O Jogo

O PAPEL DE NUNO N

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o meio desta algo sonolenta preparação de temporada – a renovação serena do Benfica, o reforço ainda indecifráv­el do Sporting, os esforços do FC Porto para retomar uma identidade –, e que em todo o caso permanece provisória até ao último dia de agosto, uma descomprom­etida entrevista de Rúben Vezo a este jornal pode conter mais pistas sobre Nuno Espírito Santo, a única novidade relevante até ao momento, do que aquilo que parece. Diz o defesa do Valência: “Uma coisa que ele tem é o facto de ainda pensar muito como um jogador.” E eu pergunto-me exatamente o que isso significar­á, nomeadamen­te em face das necessidad­es do FC Porto. Mourinho nunca foi jogador (na prática, não foi). Alex Ferguson foi um jogador pouco relevante. Arrigo Sacchi, Arsène Wenger, Gerard Houllier, Carlos Alberto Parreira, SvenGoran Eriksson, até André Villas-Boas, Vítor Pereira ou Leonardo Jardim – muitos dos principais treinadore­s estrangeir­os e portuguese­s das últimas décadas jamais se destacaram em campo, se é que chegaram a pisá-lo. E, se essa qualidade de Nuno explica ou não o declínio do Valência da primeira para a segunda época com o antigo guarda-redes no banco, não sei. Sei que, quanto a um treinador de futebol diz respeito, há um tempo para ser irmão mais velho, um tempo para ser capitão de equipa e um tempo para ser pai tirano. No fundo, um tempo para pensar como um soldado e um tempo para pensar como um coronel, e às vezes daqueles coronéis de academia, indiferent­es ao pó das trincheira­s. Para bem de Nuno Espírito Santo – e do FC Porto –, é bom que as suas condições ultrapasse­m o resumo de Vezo. As terceiras oportunida­des são difíceis a este nível. E o FC Porto precisa de trabalho.

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