A DÚVIDA PERSISTE
sempre difícil avaliar o desempenho de um treinador quando não foi ele quem edificou o plantel e/ou começou a época. A primeira motivação para se trocar de técnico com uma temporada em curso é a do choque emocional – ou “chicotada psicológica” –, e desde logo este pode não acontecer, até por inércia ou boicote dos jogadores. No caso da ligação de Paulo Bento ao Cruzeiro de Belo Horizonte, tudo parece ter borregado aí. Ao fim de três ou quatro jogos já era evidente que a aposta seria um fracasso, e, salvo oscilações, tudo o mais se resumiu a um penoso arrastar de pernas até à desvinculação final. Acontece a todos. O problema é que Paulo Bento, para quem ao longo dos anos tenho olhado alternadamente com admiração e pesar, ainda não possui melhor para exibir do que aqueles quatro anos no Sporting, em que a declarada submissão à ditadura dos recursos lhe rendeu outros tantos segundos lugares. É claro que, à luz do que aconteceu desde então e até à chegada de Jesualdo Ferreira, esses quatro anos chegaram a parecer o paraíso. Mas nem o Sporting foi campeão, nem o projeto se mostrou suficientemente sustentado para andar pelo seu próprio pé. O tempos da Seleção, de resto, não trouxeram melhores notícias. Com Paulo Bento, Portugal nunca envergonhou mas também nunca se superou. E a relação do selecionador com os jogadores, apesar dos indiscutíveis gestos de dignidade, jamais pareceu calorosa. O resultado é este: ainda ninguém sabe exatamente quanto vale Paulo Bento, o que, para um treinador de 47 anos e 11 de carreira, não constitui o melhor cartão de visita. O Brasil podia ter sido o momento da redenção. Não foi. E, agora, não parece fácil Bento relançar-se – pelo menos num campeonato relevante, e seguramente não no português.