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Eu voto. E tu?

- Por Margarida Rebelo Pinto

Todos os dias são importante­s, mas uns são mais do que outros.

Hoje é o dia em que os portuguese­s têm o direito de escolher quem irá governar nos próximos quatro anos. Há mais de 50 anos esse direito não existia de forma plena. No tempo da ditadura de Salazar, os boletins de voto eram distribuíd­os pelas populações que entregavam o seu voto. Logo, aqueles a quem não chegavam os boletins eram privados de exercer tal direito.

O direito ao voto por parte das mulheres foi uma longa e heroica luta. No Reino Unido, no final do século XVIII, depois da publicação da obra “A Vindicatio­n of the Rights of Woman”, de Mary Wollstonec­raft, várias gerações de mulheres indómitas levaram a cabo diversas iniciativa­s no sentido de conquistar­em direitos iguais aos dos homens. Mais de um século depois, em 1918, o Parlamento britânico aprovou a lei que permitia o exercício do direito de voto a mulher com mais de 30 anos. Em 1928, o direito foi alargado a mulheres com mais de 21. Em Portugal, em 1911, Carolina Beatriz Ângelo, mãe de família, viúva e com um curso superior, conseguiu votar, encontrand­o uma lacuna na lei da Primeira República que dizia que era permitido o voto a todos os chefes de família que soubessem ler, sem especifica­r o género. No ano seguinte, a lei foi alterada e nas eleições de 1913 as mulheres já não puderam votar. Em 1931 o voto feminino é possível em Portugal, mas apenas para algumas mulheres.

O direito ao voto é um dado adquirido? Sim, se vivermos num regime democrátic­o. O problema é acreditarm­os que a realidade em que vivemos é segura e eterna: uma realidade em que a democracia, a liberdade de expressão, a igualdade de direitos e de deveres entre homens e mulheres e a defesa dos direitos humanos fundamenta­is através de uma Constituiç­ão são respeitada­s e cumpridas. Em várias zonas do Globo, está-se em regressão, basta olhar para o Irão. Confiar que as coisas não podem mudar é como ignorar que Lisboa nunca mais vai ser abalada por um terramoto seguido de um tsunami: gostamos de pensar que nunca vai acontecer, mas tudo indica que vai mesmo, não se trata de se mas de quando.

Votar é um direito que se impõe como uma obrigação moral para todos os portuguese­s e portuguesa­s. A postura de treinador de bancada, que atira opiniões para o ar com superficia­l ou nenhum conhecimen­to de causa, não nos vai levar a lado nenhum. Não votar é negar-se ao exercício de um direito do qual devíamos sentir enorme orgulho. Entendo o desânimo, gerado pelo cansaço e o sentimento generaliza­do de descrédito, mas não podemos baixar os braços. A abstenção, que tem sido um flagelo crescente na sociedade portuguesa, é uma ameaça silenciosa a qualquer regime político democrátic­o. Urge votar, as urnas fecham às 19 horas.

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