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A SUSTENTÁVEL BELEZA DA IDADE NAS REDES SOCIAIS
É gente experiente na vida e está aí para os “likes”, fotos e conselhos online. São os influenciadores da idade madura.
Quando Lili Caneças nasceu, à mãe pareceu-lhe ter ouvido uma gargalhada ao invés de um choro. “Nasci para ser protagonista.” Lili conta 75 anos e 35, 2 mil seguidores no Instagram. No Insta Direct recebe dezenas de mensagens por dia com pedidos de conselhos. Ou seja, Lili Caneças, que “está para lá de sénior”, é uma influencer. Dedica duas horas por dia a responder aos fãs. “Tenho meninas de 20 anos deprimidíssimas a perguntarem-me como é que faço com a minha idade para manter este sorriso.” Contactam ainda com pedidos de conselhos para as toilettes de ocasiões especiais. Lili diz que responde a todas e até está a pensar criar um canal no YouTube para o efeito. “É uma questão de inteligência usar as novas tecnologias e as redes sociais. Sou do século XXI. Hoje em dia quem está fora das redes sociais é analfabeto.” Lili adaptou-se e não gosta da expressão “no meu tempo”. À “Notícias Magazine”, vinca com clareza: “O meu tempo é agora, é hoje”. Longe vão os dias em que para entrar no Casino de Monte Carlo, no Mónaco, havia um código de glamour que não podia falhar. “As informações e os hábitos mudam. Hoje entram de bermudas e havaianas.” Lili Caneças pretende transmitir uma “mensagem pedagógica” a todos os que a seguem. Confessa que tem cuidados com a alimentação, que vai ao ginásio, e que tem uma missão: “Incentivar quem tem pavor da velhice”. O ideal, sublinha, “é pensar positivo”.
O verdadeiro artista dos emojis
Para Herman José, que já soprou 65 velas, “não faz sentido dividir os instagramers por gerações. Ou se produz conteúdos com interesse, ou não”. O humorista português usa e abusa dos emojis e das caras que aquela plataforma digital disponibiliza para vídeos de teor sobretudo cómico. O seu perfil no Instagram soma 221 mil seguidores, usa sempre um emoji como resposta (“não tenho tempo para mais”) e safa-se dos conselhos (“não dou nenhuns”).
Na sua opinião, o Instagram é “um excelente veículo de promoção de conteúdos artísticos e um fantástico passatempo”. Não se considera um influenciador, apenas um “bom comunicador”. Não obstante, sente-se responsabilizado porque tem “muito mais fãs militantes do que imaginava”. Se perspetivava há 20 anos que iria usar uma rede social como meio de trabalho e mobilizar corações e encher instantaneamente uma caixa de comentários, nem por isso: “Imaginava-me reformado a viver dos rendimentos”.
O despertar do ego
Ana Salazar, estilista portuguesa de renome internacional, recuperou recentemente a sua marca e poderá regressar à passarela em breve. Junta um número apreciável de seguidores no Instagram, por si gerido e com o qual pretende transmitir uma situação estética, ligada a uma imagem bonita. “Preocupo-me com a beleza.” Tal como Herman José, não se considera uma “influencer”, embora receba mensagens de seguidores que até nem conhece “pessoalmente”, pessoas “ligadas à maquilhagem, à moda, pessoas jovens ou clientes antigas” que lhe despertam o ego. Mensagens como “A Ana inspirou-me pelo seu trabalho”. A estilista admite ser “gratificante, porque significa que é trabalho feito e reconhecido”. Todavia, Ana Salazar chama a atenção para os “fake likes”. Explicação: “Também me apercebo que há a tendência para comprar ‘likes’ e, assim, ter milhares de seguidores. São influenciadores porque compram ‘likes’ para as suas propostas. Isto é uma situação ‘fake’”. Para ela, o Instagram “é mais importante do que um anúncio. Grandes marcas, criadores e etiquetas, ao serem influenciadores, criam um nicho de mercado. Acabam por marcar a tendência de uma forma fácil e simples”.
Não há dúvidas, na opinião da estilista, de que as redes sociais, para lá de divisões etárias, “são importantes, pois geram consumo”.
Calções, tops garridos, 90 anos
Do outro lado do Atlântico, nos Estados Unidos da América, não faltam influenciadores seniores, na faixa dos 70, 80 e até 90 anos. Quem entra no Instagram de @baddiewinkle começa por sentir o olhar invadido pelas tonalidades do arco-íris. Mas, logo de seguida, é o espanto que toma conta do visitante: esta mulher vestida de tops e calções, com múltiplas cores e os tons mais arrojados, tem 90 anos?
Baddie Winkle surge nas experiências mais improváveis: a saltar de um avião, a conduzir um topo de gama acompanhada de gente jovem e atraente. Ela contrasta com todas as imagens associadas a senhoras da sua idade, prostradas, de bengala. Baddie Winkle deixa-se fotografar em tops, em fato de banho, com maquilhagem carregada. Há imagens que documentam a sua festa dos 90 anos com um bolo imenso de três andares, redondo, a data a finalizar num arco-íris. Tem quase quatro milhões de seguidores e a frase chave no seu perfil é “stealing ur man since 1928” (“a roubar o seu homem desde 1928”). Accidental Icon é o nome no Instagram de Lyn Slater, uma nova-iorquina que não revela a idade. Tem uns respeitosos cabelos brancos, lisos, é magra e estilo não lhe falta, tudo embrulhado numa simplicidade exuberante, a que correspondem 664 mil seguidores pelo Mundo. Apresenta-se como uma influenciadora cultural, professora, criadora, consultora, oradora e modelo. À NM mostrou resistência em ser entrevistada. “Não gosto de segregar os seniores influenciadores no Instagram”, partilha. “Dou conselhos e mostro fotografias lindas porque sou modelo, adoro arte.” Ao Instagram junta um blogue e uma página no Facebook. Vive da era digital, um “trampolim para quem quer fazer negócio”. Ainda assim, “no fundo, no fundo,” diverte-se, porque a idade é apenas um número, ou está, como dizem, na nossa cabeça. “Afinal, tal como cantou Aretha Franklin, ‘all I’m askin’ is for a little respect’.”