“JUNTEI CORAÇÃO E RAZÃO”
Gustavo Veloso resistiu à proposta do Sporting e renovou pela W52-FC Porto, que lhe facilitou a escolha com uma boa oferta. “Sinto esta equipa como minha”, disse a O JOGO
Vai tentar ganhar uma terceira Volta a Portugal com as mesmas cores e diz que isso o faz “feliz”. Gustavo Veloso viveu um defeso agitado e revelou a O JOGO porque até prefere Portugal... a Espanha
Gustavo Veloso tem 36 anos e renovou ontem pela W52-FC Porto. Irá para a quinta época seguida na mesma estrutura, sempre com triunfos na Volta a Portugal. “Digo que ganhei as quatro últimas; duas eu, duas atrás de colegas”, atira, depois de ter encerrado um dos períodos mais agitados do defeso, pois tinha uma oferta do Sporting. Este foi o ano em que teve mais propostas? — Tive sempre algumas propostas, mas quase sempre fiquei onde estava. Mudei para esta equipa por a anterior ter acabado e só quando tinha 23 anos, e deixei o Boavista, voltei a Espanha por ser uma oportunidade de futuro. Este ano, é verdade que tive propostas de várias equipas, e mais sérias. Mas falei com a W52-FC Porto, percebi o valor que tinha no mercado e senti-me valorizado. Por isso renovei. Não sente esta equipa um pouco como sua? — Sinto, porque se com o FC Porto este foi o primeiro ano, a equipa já existe há quatro e superou muitos problemas. Cheguei a passar quase um ano sem salários, e tivemos de optar entre insistir e procurar um patrocinador novo ou desistir e ir para casa. Encontramos esse patrocinador, a W52, e ainda hoje está connosco. Apostei muito nisto, também fora da estrada. Temos agora uma engrenagem muito boa, somos unidos. Sim, sinto esta equipa como minha. Com o FC Porto, o que mudou? — Há melhores condições. É tudo maior, com mais adeptos. Para mim, é uma experiência nova e bonita. Estive em gran- des equipas, nas maiores provas, vi adeptos fantásticos, mas isto é diferente. Temos adeptos que gostam do clube, não apenas do ciclismo. Além do convite do Sporting, não ficou tentado a regressar a Espanha? — Tinha um convite para voltar a Espanha. Mas o meu pensamento é este: tendo uma equipa espanhola a oferecerme o mesmo, prefiro Portugal. Só pensaria sendo um acordo de mais anos, que permitisse verondepossochegarnaVuelta. Fiz cinco, mas sem discutir a geral nem tendo a maturidade de agora. Mas não arrisco um ano por isso. Aqui estou feliz. Já li que este contrato envolveu valores acima do normal para Portugal. É verdade? — Basta dizer que há sete ou oito anos o ciclista que ganhava a Volta a Portugal recebia mais do dobro. Os valores atuais são muito baixos para quem discute uma Volta. Porque demorou a decidirse pela renovação? — Há uma parte emocional, pois são quatro anos na equipa, há adeptos que gostam de nós. Essa é a parte do coração, se só pensasse por ele seria uma decisãodesequilibrada:omeucoração está aqui. Depois, há o lado da razão: tenho alguma idade, dois filhos, preciso pensar no futuro. Por isso esperei um pouco, permitindo-me saber se a equipa me queria e valorizava. “Cheguei a passar quase um ano sem salários. Apostei muito nesta equipa, também fora da estrada. Por isso, sinto-a como minha” “Há sete ou oito anos, quem ganhava a Volta a Portugal recebia mais do dobro. Os valores atuais são muito baixos” Gustavo Veloso
W52-FC Porto
Percebi que queriam mesmo. Fiquei orgulhoso. Esqueceu depressa o facto de não ter ganho a Volta? — Digeri-o logo nesse dia. Quando cheguei à festa de Sobrado,jáestavaesquecido.Não fiquei triste por o Vinhas ter ganho, foi por eu não ser capaz de a ganhar. Em Lisboa emocionei-me porque o Vinhas me pediu desculpa. Foi isso que me tirou a voz, o que foi mal interpretado por alguns.