O Jogo

CLÁUDIA NETO

“Só me faltam a família e o sol”

- CARLOS PEREIRA SANTOS

Cláudia Neto, 28 anos, algarvia, profission­al de futebol, jogadora do Linkoping, que está em vias de se sagrar campeão da liga sueca, uma das mais poderosas do mundo. Chamam-lhe CN7

Nos últimos dias, fruto da excelente campanha da seleção feminina que vai jogar o play-off de apuramento para o Europeu de 2018, na Holanda – um feito invulgar pelas nossas bandas –, Cláudia Neto tem sido um nome em destaque. Foi ela a autora dos três golos da reviravolt­a com a Finlândia e também do golo que carimbou o feito, com a vitória na Irlanda (1-0). Vale a pena conhecer melhor esta verdadeira craque que joga num dos granes clubes europeus de futebol feminino. A gargalhada fácil encanta. Tem várias histórias para contar e muitas saudades do sol do Algarve... Ao olhar o seu currículo, verifica-se que nunca jogou futebol de onze num clube português... Onde é que andou? — Sempre joguei futsal feminino, no meu clube, o União Atlético Clube de Lagos. Fiz todos os escalões, até aos seniores. Um dia, chamaramme à seleção de futebol de 11, nos sub-19. Fui, comecei a gostar do futebol de 11, entusiasme­i-me e decidi que era esta modalidade que queria. Num instante foi para Espanha. Aliás, o primeiro clube em que jogou futebol de 11 foi o Prainsa Saragoça. —Esperei por uma boa proposta e ela surgiu. O campeonato português tinha pouca expressão. A proposta surgiu. Atirei-me de cabeça. Acho que ganhei... Foi difícil a integração no futebol feminino espanhol? — Não foi fácil, mas teria sido mais difícil se não estivessem lá duas colegas portuguesa­s. Fui bem recebida, mas as espanholas são lixadas... Venci as rivalidade­s e adaptei-me, quer dizer, impus-me com o meu trabalho e o meu futebol. Complicado­foimesmoas­saudades. Acho que chorei todos os dias nos primeiros tempos e todos os dias ligava à minha mãe. Custou, sim! Tinha 18 anos, faltava a mãe para fazer aquelas coisas, a comida, as lidas da casa, esses carinhos. Com o tempo, fui convivendo com isso, mas continuo a falar com grande frequência com a família. Agora, estou ainda mais longe do meu sol do Algarve. Isso também é um tormento. A sua qualidade levou-a depois ao Espanhol de Barcelona e, há três anos, ao Linkoping, que é uma das grandes equipas europeias. Foi subir mais um degrau na carreira? —Sim, porque a liga sueca é uma das mais fortes da Europa e, desde o dia em que me tornei profission­al, achei que ia chegar cá. E foi mais complicado integrar-se na Suécia do que em Espanha? —A experiênci­a que, entretanto, adquiri tornou tudo mais fácil. O maior obstáculo foi mesmo a língua, mas as minhas colegas têm todas um bom nível de inglês e isso facilitou imenso. Elas ajudam-me, estão sempre preocupada­s se eu percebi tudo direitinho... E adaptou-se bem à vida de um país nórdico, onde as noites de inverno são longas e as de verão são muito curtas? —Foi muito difícil, é muito difícil... mas a vida de uma profission­al de futebol é assim mesmo. Adapto-me. Vivo numa zonaondees­tãomuitosa­tletas do clube, principalm­ente da equipa de hóquei no gelo, que é também uma força do Linkoping. Vivo sozinha, mas nunca estou só. Emigrar foi uma opção.Encareiopr­ofissional­ismo no futebol com entusiasmo. Jogar futebol é uma paixão, que todos os dias enriqueço. O que é que levava para a Suécia, se pudesse?... —A família e o sol do Algarve e, claro, alguma da gastronomi­a.

“No Linkoping tenho menos chances de golo”

Os dedos de uma mão chegam para contar os golos que Cláudia marcou ao serviço do Linkoping, nestas três temporadas, três. Mas na Seleção Nacional, só nos dois últimos jogos, marcou quatro. Provocação de O JOGO: não a deixam marcar golos na Suécia? Cláudia ri-se, mas deixa a explicação: “Acontece que aqui jogo numa posição mais recuada, sou uma espécie de oito, médio e de construção. Na Seleção jogo mais perto da baliza e tenho mais hipóteses de fazer golo. Esses quatro foram uma delícia”, sorri Cláudia, que gosta mais de jogar em 4x4x2 do que em 4x3x3.

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