A experiência que faz falta
Uma jornalista de O JOGO cumpriu a etapa de ontem dentro de um dos carros de apoio – o da Caja Rural –, fê-lo para saber melhor o que é o ciclismo e nem precisei de lhe perguntar para saber se gostou. Sei, por experiência própria, que ninguém fica indiferente a um espetáculo tão envolvente e completo como o de ver o incrível esforço daqueles atletas, perceber a facilidade com que superam as subidas, o calor e até a dor das quedas, ouvir ao mesmo tempo o público a vibrar e pelo meio ainda viver as questões táticas, pois corredores e diretores desportivos vão conversando pelo rádio e corrigindo a estratégia em andamento. Esta envolvência, que em tempos distantes chegava aos jornalistas, que com os próprios carros se misturavam no pelotão, praticamente se perdeu nas décadas mais recentes, com as questões de segurança a originarem coberturas desde a sala de Imprensa, via imagens televisivas, e entrevistas em zonas mistas. Tornou-se mais fácil ver e trabalhar no ciclismo, passou a ser mais difícil senti-lo. Muitos dos responsáveis da modalidade, que criticam jornalistas pelo afastamento ou falta de conhecimentos, não querem perceber que o problema, sendo real, também passa por aqui. As paixões chegavam mais depressa ao público porque a maior proximidade gerava crónicas sentidas. Porque ninguém esquece dias como aquele, numa Volta à Polónia, em que pousei o bloco para fazer chá em bidões e tentar confortar ciclistas que pedalavam sob chuva torrencial e em temperaturas a rondar o zero, enquanto ao meu lado o atual selecionador, José Poeira, conduzia o carro da equipa e se desfazia em agradecimentos. Quem tinha de agradecer era eu, que em episódios como aquele me apaixonei para a vida.