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OS LIXOS DE UNS SÃO AS MALAS DE OUTROS
Carteiras portuguesas feitas com trapilhos, calças de homem, lonas publicitárias, câmaras de pneus, pacotes de café, batatas fritas. Os desperdícios são matéria-prima de artigos exclusivos.
Antónia Gomes tem jeito para a costura e sempre se preocupou com questões ambientais. Por isso, criou a marca Branco Chá com malas feitas a partir de tapeçarias tradicionais, em teares manuais, e com excedentes de fábricas. Os restos dos outros são o seu ponto de partida e, desta forma, surgem malas portuguesas por dentro e por fora na Póvoa de Varzim. “Procuro soluções sustentáveis, ecológicas”, afirma. Faz alças com o interior de calças de homem, da parte da cintura, vindas de uma fábrica que já fechou. Faz alças de couro, de uma pele que descobriu num armazém. “Uma pele muito antiga, se não a usarmos vai apodrecer.” Corta tira a tira à mão e dá trabalho a artesãs locais. “Aproveitamos o que iria para o lixo.”
Inês Manços, da Ericeira, criou a Hi-lo Handmade, marca de artigos como malas e carteiras, feitas de trapilhos de fábricas nortenhas. Malas e clutches robustas e versáteis, adaptadas a qualquer ocasião, tanto dão para ir a um casamento como para levar para a praia. Algumas são personalizadas. “Sempre gostei muito de criar peças e surgiu a ideia do trapilho”, conta Inês, que se move bem na área de gestão de marcas. Além das malas, os desperdícios de várias cores são usados para brincos, colares, fios para óculos, máquinas fotográficas, chupetas.
Em Lisboa, a Garbags também usa o que os outros deitam fora. Lonas publicitárias, câmaras-de-ar de pneus, pacotes de café, leite e batatas fritas, e até embalagens de rações de alimentos para animais domésticos dão vida a malas, carteiras, mochilas, estojos e marcadores de livros. Produtos que saltam à vista pelos padrões que não se repetem e pela resistência. A Garbags é clara: os seus produtos “têm que ser duráveis, elegantes, funcionais e, acima de tudo, divertidos”.