O DRAGÃO VOLTOU
Maxi Pereira saiu lesionado e está em dúvida para o clássico
Roma espevitou um FC Porto que deixara dúvidas na primeira mão. E o jackpot é completo: há os milhões da Champions e também fôlego para embalar nas outras frentes de batalha...
Roma juntou-se ao mapa das noites mágicas da história europeia do FC Porto, que entra na Champions pela porta grande e à boleia de uma exibição que deixou o adversário estendido no tapete, bem ao jeito dos desfechos épicos das batalhas entre gladiadores de outros tempos.
Foi um dragão direto ao assunto: arrancou a dispensar salamaleques de visitante e disposto a partir a loiça toda, apesar de até ter sido Casillas o primeiro a aquecer as mãos. Mas, afinal, o disparo de Nainggolan desviado pelo espanhol logo a abrir o jogo fora apenas fogo de vista dos romanos, que a partir desse aviso, e ainda com onze, levaram uma lição tática de controlo de bola que há de ficar atravessada por uns tempos na garganta de Luciano Spaletti.
O golo de Felipe ajudou, é verdade. A sangue frio, na sequência de um livre apontado por Otávio, o central brasileiro ganhou asas na área para um cabeceamento letal, dando corpo a uma espécie de redenção poética: o autogolo que deixara o FC Porto em apuros na primeira mão ficava pago logo ali, a começar, libertando no imediato a equipa para um ataque ao sistema nervoso central do adversário. E os minutos seguintes, com as equipas em igualdade numérica, acabaram por ser decisivos. Sem perder a compostura, os portistas resistiram à tentação de se entrincheirarem na defesa da vantagem e galgaram uns metros com a bola controlada; o Roma pôs à prova os reflexos de Casillas em duas ocasiões, mas estava claramente desorientado com o atrevimento do FC Porto e esse desnorte, cada vez mais evidente, traduzirse-ia no cartão vermelho a um De Rossi de cabeça perdida. Percebeu-se que metade da missão estava quase cumprida, e já sem o lesionado Maxi em campo, substituído por Layún, Herrera teve nos pés a hipótese de resolver o assunto antes do intervalo. O tiro saiu-lhe ao lado, mas o descanso foi mesmo um descanso para Nuno: estava tudo a correr bem.
Ficou melhor ainda não muito depois do arranque da segunda parte, numa altura crucial para a reação do Roma. Emerson, que entrara para compensar o sangue quente de De Rossi, não resistiu à perna de Corona e deixou Spaletti de mãos na cabeça. Com apenas nove num campo que se agigantava, o italiano procurou remediar com o recurso à velocidade de Iturbe, mas, a precisar de marcar, a opção de sacrificar Dzeko pareceu discutível. Algo precipitada, até.
Ironicamente, foi a jogar contra nove que o FC Porto passou alguns minutos deso- rientado, a hesitar entre o avanço para a estocada final ou o deixar-se ficar a ver o adversário esbarrar no muro. Nuno, que já tentara sacudir pelo meio ao trocar o amarelado Otávio por Sérgio Oliveira (e abra-se aqui um parêntesis para sublinhar que Sérgio está a precisar de um bom puxão de orelhas que o faça crescer na inteligência tática, porque viu um amarelo evitável segundos depois de ter entrado em campo...), terá farejado o perigo da postura e refrescou o ataque com a troca de André Silva por Adrián López.
Inclinado para a frente, a manta do Roma destapou uns buracos atrás, explorados com “olés” mexicanos. Primeiro Layún, a concluir um lance fabricado por Herrera; depois Corona, a dançar em frente a Manolas e a rematar sem hipóteses. Em dois minutos, o FC Porto arrumava tudo com classe, servindo a cabeça do adversário numa bandeja. O público do Olímpico rendia-se à evidência: este dragão cuspia fogo e, qual Nero, deixou Roma em cinzas.