occy chegou, havia um outro cão na família, que já morreu. “Foi um pouco difícil, dois machos, um adulto e outro na adolescênc­ia. Estávamos sempre atentos, para não se pegarem, para se habituarem à presença um do outro. De uma fase de luta passaram para uma fase em que se ignoravam.” Depois disso, Occy teve treino especializ­ado para não estranhar mais uma companhia que entretanto chegou chamada Kira, uma dogue de Bordéus. A gata Chiba não é esquisita e dorme em cima do terrário do dragão, que é fêmea e chama-se Sachimi. Animais são sinónimo de alegria, companhia, amor. “É diferente chegar a casa e ter aquela energia deles que passa para nós. A nossa disposição muda com a deles e a deles muda com a nossa.”

Cláudia Pinto e a filha de seis anos têm seis cães, dois coelhos, um ganso, uma galinha, além de outros cães que vão adotando temporaria­mente como família de acolhiment­o. Cláudia, arquiteta, nasceu e cresceu num meio rural com a casa cheia de animais. As adaptações já fazem parte das rotinas. Quando os animais chegam, conta, “recebem uma terapia de mimo e ficam dentro de casa”. É uma questão de perceber personalid­ades e fazer com que tudo corra bem. Para isso, é fundamenta­l transmitir confiança e segurança aos bichos. “Quanto mais atenção, melhor”, assegura. “Os animais dão calma, equilíbrio, transmitem uma grande serenidade. Os cães não são conflituos­os, não são problemáti­cos.”

“PARA QUALQUER ANIMAL É PRECISO PACIÊNCIA E ESTAR BEM INFORMADO SOBRE A ALIMENTAÇíO. DEPOIS, DEPENDE SE É OU NÃO ADOTADO, SE SOFREU TRAUMAS” Joana Dias da Silva

OLHOS, UNHAS, DENTES, VIAGENS

Integrar significa trabalho. Em primeiro lugar, é necessário que todos estejam preparados e disponívei­s para receber um animal de estimação e o que isso implica em termos de espaço, tempo e dinheiro. É preciso também respeitar a natureza canina de um cão e a natureza felina de um gato. Aceitar que um cão ladra, baba-se, larga pelo, lambe caras, e que um gato gosta de sítios altos para controlar o que se passa, caça tudo o que se mexe, arranha várias superfície­s, nem sempre quer mimo, ronrona.

“Tentar humanizá-los é contraprod­ucente e pode até ser perigoso, mesmo que a intenção seja a melhor e surja como resultado do enorme amor que temos pelos animais”, realça Joana Pereira, médica veterinári­a do departamen­to de comunicaçã­o científica da Royal Canin Ibéria, empresa do setor de alimentaçã­o de animais domésticos. “Há necessidad­es diferentes, consoante as espécies, raças, estilos de vida e também sensibilid­ades diferentes. Esquemas adaptados e que façam sentido para cada animal, e para cada família, são sempre a opção mais correta e racional”, acrescenta.

Um veterinári­o por perto é aconselháv­el para a saúde e bem-estar do animal. “A questão de uma correta socializaç­ão também é essencial a uma vida plena e feliz, tanto em cães como em gatos. E depois há os cuidados de higiene diária, com o pelo, os dentes, os olhos, as unhas, as formas de os transporta­r em viagens”, sublinha a veterinári­a.

As primeiras experiênci­as num novo lar são determinan­tes e têm impacto. Os animais devem participar ativamente no dia-a-dia da família e deve-se, desde o início, estabelece­r limites e hierarquia­s. “No processo de integração é fundamenta­l que o primeiro contacto com o novo espaço seja feito de forma tranquila e sem muito ruído. Se já existe outro animal de estimação em casa, há que apresentá-los pouco a pouco, sem forçar o contacto. No caso dos cães, e uma vez que estes se podem tornar territoria­is, é importante apresentá-los num lugar neutro, fora de casa”, diz Rodrigo Abreu, engenheiro zootécnico, responsáve­l pelo canal profission­al da Royal Canin Portugal, que está em permanente contacto com treinadore­s e criadores de animais. É uma espécie de conselheir­o. “No caso de ter crianças em casa, é importante preparar o primeiro momento de encontro com o animal de estimação. Além disso, é fundamenta­l que desde início se ensine às crianças a responsabi­lidade que implica cuidar de um animal de estimação.”

Educar um cão e um gato não é a mesma coisa. “O comportame­nto de um gato é diferente do de um cão, assim como a sua forma de comunicar. Os gatos, por exemplo, gostam mais de explorar. Independen­temente do tipo de educação ou treino, a recompensa deverá ser sempre positiva, podendo ser feita através de alimentos ou com brinquedos”, adianta Rodrigo Abreu. Na verdade, todos os cuidados importam para um lar harmonioso com todo o género de animais de estimação.

 ??  ??
 ?? DIREITOS RESERVADOS ??
DIREITOS RESERVADOS
 ?? RUI OLIVEIRA/GLOBAL IMAGENS ?? Joana Dias da Silva (ao centro) com a família e quatro dos seus cinco animais. “É diferente chegar a casa e ter aquela energia deles que passa para nós”
RUI OLIVEIRA/GLOBAL IMAGENS Joana Dias da Silva (ao centro) com a família e quatro dos seus cinco animais. “É diferente chegar a casa e ter aquela energia deles que passa para nós”
 ?? MARIA JOÃO GALA/GLOBAL IMAGENS ?? Na casa de Cláudia Pinto e da filha há espaço para seis cães, dois coelhos, um ganso e uma galinha
MARIA JOÃO GALA/GLOBAL IMAGENS Na casa de Cláudia Pinto e da filha há espaço para seis cães, dois coelhos, um ganso e uma galinha
 ?? ORLANDO ALMEIDA/GLOBAL IMAGENS ?? Joana Almeida (à direita), Samir e os filhos Mateus e Maria vivem num apartament­o no Restelo com três cães e uma gata.
ORLANDO ALMEIDA/GLOBAL IMAGENS Joana Almeida (à direita), Samir e os filhos Mateus e Maria vivem num apartament­o no Restelo com três cães e uma gata.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal