JOAQUIM TEIXEIRA
“Gelson e Papel são craques"
Depois de oito anos a trabalhar em Angola, cinco dos quais na coordenação da formação do 1.º de Agosto, Joaquim Teixeira está de volta a Portugal. O JOGO apanhou-lhe algumas memórias
Sem perder o futebol português de vista, e depois de um trabalho enriquecedor em Angola, Joaquim Teixeira, que como adjunto foi bicampeão nacional pelo FC Porto, está de volta a Portugal. Talvez para ficar.Marzena,aesposa,eInês, uma filha de 10 anos, mudaram-lhe a vida, diz, satisfeito.
Saiu de Portugal depois de ter vencido vários projetos como treinador. O que o levou a sair?
—A minha vida mudou muito a partir do momento em que fui pai de novo, há dez anos. Estive oito anos em Angola, sempre com a minha filha e a minha esposa. Fui muito bem acolhido, muito respeitado, a desenvolver o meu trabalho no futebol, enquanto a minha esposa se dedicou à área da moda, aproveitando a experiência que teve como modelo.
Perdeu a ligação a Portugal?
—Não, nunca, nem perdi o contacto com as pessoas. Agora chegou a altura de repensar e de partir para uma outra realidade. Sinto-me hoje mais experiente, tanto a nível do treino como em qualquer outra atividade ligada ao futebol. Joguei até aos 36 anos, iniciei a minha carreira de treinador em 1981. A minha experiência é de muitos anos. O futebol é um bicho de que preciso quase
como do ar que respiro.
Vai voltar a treinar? Já teve convites?
—Não sei se vou continuar como treinador, até porque já experimentei outras áreas onde me dei muito bem. No 1.º de Agosto, estive cinco anos. Conheci uma realidade completamente diferente daquela a que estava habituado. Conhecipessoasboasnocarácter, na justiça com que lideram os seus projetos. Nunca poderei esquecer duas pessoas: o general França Ndalu e o general Carlos Hendrick, presidente do clube. Foram eles que me ajudaram e à minha família. Tenho de lhes estar grato, porque foram sensacionais. O 1.º de Agosto teve um comportamento fantástico comigo e, no futebol, nem sempre isso é possível. Acho que deixei uma porta aberta e por isso é que não sei se este regresso a Portugal é definitivo.
Insisto, teve convites?
—Sim, ao longo destes anos tive vários, porque sei que a minha história como treinador em Portugal não está esquecida.
Há potencialidade no futebol angolano, há nomes que encaixavam no futebol português?
—Fiquei a conhecer o futebol angolano muito bem, naturalmente. Se houvesse um dia a possibilidade de aliar a capacidade corporal, a habilidade, a rapidez ao conhecimento e à disciplina tática, o futebolista de Angola seria imbatível. É a técnica de bairro. Falta, de facto, disciplina tática. Vi jogadores em Angola como nunca vi emPortugal.Comumtrabalho
“Cinco minutos na boca de Pinto da Costa”
Joaquim Teixeira terá sempre o FC Porto no coração e há um nome que nunca o deixa indiferente... “Tenho por Pinto da Costa uma admiração e um respeito enormes. Por ele próprio, merecia muito mais do que aquilo que tem tido nos últimos anos.” Erecorda: Erasempre o primeiro a cheganos, fosse para jogos. Nunca disse isto, est mas em dois anos que tive no clube, o presidente deu duas palestras: não levou mais de cinco minutos... E cinco minutos na boca daquele hom mem são 500 minutos na de qualquer outro.” aprofundado, com o “knowhow” que nós temos, faria muito bem a alguns jogadores angolanos virem para a Europa tentar provar que podem ir muito mais além, vencendo também as questões climatéricas, que acabam por influenciar os jogadores. É um prazer enorme ver os jogadores angolanos a jogar futebol.
Tem exemplos que nos apresente?
—Ainda agora vieram dois futebolistas para o Sporting, que são craques, da seleção e do 1.º de Agosto. O Gelson, que foi o melhor marcador da competição – não é forte fisicamente, mas é um excelente finalizador –,e o Ary Papel, que é um malabarista, rápido, virtuoso. O Ary Papel foi agora cedido, o Gelson neste momento deve ser um dos três melhores avançados do Sporting. Já os conhecia muito bem, falei com o Jorge Jesus em relação aos dois. Disse-lhe até que o Ary Papel é um futuro Quaresma e comparei o Gelson com o Liedson, embora tecnicamente seja superior. Não gosto muito de fazer comparações, mas será uma forma de os apresentar.
Ainda quase nem se ouviu falar deles...
—É preciso perceber que é daqueles casos em que tem de se tolerar a tal adaptação de que tanto falamos, por exemplo, em relação aos jogadores brasileiros. Repare: vieram de um clima de 35 graus para temperaturas muito baixas, como as que estamos a viver. Vão aprender o rigor do treino. Se eles conseguirem superar a saudade do seu povo e da sua cultura, vão ser exemplos para muitos outros.