O Jogo

Finalmente uma ideia clara

- Manuel Queirós

Nunca aconteceu isto: o presidente da UEFA não estar no sorteio do campeonato da Europa! Mas Platini não estará mesmo, pelos vistos. Vi aqui no Hotel Shangri-La o antecessor, Lennart Johansson, mas teve um ataque de coração e ficou, como me disse, sem sensibilid­ade no lado esquerdo, pelo que anda sempre de bengala e acompanhad­o. Também já não está para essas coisas. Vai ser o presidente da federação espanhola, Ángel Villar, também ele muito contestado, a fazer as honras. No momento em que a UEFA é uma organizaçã­o enormement­e rica – aumentam os prémios a pagar às 24 seleções do Euro’2016 para 301 milhões de euros –, os seus dirigentes nunca se mostraram tão frágeis e indecisos sobre o caminho a tomar. As coisas são como são. De resto, aquilo de que é acusado Platini – receber dois milhões de francos suíços dez anos depois do trabalho realizado – nem me parece ilegal. Só me parece que quem é ingénuo assim não pode ser presidente de nada, muito menos de uma organizaçã­o deste tamanho. O ambiente que se vive na UEFA é assim o menos alegre possível. Felizmente, para contraste – e pela primeira vez, pelo menos na minha memória – temos um selecionad­or que quer ser mesmo campeão europeu. Não tem medo de o dizer, o que é o primeiro e decisivo passo para ter alguma hipótese de atingir o objetivo. É uma surpresa para alguns, mas é bom que exista, porque Portugal não é o principal favorito mas, numa prova a eliminar, os bons e fortes psicologic­amente têm sempre hipóteses, porque têm qualidade. Claro que se se lesionarem mais jogadores importante­s – Tiago deve mesmo estar fora –, as hipóteses diminuem francament­e. Ao contrário do que diz o ditado, a ambição não perde nada no futebol. Pelo contrário, a falta dela perde sempre, porque só pode ganhar coisas destas quem se prepara para correr os riscos inerentes. Incluindo o de falhar o objetivo. E por isso é bom que o selecionad­or seja esse porta-estandarte de uma ideia difícil mas boa e positiva. Ontem repetiu-a à chegada ao hotel na capital francesa, para que ninguém se esqueça. Para quem já ficou em segundo (e terceiro e quarto, num Mundial), não se pode ambicionar menos, sobretudo tendo Cristiano Ronaldo. Ou precisamen­te porque o CR precisa de se convencer de que também com a Seleção pode ter um fabuloso destino, o que, de resto, lhe assegurari­a mais uma Bola de Ouro. Os grandes precisam de grandes desafios. E a 10 de julho é capaz de já nem ser Michel Platini a entregar a taça...

Temos um selecionad­or que quer ser campeão. Não tem medo de o dizer, o que é o primeiro e decisivo passo para ter alguma hipótese

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