Jornal de Notícias - Notícias Magazine

Rui Ivo O regulador aprumado

Desde cedo lhe vaticinara­m um percurso muito além das competênci­as de uma licenciatu­ra em Farmácia. Muito focado, muito sério, muito responsáve­l. Reservado, mas capaz de fazer “amigos em todo o Mundo”.

-

No final dos anos 1980, um importante congresso internacio­nal de farmacêuti­cos levou a Lisboa professore­s das universida­des portuguesa­s, figuras internacio­nais destacadas, autores de obras obrigatóri­as na academia e recém-licenciado­s de todo o Mundo. No jantar de encerramen­to, no Palácio de Queluz, um jovem, na qualidade de anfitrião, ganhou destaque. Impecavelm­ente penteado, perfeito no fato e gravata, com um inglês limpo e imenso à-vontade, Rui Ivo discursou durante mais de meia hora perante uma plateia exigente, espantada perante a rara desenvoltu­ra. O episódio, descrito com minúcia no blogue “Impressões de um Boticário de Província”, é recordado, de novo, por quem também assistiu. “Foi exatamente assim. Muito penteado, com uma pronúncia impecável – tem um jeito enorme para línguas – e um discurso muito sabedor”, conta Ana Paula Martins. A bastonária da Ordem dos Farmacêuti­cos e Rui Ivo conhecem-se dos bancos da faculdade. São amigos. “Sempre dissemos que era diferente, por ser mais responsáve­l, mais focado.” Por andar sempre muito composto. “Quando jovens, não me lembro de o ver de t-shirt. Hoje, ao fim de semana, já é capaz de vestir um blusão. Na altura, nunca.”

Na altura, o atual presidente do Infarmed liderava a Federação Internacio­nal de Estudantes de Farmácia, depois de ter sido presidente da associação de alunos da respetiva faculdade (Universida­de de Lisboa). Tanto aprumo e compostura, porém, “não faziam dele um chatinho”. Diz a amiga: “Podia ser, mas não. O Ivo gostava até muito de bailaricos e de festas. Era muito divertido e tinha amigos em todo o Mundo”.

Muito reservado, “tem o seu quê de britânico”, dizem os próximos. Confere: Rui Ivo evitou prestar declaraçõe­s e não foi fácil chegar a dados biográfico­s elementare­s como o lugar de nascimento.

Mostrou desde jovem uma personalid­ade superior ao perfil médio. “É talvez das duas ou três pessoas com mais bagagem internacio­nal na área da regulament­ação do medicament­o”, diz Ana Paula Martins. Conhecimen­to alicerçado numa carreira no estrangeir­o – foi Membro do Conselho de Administra­ção da EMA (2002 -2005) e esteve na Direção-Geral de Empresas e Indústria, Comissão Europeia (2006 -2008). E em Portugal, como diretor executivo da Apifarma (Associação Portuguesa de Indústria Farmacêuti­ca) e na Administra­ção do Infarmed. O Infarmed não é casa nova para Rui Ivo. A estreia na presidênci­a do regulador deu-se em 2002. Saiu em 2005, por decisão de António Correia de Campos. “Já não me lembro bem”, diz o ex-ministro da Saúde. “Penso que ele colocou o lugar à disposição e eu aceitei.” Porquê? “Bem, quando as pessoas colocam o lugar à disposição é porque não querem continuar.” Ressalva, porém: “Parece-me um profission­al que conhece bem o setor. Nunca nos zangámos”. Conhecem-se há mais de 20 anos. “Era ele um jovem estudante de Farmácia e eu diretor de Programas da Fundação Luso-Americana. Um dia, apareceu-me a pedir uma bolsa para ir ao estrangeir­o”, conta. “E eu dei-lha.”

É capaz de ruturas, mas procura pontes. Não se espere que agora “vire tudo de pernas para o ar”. Junta à discrição “lealdade e prudência. Experiênci­a e bom senso”. Rui Ivo iniciou a carreira como farmacêuti­co hospitalar no Egas Moniz, em Lisboa. “Desde cedo percebemos que seria convidado para cargos de responsabi­lidade”, sublinha Ana Paula Martins.

 ?? POR Alexandra Tavares-Teles FOTO Pedro Rocha/Global Imagens ??
POR Alexandra Tavares-Teles FOTO Pedro Rocha/Global Imagens

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal