Adrien e Jota: a força de vontade tem ida e volta
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Vamos todos falar muito dos quinze minutos surreais de Guimarães, mas o jogo com o Vitória (3-3) não se limitou a acabar difícil para o Sporting; também começou difícil. Simplificou-se ao fim de uns dez minutos por ação de Adrien, espécimen único da extinta raça dos engenheiros sapadores com o extra de ter uma mentalidade de aço. Estando Jesus envolvido no tema, é sempre desaconselhável falar de jogadores imprescindíveis, mas ontem percebeu-se como o Sporting se esvaziou de cérebro e pulmão quando Adrien se lesionou. Funcionou em modo automático durante algum tempo, mas sucumbiu à primeira contrariedade porque a força de vontade, sem ele, não é a mesma. Igualmente desaconselhável será aplaudir o arranque de cada nova dupla de avançados que Nuno Espírito Santo experimenta no FC Porto. Desta vez, juntaram-se André Silva e Diogo Jota para o mais sólido resultado da época, uma expressão parecida com outras que ouvimos, por exemplo, quando Nuno ensaiou André Silva e Depoitre e semelhante, em grau menor, aos bons sinais da estreia da dupla André Silva/Adrian López. Nestes dois casos, as cenas dos próximos capítulos não foram as esperadas. Ao belga faltava, afinal, a qualidade para acamaradar convenientemente com os outros atacantes do FC Porto; ao espanhol, depois de um esforço honesto, voltou a faltar apetite. A favor de Jota, entra o fator Adrien: muito futebol e a impressão de uma infinita força de vontade, que tem sido, afinal, o grande défice portista para os adversários. Agora é arranjar forma de incubar o vírus.
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Do balanço da semana, salta à vista uma palavra de tudo o que se disse e escreveu: crise. Em concreto, crise europeia, porque já passaram duas jornadas da UEFA e as quatro equipas portuguesas só têm uma vitória para repartir (a do Sporting, em casa, com o Légia). Como sempre, há outra forma de ver uma derrota do campeão português em casa do vicecampeão italiano ou do terceiro classificado em casa do campeão inglês, ou do quarto em casa do Shakhtar Donetsk: no papel, são resultados naturais. A conquista das últimas décadas é que o resultado oposto teria sido, mais ou menos, natural também. Achamo-nos titãs, talvez por ouvirmos tantas vezes os autoelogios dos “grandes”, e a realidade vai-nos iludindo com um chocolate época sim, época não. Mas FC Porto, Benfica e Braga perderam contra orçamentos maiores e estatutos internacionais superiores, apesar das especificidades de cada caso. A derrota natural do FC Porto artificializou-se com o sub-rendimento portista; foi uma derrota por abdicação, não por inferioridade notória; e a do Benfica, sendo também natural na forma, espantou pelo conteúdo. Desde que aprendeu a defender na eliminatória da Champions com o Zenit, na época passada, era na tração traseira que a equipa de Rui Vitória se aguentava, para depois ignorar o meio campo (apenas básico) e viver exclusivamente dos seus superavançados. Não foram só os quatro golos sofridos; foi toda uma torrente de erros e desordem.