Os treinadores “magros e gordos”
O que pode mesmo valer Gary Neville como treinador?
Não consegue deixar de ser uma contratação, digamos, extravagante. Fez, como jogador, parte das melhores equipas da história do Manchester United (a geração também era muito boa) e como comentador na televisão gostava muito de o ouvir: explica o jogo muito bem. Como treinador, porém, não posso ter qualquer opinião. De Inglaterra, dizem-me o melhor dele. Para o contratar, os novos donos asiáticos do Valência confiaram em quem os aconselha (e que antes já colocara o irmão Phill Neville na equipa técnica de Nuno). No jogo de estreia no banco, contra o Lyon para a Champions, Gary Neville perdeu (0-2). Perdeu o jogo e também a oportunidade de causar uma primeira impressão que marcasse a clivagem com o ciclo do seu antecessor. A equipa jogou na mesma estrutura e estilo que fazia (perante críticas da afición) com Nuno, mantendo os três médios-centro-defensivos (Enzo-Danilo-Parejo, e até quando Enzo se lesionou, não arriscou um homem mais ofensivo e meteu o trinco Javi Fuego). Sem faixas e médio-ofensivo criativo, dificilmente este Valência de Neville poderá ser tecnicamente muito diferente do de Nuno. Esperar taticamente uma evolução através de um treinador britânico é quase uma “guerra perdida” no futebol moderno. No fim, Neville falou que “o coração estava lá, mas faltou intensidade”. A tentação irresistível de levar sempre o jogo para o plano mais físico quando a sua essência é outra. Antes de tudo isso, porém, não faltou a Neville o clássico gesto do novo técnico que chega para marcar a rutura com o velho que parte: voltar a chamar um jogador antes afastado. E, assim, voltou Negredo ao onze. Entrou na segunda parte, quando já estava 0-1. Lutou como sempre. Nunca estará em causa o seu valor. Está em causa esta forma de afirmação de um novo treinador. Antes de avaliar toda a situação, fazer uso em seu favor de toda a situação.