O Jogo

Para ter mais Graça

- Carlos.florido@ojogo.pt

ASenhora da Graça ganhou fama de ser uma montanha demolidora, mas nunca a analisei assim, aliás como a maioria dos ciclistas. Já Joaquim Gomes, nos seus tempos de corredor, dizia que uma subida de 8,2 quilómetro­s não era suficiente para decidir uma Volta a Portugal. Para contrariar o mito popular, por sinal sobe-se hoje São Macário, que possui exatamente a mesma quilometra­gem, mas com uma inclinação média de 8,4%, um pedaço acima dos 7,7% do Monte Farinha. E o melhor será não falarmos da Torre, que numa só etapa vai ter, este ano, 19,2 quilómetro­s de subida de um lado e 27,4 do outro. Mas o mito existe, logo terá uma origem. Que começa, curiosamen­te, na aparência. Aquele ar de cone gigante, em dias de corrida a lançar para muito longe os reflexos dos vidros dos carros estacionad­os subida acima, conferindo à estrada uma imagem de inclinação brutal, impression­a. Muito ciclista estrangeir­o, quando se aproxima pela primeira vez da Senhora da Graça, treme só de a ver. Depois há o espetáculo. O público que vibra, as pinturas no chão, os cartazes com incentivos, as garrafas de cerveja nas bermas da estrada, as tendas de quem lá passou a noite, o odor de grandes cozinhados, os televisore­s a funcionar num local onde não existe eletricida­de. Ali existe o ambiente das grandes corridas. É esse o carácter especial da Senhora da Graça, aquilo que a transforma numa experiênci­a inesquecív­el. E muita pena tenho que o acesso continue a ser fechado de madrugada, sabendo-se que já há vários anos não falta espaço para estacionar. O público merecia um acesso mais facilitado; e a Senhora a Graça merecia mais público.

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