Só eles sabem se será dura
Omarketing anuncia a Volta que hoje tem a primeira etapa em linha como a “mais dura e longa dos últimos anos”, uma ideia que se repete em quase todas as edições e, portanto, se desmente a si própria. Esta é a terceira edição mais longa desde 2004, ano em que a corrida foi reduzida a 10 etapas, estando longe dos mais de 2000 quilómetros que eram tradição no século passado e não tendo metade dos 3361 quilómetros de 1958. Quanto a dureza recordo, assim de memória, a edição de 1991, com seis dias acima dos 200 quilómetros e uma etapa de 245 na Serra da Estrela. Foi tão mau que gerou a última greve de ciclistas no nosso país, em protesto contra um traçado considerado “desumano”. Eu, na altura já jornalista, e depois de dois dias seguidos sem jantar, pois não havia restaurantes abertos à hora a que terminávamos as crónicas, concordei com os corredores. Mas, mesmo assim, desconfio que em 1951, com sete dias acima dos 200 quilómetros e uma etapa de 291 (Loulé-Setúbal), possa ter sido pior. A verdade é que a dureza de uma corrida, numa era em que terminaram os traçados desumanos, é decidida pelos ciclistas. Eles, atacando ou não, acelerando ou reduzindo o ritmo, é que definem as corridas. Podem ser um aborrecimento, como se viu no último Tour, ou um espectáculo, como alguns prometem para esta Volta. Que lhes oferece um percurso, isso sim, desafiante. Fixem a frase: a Volta mais desafiante dos últimos anos.